A arte de arriscar faz parte dos tênue amores.
Como pode um peixe viver sem água?
Assim sou eu, mas não que traga mágoas;
São não entendo a perspicácia,
E resolvi fugir.
Quando afogam-se os nervos e pensamentos,
Quando nunca, nunca nos esquivamos dos tormentos.
Eu sou, a pura e inteira, flecha que nunca encontrou seu alvo.
Que culpa tem, a vida se me ensina o jeito torto?
Como que irei, semear os sonhos se hoje estou morto?
Tentamos, voamos, somos e estamos mais perto de nós,
Mas cada vez mais rente ao interior, mais longe e sós.
Vou a frente, e me gusto a entender, cuspo o que for.
Olho pro lado, e vejo os olhos de meu amor.
Como pudera, essa forma de culpar a vida.
Os minutos passam sem chegar,
Meus segundos, viram horas a vagar.
Penso, penso e nada sai de mim.
Hoje sou o alvo, que sem arqueiro algum,
ficou assim.
Nunca dormimos quando planejamos algo, exceto quando se tem uma droga forte que te induz a apagar. Que bom que fui dormir certo do que fazer, fiz certo em todas as etapas e agora resta apenas a incerteza de como vai acontecer. Mesmo que um plano perfeito seja então traçado, sempre, mas sempre mesmo, iremos ter alguns contratempos que não cabem a nossa preposição. Eu estava com muita ansiedade, aguardava agoniadamente por respostas diretas. Como foi? Na quarta pela manhã, sem dormir, pedi pra que eu pudesse fazer uma ligação, é possível, só que somente de manhã. Eles autorizaram minha chamada, eu só sabia na memória o número de casa, liguei, chamou inúmeras vezes e quase bufei de desgosto, mas deu certo. Meu pai quem atendera, não disseram muito, nem tive tempo de dizer, só ouvi reclamações sobre a minha falta de paciência. Estamos saindo de casa, disse ele. Eu apenas voltei pro quarto e pensei novamente em como iria falar que desejava ir em casa.
Eu quero ir em casa, pegar algumas coisas, estou me sentindo só, estou morrendo por dentro, preciso me sentir mais perto de tudo que eu era, preciso de fotos de vocês, preciso de livros, preciso do meu travesseiro. Olhei pra minha mãe, ela fazia cara de pena, confesso que a amo, ou sei lá, talvez haja um rancor dentro de mim que me esconda o sentimento. Filh... Meu pai abriu a boca, por um segundo eu imaginei ouvir trocentas coisas que não fossem um filh... desse tipo, veja bem, não somos lá uma família tão unida, e é o mal de nosso século: a desonra familiar. Eu fiz um gesto pra que ele continuasse, ele olhou pra mãe, que o olhou de volta. Dizendo: Já volto, irei autorizar pra que saia conosco e volte no fim da tarde. Eu corri pra abraça-lo. E pela primeira vez senti o olhar deles brilharem. Eu não estava tão focado nesse momento fofo e intímo de nós três, a mente estava em Belizz, e eu já sabia tudo, pensei durante muito tempo antes do remédio fazer efeito.
Saímos as dez da manha, eu olhava pra frente do sanatório, eu observava as ruas, pus uma das mãos no bolso e chequei a caneta e o papel. Eu foquei muito, muito em como eram os aspectos de onde eu estava. A viagem é longa mas não tanta assim, cheguei em casa, fiz questão de demorar no banheiro, anotei o que precisava, pus o número do meu quarto, pus uma breve explicação do que Belizz tinha que fazer, atrás não podia ser tão clara as coisas, vai que um deles encontram esse papel e notam que ando planejando que vá lá. Eu bufei de medo outra vez, pois foi quando veio a mente as possibilidades desse plano dar errado. A mãe gritava do lado de fora do banheiro, perguntando se estava vivo, eu gritei que sim, claro, terminei de anotar, fingi descarga, abri as portas e sai olhando pros seus olhos atordoados. Vai que vocÊ resolve se matar! Eu gritei: Mãe! Ela disse: Claro, nunca se sabe, você anda muito diferente desde que encontrou-se com aquela nova amizade. Aquela... Aquela... Mãe? Criatura infeliz. Para, nem me lembro mais del... Anda, pega suas coisas, por favor, não podemos demorar. Eu não sabia muito o que devia fazer, era o efeito do remédio quando nos mechemos muito.
Onde esta, onde esta!? Procurei a bíblia várias vezes, até lembrar que guardava nas gavetas. Peguei uns porta-retratos, peguei alguns objetos que eu gosto, quer dizer, nem sei se gosto deles mesmo. Enfim, era hora de voltar. Eu pensei, onde eu vou jogar esse papel pra que eles não encontrem mas Belizz possa enxergar? Meus pais iam na minha frente, sujei o papel pra parecer um puco velho, joguei na lateral logo na frente, sei lá, preciso muito, muito que dê certo. Fui na esperança de que tudo se encaixasse. Eu estava feliz, me sentia com um desejo de que fiz a coisa certa. Tudo que eu mais quero é sentir seu calor, sentir seus abraços nos meus braços, sentir a emoção que é amar e ter a reciprocidade. Eu luto pra que tudo dê certo.
Vamos, entra no carro! A mãe gritava, eu estava correndo já, fechei a porta e seguimos enquanto olhava para trás, como eu quero que dê certo. O amor te faz fazer besteiras, o amor te faz ser louco a alma inteira, e tudo que eu preciso, é ouvir que tem visita, e quando eles me abrirem a porta, ver seus olhos entonados em flerte aos meus, como quem diz sem fala alguma, somos o amor de nossas vidas. E sim, num tempo onde é difícil viver, é quase impossível amar e ser de volta.
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Anjos Doentes
PoesíaNo tempo em que uma sociedade ateu condiciona todos a não acreditarem em nada, os personagens qual inicialmente não revelam o seu sexo, buscam incansavelmente por uma direção. Crescidos e condicionados a não crer em absolutamente nada, cansam dessa...