Anjos Doentes

O amor quem te encontra.

A proibição no amor, é a plena ponte ao ato.

Que faria eu se sem rumo me envolvesse,
Ou por sentido e agonia, revoltasse.
Como ser quem se acostuma a arte desse,
Ao fogo que gelado faz como se nele estace.
 
Eu quem busquei a eficácia de aceitar o amor,
Que justo ao vê-lo e senti-lo trouxe a cor.
Que puramente e intensa foz viril do amargor,
Contenta a aflição de não voar perante a dor.
 
Eu e a fajuta cúmplice que a vida entrega,
E o pecado de jamais poder tocar ao algodão,
Que bela, e prontamente simples nos renega,
E onde, sem quem amo aprendo a solidão.
 
Como pude eu saber o que era isso sem sentir
Ou quem sabe, entender que comparar resume,
Que a estrada de jamais sentir presume,
E que o caos de todo o peito é o amor mentir.
 
Sonhe! Sonhe querido doce que me invade,
Coma todos os pedaços de nuvens que encontrar,
Deite sobre a chuca que te cabe,
E saiba que querer superar a força do atracar.
 
Os anjos certamente agora estranham,
As asas queimam sobre o sol dourado,
Tornando-se impossível o pouso armado. 

Agora faz sentido viver e entender o que sentimos.  Sutiel tem sido inteiramente o caos de minha mente. E é irreversível. Como posso eu gostar de uma coisa assim? Como posso eu sentir o teu calor a metros, e endoidar a minha mente sem explicações nenhuma? Vou morrer, pensei comigo isso; mas eu estava intneiramente aliviad... Graças ao sentimento intenso, o tempo não estraga quem quer muito. Eu voltei a pensar mais em sua sutileza do que o normal, e talvez fosse a distância. Penso em ir visitar sua casa, mas penso que talvez não seja essa uma boa ideia. 

Nossa cidade é a mais tecnológica do planeta, ela se encontra no meio de um deserto imenso de lama que, se tornou assim por conta das chuvas inesperadas. Já foi areia e quente, mas nunca se sabem o que aconteceu. Há histórias diversas sobre como gelaram o deserto; a teoria mais aceita é de que uma tempestade maior que a proporção de terra invadiu o parque de areia e transformou em lama tudo que você possa imaginar. Hoje aqui é um local frio, o sol quente reflete no emaranhado de poças e não consegue manter uma temperatura igual a que se tinha antes de empoçar. Um professor da Universidade Unida concluiu em sua tese que, todo o processo de mudança do deserto foi um meio de defesa do planeta em se manter numa temperatura agradável. As gerações passadas alimentaram tanto a terra com sujeira que hoje é impossível cavar qualquer coisa no solo e não encontrar plásticos, vidros que parecem pedras e principalmente látex, borracha e derivados compostos do petróleo. Eu pago as consequências, Sutiel paga as consequências, nossos pais, os amigos, a população inteira vive como se fosse o resto de fôlego que a humanidade recebera. 

Iria completar um mês sem que eu encontrasse Sutiel, sua doce paz, sua doce calma e forma de me olhar com uma beleza que nem eu consigo perceber. Iria transformar-se em um mês a força que a saudade me invadia, e todas as sequelas de uma alma que, acostumada com a euforia, não teria mais a plena intensidade do abraçar que de Sutial eu me sentia. Eu vou morrer! Mas não como quem perde o corpo e deteriora; eu estou perdendo a força que o espirito intenso em mim aflora. Sou pó que sabe voar mas resolveu amar alguém mais que suas asas. Imagine um professor sem seus alunos, ou um filósofo sem suas dúvidas, imagine Ayrton Sena sem seu carro, ou pior, imagine o homem sem seu Deus. Assim são os que amam e ficam longe de quem gostam. Não que eu esteja amando Sutiel, e mesmo que pareça, até eu estou achando que é verdade. Estou quase enlouquecendo, e me desculpe, mas não é a loucura que define a intensidade de um sentimento. Acho que o que define se é forte ou não o que sentimos, talvez seja o quanto suportamos e aguentamos resistir sem ter por perto quem nós tanto desejamos. 

Minha família é bem oposta as de Sutiel, somos do segundo terço que ficou, já a sua, do terceiro que restara. Há muito tempo, houve uma divisão em nossa cidade, entre os que gostavam de perdoar inteiramente os outros, e os que acreditavam que deveria haver limites, pra que fosse posta em prática a justiça propriamente dita. Isso é um assunto muito complicado. Sutiel me mataria se soubesse sobre como os meus pais não gostam da linhagem dos seus.  É que eu não sei muito sobre a história da minha família, nem da sua, fomos privados disso, não sei como é sua casa, mas na minha, há uma parte em que eu não entro nem que eu desejasse ou estivesse morrendo, lá tem uma biblioteca interativa que pra mim, é um dos maiores desejos como humano. Mas bom, cai entre nós que, dificilmente desse jeito, terei eu espaço na democracia e política daqui de casa. Eu não quero falar sobre isso, acho que se eu disser muito sobre quem eu sou, vai acabar ficando estranho e o foco não será o mesmo. Sutiel voltou a minha mente. Eu não consigo entender, mas que chata sensação a de ter todo o seu cérebro condicionado a imaginar o tempo e a convivência juntos, por exemplo, o que antes eu desejaria fazer e minha imaginação projetaria somente eu, agora não a faz assim mas com Sutiel, e eu sinceramente estou me assustando. Como pode alguém deixar algo que ama pra passar a amar uma outra coisa que não faz nenhum sentido. É isso, verdade! Belo é o amor que se constrói quando é possível ser amado a igual medida. É justamente isso, nossa, como não parei pra pensar nisso? Calma, vou explicar, raciocina comigo, é um exemplo ta? Uma criança ama seu cachorro de pelúcia, porém, seu cachorro inanimado não a ama de volta, após ir a escola, conhece uma garotinha que, demonstra um afeto por ele, claro que ela não é um cachorrinho de pelúcia, então, ele passa a demonstrar carinho pela coleguinha já que agora ele pode receber dela, em troca aquele sentimento de gosto e companhia depositado no brinquedo. É isso, eu agora vejo em Sutiel o que eu quero receber, e eu entrego o que talvez, Sutiel também assim queira. Vai saber. Se passaram dias e dias e eu estou inteiramente em desespero. Parece que meu corpo não é ele por sí só quando estou comigo mesmo. O amor te faz deixar de ver você como cena principal, passa a ter um outro alguém compondo a sua imagem. 

Eu não tenho notícias nenhuma, mas não deve ter acontecido nada demais, vou esperar, afinal, é normal, sempre foi normal ficarmos dias sem nos falar. Devo ir ao seu encontro ou não? Vou morrer se nada for feito. Droga! Preciso fazer algo.