Ta gravando? Vai, grava tudo, um dia alguém transcreve isso daqui. Não sei, não sei se apertei o botão certo. Deixa eu vê... Ta certo, já ta gravando. Cadê? Cadê o livro? Aqui, toma... Lê em voz alta, depois começa.
"Porque, na ressurreição, nem casam, nem se dão em casamento; são, porém, como os anjos no céu." Mateus 22.30.
A data não importa, esta me ouvindo bem? Se você é o primeiro a pegar essa fita, é seu dever e único dever transcrever nossas palavras, não mude por favor, eles precisam saber. Começa logo!
Eu viajei muito até chegar aqui? Certo? Um tempo escuro e seco, como se nada tivesse uma razão. Viver é um sufoco, o oco da consequência. Somos a exatidão da perdição. Tudo já se foi, as guerras, os sonhos, os planos e o desejo de ter algo no futuro. Dizem que somos a última geração, a linha fina dos tempos de paz, a graça que nos resta, ou talvez, gota de misericórdia. Não é um tempo cristão, está mais pra um tempo ditoso, ditador, farto, ocioso e mesco. Não há explicação, nem se quer desejo de voltar atrás. Temos medo e nojo, medo porque desconhecemos o amanhã mais que qualquer outro tempo, e nojo porque reconhecemos a culpa de todo o estrago. Se torna mais fácil entender sobre o pecado, ou sobra incrível capacidade que os humanos tem de caprichar em suas desgraças. Fica fácil perceber onde erramos quando tem-se disso uma visão de onde nós fomos parar. É um século avançado, é um tempo estressado; a geração pálida, onde não há brancos que não se escurecessem, onde não á negros que não se fortalecessem.
Nem pensar que é como as outras sugestões. É preciso que encare essa realidade, ou que no mínimo, aceite que a culpa é sua de virmos parar aqui. Hoje, a filosofia foi extinta, a teologia foi silenciada, não, não é a respeito das profecias, pois elas ja ocorreram, ou melhor, já ocorrem. Uns dizem que a graça foi quebrada, outros, bem poucos, ainda falam sobre ela. Nossos pais, os pais de nossos pais, os seus pais e todo o resto nada diz, uma geração que se resume ao ateísmo, os que causam vergonhas pra Deus, os que mesmo sem aceita-lo, recebem os restos de misericórdia e compaixão. Nunca, nunca mesmo vamos entender como pode um Ser tão pleno amar um tipo de barro que não sabe ser nada além do desejo de posse e ter o que não importa. Somos o resto do resto da sobra que ficou. Não somos os esquecidos, somos os que ainda são lembrados, que Deus esteja conosco e com os próximos que virão. Não, não é impossível engravidar. Só é como dizer, te odeio filho, se quiser assim fazer. Ai daquelas que amamentarem.
Agora deixa-me falar. Sim, é verdade, é tudo verdade. Mas tem algo que precisa entender, não foi fácil e nunca achei que seria. Amar é uma estrada. Eu sou quem fala de amor, já a outra voz alí, não sei se da pra perceber, tem mais centralização. É óbvio que quem ouve sente a diferença de nossos timbres, mas eu queria te dizer que, se esta tendo a infelicidade de somente ler, é preciso diferenciar quem somos, pois, pra onde iremos não haverá diferenciação, ou você aprende a sentir as peculiaridades do ser, ou vai ser condenado a julgar os outros pelas suas características. Eu precisei desapegar de tudo, tudo mesmo. Só que o legal, é que o amor é mais que tudo, logo é impossível deixa-lo e querer um lar melhor depois daqui. No fim, bem no fim, a morte é o desejo dos solitários, e a eternidade o anseio dos que amaram sem notar a quem. Se o amor fosse escolha certamente viria com gabarito. Vem, vem ouvir o que aconteceu. Mas antes, lembre sempre de que a vida só acontece após a morte. E o amor te tira dela.
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Anjos Doentes
PoetryNo tempo em que uma sociedade ateu condiciona todos a não acreditarem em nada, os personagens qual inicialmente não revelam o seu sexo, buscam incansavelmente por uma direção. Crescidos e condicionados a não crer em absolutamente nada, cansam dessa...