A tenuidade do amor só o olho enxerga. Tal finesa é d'alma.
Como pude, eis a questão a qual rebato,
Seus olhares colidiram com os meus,
E pus-me ao chão todo o meu ato,
Se encaixando a simetria aos traços teus.
Vezes uma ou outra a gente se desdobra,
Nossa comunicação silenta,
Vozes tuas são as vezes o que sobra,
Nessa forma de amor que tal se inventa.
Por incrível exatidão, és minha doce,
Sensação de simpatia e tenuidade,
Como aporte que apetece o agridoce,
Frente a cristalina causa ambiguidade.
Que mais me resta por terra se não isso,
O gaguejar de tuas silabas à mim, à fronte,
O confundir de toda a frase a qual premiscuo,
E o distinguir do que eu quis deixar-te em monte.
Terra doce terra a qual me escuta,
Dores pensamentos que me muta,
Como pude o gosto e o exagero,
E meus olhos escaparem por inteiro.
Céu mel céu a qual me entrego,
Claras evidências de teu emprego,
Tudo que eu sinto agora é dor,
Essa em que apelidam de amor.
As orgias se transformam em alegorias,
Ao coração de quem deixou o prazeroso,
A alegria de uma carne vira acúmulo,
E a tristeza do aporte é ida ao túmulo.
Se não fosse então o grande conhecimento,
Estariam todos perto do discernimento.
Estamos aproximadamente a 80 quilômetros de onde moramos, sim, agora quem vos fala diz em grupo, viajei, e quem tal pertence o meu peito veio junto. Como pode, a culpa nunca foi a minha em ter eu dito. Pra que entenda, quis brincar com as palavras. E as pessoas hoje estão meio vazias. É difícil encontrar quem te entenda, e aceite cada emenda frouxa tua. Você pode ver milhares ao sair na rua, mas certamente ninguém em si to deu ligança. Precisávamos de um nome e era mais que perto a hora. Eu olhei seus olhos, e ja estava me encarando, eu tremi, tremi exageradamente. Eu defendia que os nomes deveriam expressar o nosso gênero, mas como eu disse, eu defendia, pois a ideia não foi muito bem aceita; é que assim, faz todo o sentido defender isso já que o meu nome escolhido remetia muito a isso. Confesso o desespero, gritei de nervosismo e meu amor gritou a resposta. Tá que parecia que nem eu sabia um nome, e a verdade é que eu não sabia, olha o meu desespero, o meu pesar e o luto de toda e cena romancista. Que pena! Eu pensei, mas pensei bem profundamente que acabei por suspirar. VocÊ não tem um nome certo? Eu apenas respondi: deixe eu te olhar. O tempo caminhava tão deverasmente calmo que o sol nem parecia se mexer. Os nomes tinham que ser estranhos ta? Pensa meu amor, pensa, eu gritava dentro de mim, no que eu irei pensar? Mas acontece que sutilmente vio algo em minha mente, eu via sutileza nos teus olhos, qual brilhavam, qual exaltavam tudo a qual eu acreditava. Sutiel. Eu parecia ter cuspido o que a décadas tentava expressar. E repeti, Sutiel. Esse nome acabou ficando, e até houve discussão sobre o gênero dele também, mas isso fica pra outra oportunidade. Sutiel? Eu disse sim, a sutiliza é toda a tua arma. Vi um sorriso, um silêncio... Gostei. Eu soltei toda a respiração contida do silêncio, e abracei, abracei e que pedra foi tirada de mis costas.
Parece fácil ter que preparar um nome, mas é mais difícil ainda se preparar pra ouvir um nome. Sabe o nervosismo que continha em mim quando nem sequer sabia eu o que falar? Ele se triplicou. O tempo ta acabando, eu notara que o sol não parecia se mexer, mas agora ele parece que voou. Eu olhei no fundo de seus olhos e o nervosismo triplicado foi então multiplicado por ele mesmo. Voei, voei e fui até as nuvens que faziam sombra em nós. De lá eu esperava o meu nome, o meu lindo e decrescente nome. Fiquei olhando pra baixo alguns segundos, quando retornei pra sua face deparei-me com uns risos. Você não sabe como me chamar t... Eu ia falar também, mas se dissesse isso deixaria claro que eu pensei no seu aquele instante. Você não sabe não é? Rimos juntos. Tá, eu sei que você ja sabe um, só me diz, só me conta. Houve mais silêncio. Estávamos totalmente com tensão, eu, meu amor, as nuvens, o sol que agora corria e toda a atmosfera ao redor. Eu fiquei encarando seu belo rosto outros minutos, quando seus lábios se moveram pra falar. Sutiel, Sutiel, esse é meu lindo nome... Fala, eu não me aguento mais! Faaaaaaa(...)la. Eu estava decaindo, virando parte do concreto, estava dissolvendo entre a terra que o concreto cobria, estava transformando-me em átomos que iriam compor o lençol freático. Sim, eu não estava mais ali. Minha mente fora pra um inconsciente de pensamentos que nem eu conseguia decifrar. Belizz, com dois z, enfatizou Sutiel. Eu gritei, Bé o que? Bê lí zzz. Tipo uma baliza? Não meu amor, tipo uma beleza. Eu sorri. tá, tá, tá, mas não deixa de ser uma baliza. Sutiel fez cara morta. Calma, eu amei, eu amei. Enfim, brindamos, e sol estava agora já se pondo.
Olhei pra toda aquela quantidade de luz laranja que beijava o mar turquesa e entendi que era esse o dia pra ter nosso pôr do sol, era uma sexta, e eu estava imensamente contente, uma alegria me contagiava sem que eu pudesse entender. Foquei nos seus cabelos , Sutiel é menor que eu centímetros, dava pra apreciar toda sua sutileza só daqui. Eu ja havia me esquecido que o leitor não sabe nosso sexo, quase que eu dizia coisas tipo ele ou tipo ela, ou coisas dela e atributos dele. Não é uma implicância com você leitor amigo, é que realmente precisamos que nos ame pra depois que nos aceite. Não há aceitação sem que se ame quem for aceitar. Na verdade, nunca há um aceitar sem que se ame. A não aceitação é a pura falta de amor.
Já escurecia, e tínhamos de voltar. Eu estava ferrad..., iria demorar pra chegar em casa, certamente poderia ser que não mais achasse ninguém acordado. Sutiel também, seus pais ja deveriam estar em casa, e eu não sei se eles são rígidos como o meu. Tomara que não sejam ateus. Sim, nem falei disso... É que minha cidade, todos, absolutamente todos são ateus, são tão ateus que o termo ateu ja se extinguiu do vocábulo da maioria, eles dizem que não faz sentido denominarem-se de e quem não acredita em Deus já que pra eles não existe um Deus. Vai entender. Bom, eu não me considero nada, não sei de nada, não tenho conhecimento pra dizer que sou ateu, como posso, isso é estúpido. É estúpido eu me posicionar em relação a alguma coisa que nunca vi, se eu nunca vi não significa que não existe, só significa que eu nunca vi. Mas vai dizer isso pras pessoas... Elas automaticamente te chamarão de cristão, franzirão a cara, entortarão a boca e te ofenderão com algum argumento do tipo: fraco de razão ou irracional demais. Sim, você não iria querer viver aqui, não é atoa que vos conto isso em palavras.
Vamos. Eu levantei, tirei as gramas de minha roupa, tirei a sujeira das costas de Sutiel, e rimos da quantidade de areia que grudara em nossas vestes. Pior seria se estivéssemos nos amassado alí, teria terra até em meus ouvidos. Contei essa piada, rimos mais ainda, rimos tanto que com a falta de atenção que tenho... Segundo Sutiel tá? Eu teria areia até na boca. Fiquei em indiguinação! Como pode! Seria eu capaz de confundir sua boca com o chão? Me poupe! Bom, a verdade é que olhei agora a posição da lua, tínhamos que correr, iriamos pegar a última saída do metrô, eu nem tenho pernas por causa disso, corri tanto, mas tanto, que arrastava Sutiel pelos braços, e ouvia os gritos: Calma desgraça, eu to ficando sem meus pés. E eu puxava cada vez mais, tropeçávamos e começávamos a gargalhar. Depois parávamos, colocávamos as mãos sobre os joelhos, respira, respira, respira. Depois eu voltava a correr, e quem estava lá atrás? Sutiel claro! Eu tinha que arrancar essa criatura pelos braços mesmo, se não só eu chegava no metrô, e só eu voltava para casa. Resultado? O metrô tinha mais três saídas depois que chegamos, essa que compramos os tickets e mais duas. Que tristeza! Corremos por nada! Preciso de um relógio.
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Anjos Doentes
PoetryNo tempo em que uma sociedade ateu condiciona todos a não acreditarem em nada, os personagens qual inicialmente não revelam o seu sexo, buscam incansavelmente por uma direção. Crescidos e condicionados a não crer em absolutamente nada, cansam dessa...