Só o saber que ainda há suspiros basta, pra quem ama.
Repetições e mais repetições sobre o nada.
Entre os meios e os gritos de quem nada,
E parece ser um mar infinito que não acaba.
Eu quis gritar, e a aflição seguindo-me, agride.
Que faço das rotinas sem o passar de quem exige?
Eu sou a pura fera sem sua mão que a acalma.
O denso poço sujo sem quem ninguém cuide,
E nunca foi o desespero a solidão,É a dependência de sentir o coração.
Que vicia, intrinsecamente a mansidão,
Não há, não há mais fala em meu eterno oco vazo,
Os violinos e seus sinos não me gozam, e acabo.
De partir-me por partir-te sem sequer explicações.
O mundo é uma desgraça das piores,
É a fronte do desastre dos amores,
É o caco afiado que te corta,
E a decepção, a justa porta.
Vida inserena e gástrica, sem rumo e santa calda.
Sem um amor, ou sabor de sensações que se repelem.
Sente a dor de um peito machucado,
Que perdido viu-se a perca do bocado.
A muda sensação de não conseguir se expressar.
A louca colisão do achar e pensar. Eu sou!
Sou a pura escuridão que se disfarça de abaju.
E hoje, estou em mãos o meu peito cru.
Eu pretenderia viver assim por tempos pra provar a minha inconsciência de que, pra amar só basta permitir ser, e aceitar o que o outro é. Que ridículo essa minha dependência. Eu não sabia sabia aprofundar o meu imenso desejo a esse ponto tão fugaz. O amor é um estado de espírito passageiro, atingido apenas num momento lisonjeiro, e todo o tempo fora dele é o que se tem por dependência, por desejo daqueles breves momentos verdadeiros. É fugaz, fugaz pois de todos os momentos que eu tive, as sensações mais instantâneas foram as contidas no olhar, no som da voz, nas leves gesticulações. Eu quis voar várias vezes, e isso é elementar sabia? É claro e certamente se sabes o que é um pouco do amor, entende que todo esse aporte que sentimos é a suma sobra do que o sentimento é, e exige. Estou nesse momento olhando às janelas de Sutiel, de longe, talvez as vezes vejo a sua sombra entre as cortinas e o meu peito gela feito a Alasca norte-americana. Eu tenho de dizer que iria mais vezes e mais dias só sentir que esta bem, ou no mínimo, suspirando enquanto eu vivo sem sua presença. Dei-me conta que ja era tarde, e isso sempre acontecia, me levantava, limpava a roupa suja de pedaços de grama, olhava sem pressa pra sua janela, na esperança de que aparecesse, tudo parecia normal como o resto do tempo que ali estava, me virava e seguia pra casa, e até que eu não pudesse mais ver suas janelas, eu olhava para trás. Que loucura deu na mente de seus pais? Sério, não da pra entender, nem namoramos, nem somos nada, é sério, é uma verdade isso, mesmo que dentro de mim fôssemos tudo, nunca falamos nessa possibilidade. Cheguei em casa chorando, e quando achei que não tinha nada pra fazer, fui ler umas revistas antigas que minha família colecionava no sótão. Bom, é melhor que se amargurar lembrando de um amor que foi rasgado de suas membranas sem motivo algum, ou um sentido plausível. Ao menos me distraio, a vontade é dormir e esperar esperançosamente que meus sonhos me agradem com imagens de Sutiel em minha companhia. Chega vai, eu já estou me tornando amalucad...! Quase me esqueci sobre o suspense de meu sexo. Sim, estou enlouquecendo porque não paro de pensar no amor ingênuo que supri-me, e alimentei, e de tanto alimentar, cresceu e voltou-se contra mim. Vou morrer por dentro, mas nunca que me vale a sombra fenda. O amor nos deixa poético, e se der tudo errado, céticos. É o perigo da alma o amor, e também, a sorte da âncora pra um navio. Nem sei mais se eu respiro pra mim, ou pra encontrar Sutiel sorrindo em minha frente. Vou lá de novo. Sim, eu quero ir lá, Mas dessa vez eu serei a discrição apta ao ato. Chega me veio um sorriso de esperança. É isso, vou lá. Só que algo me segurava e dizia pra ir com calma e pensar muito no dia propício, e assim eu fiz. Só que minhas noites eram mais inquietas, eu só conseguia pensar em como ir a seu encontro. Ou melhor, tentar, talvez seus pais me jorrem casa a fora, e tudo que vai me restar é pular na lama e nunca mais voltar. Bati na minha cara por pensar isso, oras, como posso pensar em me jogar na lama, estou de fato enlouquecendo, só pode. Eu estava cansado de tanto pensar em possibilidades de me infiltrar, e dormi.
Eu acordei como quem faltava algo, repleto de sentimentos ruins e sensações que não me eram minhas. Tive de tomar banho logo quando levantei, fiz minhas meditações, caminhei, visitei alguns amigos que não falava a dias. Um deles me disse que parecia que estava desfalecendo. E no sentido literal, era o que eu estava fazendo, o amor acaba conosco, e mesmo que tudo não seja rosas, ele nos adoece como quem te traja a flor do vale seco. Recebi algumas piadinhas sobre minha aproximação com Sutiel, claro que não chamavam assim, citavam Sutiel como aquela pessoa que eu me aproximei demais. Nem sequer sabiam o nome real sabe, mas sabiam quem era, ao menos por visão. Eu estava com uma exaustão, não sabia mais o que fazer, sem ânimo eu fingi esta contente e até que fiquei muito tempo.
Algo interessante quando tive esse tempo com algumas das pessoas que eu convivia antes de Sutiel surgir, é que eu percebi coisas malucas que antigamente eu não notava. Eles eram tão superficiais pra mim agora, eu andara buscando coisas mais profundas e eles me pareciam tão secos. Todos buscando saber das novidades exigidas de nossa geração, todos falando sobre esportes que não eram produtores de união, mas de desavenças, por exemplo, falavam sobre quem tinha caído no jogo passado, sobre como tinham se vingado de uma bolada que recebera na cabeça, coisas desse tipo sabe, e eu participava disso tudo, mesmo que no meu canto, eu sorria antes, eu dava risada, eu não fazia ideia do quanto isso é extremamente inútil e chato. Senti falta das conversas malucas de Sutiel, de seu jeito de dialogar e levar a vida suavemente, de me atrair com os lábios a pensar com convicção. Eu quis gritar! Eu quase me estressei com um de meus amigos, quase que fui pra cima dele, sério, falavam como se eu simplesmente fosse um objeto que trocava pessoas; eu simplesmente sorri ironicamente e desenfreei bem alto que eles não eram mais interessantes. E que, se tivessem alguém ali descontentes com seus hábitos sujos, me seguissem. Eu sei que foi um ato estúpido, porque ninguém me seguiu. Eu me virei, olhei pra todos, uns rindo escondido, outros perplexos com minha reação. Ouvi até que a culpa era de Sutiel, eles diziam, é culpa daquela desgraça que você arranjou pra ter amizade. Eu sorri, bem que a sorte eu tive de achar alguém que fala coisas boas sobre a vida. e fui pra casa. Eles não eram meus únicos amigos, mas eram parte dos que sempre dava merda, treta ou confusão, foi bem feito o que fiz. Eu estava do lado de fora sentado em baixo de uma das poucas árvores que sobrara ali e veio a Avenue e o Timotê falar comigo, eles me chamaram pelo meu nome, e buscaram entender o que foi aquilo. Eu chorei, chorei como quem chovia pelos olhos, e eles me abraçaram com tanta força que eu parecia me quebrar a costela. Fico feliz, disse a eles com uma voz chorenta. Pensamos como você, só não quisemos te seguir pois foi como se os traíssemos sabe? Não podíamos, desde que você apareceu hoje lá... Isso foram eles me contando... Desde que apareceu, eles conversaram com todos pra te tratar diferente, talvez pra que aprendesse. Olhei pra Avenue estranho, isso já era Timotê falando... e não concordamos, mas por sermos minoria, tivemos de assistir toda a humilhação. Eu chorei um pouco, enxuguei as lágrimas e disse, eu estou amando essa pessoa qual vocês tanto odeiam. Eles disseram que não odiavam, perguntaram o nome, eu somente disse, eu chamo de Sutiel. Sutiel? Sutiel? Eu. Sim. Mas esse é um, como posso dizer.... Apelido. Eles sorriram, levantamos e me trouxeram em casa. O caminho inteiro foi contando sobre como Sutiel me trazia bens internos e evolução mental. Talvez seja nessa hora quem notamos os que gostam e os que fingiram gostar de ti. Minha mãe chamou eles dois pra ficarem lá que ela faria um lanche, a tarde foi divertida, deu pra pensar em Sutiel de outra forma, deu pra sair dos meus pensamentos e falar sobre quem estava me fazendo bem, falar de quem amamos é como matar a saudade. É impossível esquecer, mas preciso me conter. É preciso se distrair, e eu tentei, mesmo que de forma frustrada, eu tentei.
Meus amigos se foram uns dias depois, é que passaram um bom tempo aqui, mas o que me intrigou, foi que quando estavam se despedindo, minha mãe falou pra eles baixinho tentando que eu não ouvisse, ela falou que havia os convidado pra ficar pois me sentia só, meio pra dentro de mim e triste. E os desgraçados confirmaram. Pronto, agora Sutiel era o problema, quer ver?
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Anjos Doentes
PoetryNo tempo em que uma sociedade ateu condiciona todos a não acreditarem em nada, os personagens qual inicialmente não revelam o seu sexo, buscam incansavelmente por uma direção. Crescidos e condicionados a não crer em absolutamente nada, cansam dessa...