O tamanho do sentimento quem sustenta o choro.
Perdido no vazio eu estava,
E me encontraram sobre a película,
Feito como um quebrar de ovos que estrala,
E a então formosa mácula.
Mas vejamos, o que eu fiz pra merecer?Se em tempos tão cruéis fazem homens,
Nesses tempos sou também da crueldade,
Quem pudera me atirar aos mares secos,
E sem rima faz um verso sem maldade.
Para, ela gritou! E eu disse por favor.
Não era um por favor com timbre falso,
Era com voz e fervor.
Por favor! Eu não vou suportar tal dor.
E adiantara? Pior que fosse se vingasse,
Quis fugir, mas contive a entrelinha, vou pra onde?
Vou fingir que vivo bem, e dizer que estou sozinha?
Hoje eu nem sonhei, culpa da dor dessa perda.
Sobre versos que não rimam, e se esvai a sutileza.
Rima, rima pra mim querida.
E nada há. Nada faz, nada vinga!
Parece que o mundo fez sentido,
em justamente perceber que não a há.
Que parem de tocar a melodia de meus pulmões. Em outras palavras mais pequenas, que eu não respire! Só que nunca vai ser fácil, e é estranho até um impasse, eu concordo. Onde estou? Nem eu faço ideia, só bem longe, mas bem longe de meu amor. Os dias eram chuvosos faz três semanas, as lamas parecem menos densas, moles, nojentas... Não há cheiro de terra nem água, só cheiro de nada, nada mesmo. Não há raios como quem avisa nem trovões como quem alerta, somente chuva, como quem chorasse. Hoje o dia chorou, e todos os meus outros dias também.
Desculpe me ausentar por tanto tempo, é que confesso que não tinha nem o tempo, nem vocação pra vir ter contigo, nem sequer a compaixão pra explicar ao caro leitor, o tal motivo. Perdoe-me a falta de noção de tempo, é que a prisão, nos primeiros meses, parece te prender dentro de ti, e só depois você percebe nada vale entrar pra dentro de si mesmo e se conter, se já esta contido nesse emaranhado de janelas trancadas com chaves que não chegarão jamais em suas mãos.
Onde esta Belizz? É tudo que constitui meus pensamentos. Onde encontra-se meu bem? Eu volto a imaginar o tempo em que tivemos juntos, as chances de sair daqui e ir pra onde eu nem faço ideia. Mas o que me amargura o peito, sem dúvidas nenhuma, é que eu nem se quer falei que estava amando sem querer. Juro que foi sem querer. Provavelmente irão me enviar pra um reformatório, desses em que as moças e os rapazes só trabalham e dormem e ganham pelo trabalho, o bom, se é que isso é bom, é que seus pais ou você não pagaria pra ir pra lá, eles quem te pagam pra ficar, sim sim sim, eu vou receber um dinheiro no fim da temporada e só. É uma possibilidade, se isso vai acontecer, claro que não, eu vou fugir, estou jogando minhas roupas no porão, só que aos poucos, todo dia eu jogo um conjunto em específico, não preciso de muito. Se der algo errado certamente eu volto sorrindo como se nada tivesse acontecido, no pior dos casos, volto chorando, ou sem a vida.
Meus pais me falaram muita coisa, dentre elas colocaram em minha cabeça que essa amizade, entre muitas aspas, não iria fazer bem pra minha vida, certamente iria me por em perigo e com certeza iria mudar minha visão de mundo, prazer e sentimentos. Não me pergunte o motivo de meus pais falarem isso. Mas enquanto eles resmungavam sobre toda essa besteira eu perguntei se eles se amavam. Disseram que sim, que me amavam muito e que essa era a prova de amor que eles tinham um ao outro. Eu dei risadas, muitas risadas e parei por três segundos num silêncio tosco e assustador. Eu parecia não estar diante das pessoas que me colocaram nesse mundo, olhei no fundo dos olhos da mãe, saltei aos do meu pai, e numa fala grossa e curta eu disse, vocês estão me machucando. Minha mãe pirou! Ela veio em minha direção, pegou em minha mão e fez de tudo pra que aquilo não parecesse uma tortura. Meu pai, sem reação, só fez sentar e olhar como que a mãe conseguia encenar tão bem o papel de dócil. Eu me matava por dentro, imagine um ser, dentro de si, rodeado por uma parde, e agora o ser sem paciência, começa a chutar e socar essa parede que aos poucos se quebra e cai em desespero, em lágrimas. Eu disse chorando descontroladamente que estou sentindo-me numa prisão pra psicopatas. Regalaram os olhos. Eu continuei dizendo que estavam alimentando-me pra que tornasse terrorista, iria entrar pra história, sim, iria, ninguém com minha cara foi para a TV acusada de atentar a cidade. Eu queria rir com meu drama, mas minha ânsia em ver Belizz era tremenda que faria tudo pra sair aquela porta fora e ir correndo ao seu encontro. Não responderam minha pergunta, vocês se amam? Meus pais novamente desconversaram, e eu perdia as esperanças nesse lar, nessa vida, nessa geração perdida e desesperada por liberdade e domínio próprio de si mesmo.
Foi ai que, um mês depois, nessa reunião familiar maravilhosa de um lar que se ama, que Belizz bate o sino, eu senti no mesmo instante quem era, sorri, sorri imensamente tendo a certeza de quem era. Meus pais olharam um pro outro, e eu corri pro portão interior. Olhei pra eles como quem dizia, abre seus cretinos, suspirando vieram até mim, e não abriram. Eu juro, não tenho estatura suficiente pra lutar com as forças de meu pai, que nos meus braços contia minha fúria, e minha mãe, que ligeiramente com sua delicadeza, amarrava os meus pés. É pro seu bem anjo, é pro seu bem. Eu só sabia cuspir no chão de minha casa, como quem diz, estou perdendo o respeito. Ta, pra te explicar, cuspir na frente de alguém remota a isso, você quer demonstrar que esta perdendo aquele antigo sentimento e não quer perder seu tempo a dizer isso. Pois é, cuspi o rol inteiro de minha casa até faltar saliva. Belizz gritava meu nome, eu gritava o seu, e sim, meus pais não faziam ideia do que significava Belizz e Sutiel. Parem de conversar em códigos, se não vou costurar seus lábios também. Eu realmente quis chorar, mas o ódio era tanto que eu só fiz lembrar da bíblia que estava escondida no meu quarto lá no terceiro andar. Eu queria, queria ler e me acalmar, mas tudo que eu podia era de fato duvidar da humanidade, meus próprios pais prenderam-me.
Belizz deve estar me odiando, não faço ideia se conseguiu me ver sendo arrancado daquele portão. Pelas câmeras eu via suas mãos estiradas sobre a porta enorme, foi que eu também, eu sentia seu calor e energia atravessar me alimentando o coração. Eu estirava as mãos quando olhava pra que fosse aberta a porta. E nada, tudo que fizeram foram me arrancar. Não se preocupe, meus pais conseguem ser um amor também, eles me soltaram em seguida, mas me deixaram preso dentro de um outro vão, ou seja, eu estava preso numa pequena prisão dentro da prisão que me prendia de ver uma pessoa que eu nem sabia realmente a razão. Por que lamaçal do inferno eu não posso ver Belizz? Meu coração quem dói, meus sentimentos se rasgaram, minhas esperanças mudaram de papel, fitavam o meu amor. Eu não sei o que fazer. A mãe me olhava como quem queria me dizer, é pro seu bem, o pai fazia como quem queria também falar, acredita em nós, eu só sabia pensar, não me importo, e depois, a breve preocupação, o que Belizz irá pensar? Resolvi então, vou me matar de amor. Nessa hora, parecia que eles leram meus pensamentos. Filh... Eu caguei de medo. Amanhã, pela manhã, iremos conversar, e tudo que precisar saber sobre essa situação que nos meteu, você irá saber. Eu simplesmente pedi uma coisa, me tranca no meu quarto? Eles assim fizeram, e me levaram para cima. Sim, amarrado as mãos, e amarrado as pernas. E eu, sou tão frágil que quebrei. Eu pintei o chão de lágrimas.
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Anjos Doentes
PoetryNo tempo em que uma sociedade ateu condiciona todos a não acreditarem em nada, os personagens qual inicialmente não revelam o seu sexo, buscam incansavelmente por uma direção. Crescidos e condicionados a não crer em absolutamente nada, cansam dessa...