"Por mais amável que seja o seu gênio, seu coração não é um dos mais fáceis de atingir."
Orgulho e preconceito
Jane Austen
Sarah
Quando se fala em inferno geralmente as primeiras coisas que vem a mente de Sarah são cavernas escuras tomadas por chamas ardentes, almas acorrentadas sendo chicoteadas ao fundo, toda essa cena ficando completa com o som de vozes gritando ao serem torturadas e bem ao centro de tudo sentado em algo parecido com um trono de rochas magmáticas, uma figura com longos chifres segurando um tridente.
Claro que agora esse estereótipo de inferno e diabo estava completamente mudado, não se via mais o cara com chifres, rabo e um tridente. Agora o diabo era retratado de forma sensual e bonita como na série "Lúcifer" que Sarah recentemente estava acompanhando.
Mesmo agora ela havia percebido que a vida toda imaginara o inferno da maneira errada. Na verdade ele se trata de um prédio no lado sudoeste de um campus universitário, com arquitetura antiga e três andares.
Sabe aquela estranha sensação que temos quando estamos prestes a encarar algo muito ruim? Aquele frio na barriga? Aquele arrepio na espinha? Sarah se sentia assim enquanto a passos lentos se encaminhava ao prédio de Ciências Médicas, mais especificamente, para o escritório do professor chefe desse setor que ficava no final do corredor do terceiro andar.
Seu pedido de estágio havia sido aceito, mas para sua infelicidade os papeis para devida oficialização precisavam ser assinados pelo próprio cão guardião dos portões do inferno. Sua nota mais uma vez nas mãos dele, pois corria o risco dele se recusar a assinar.
Ele havia tido cinco assistentes em menos de seis meses e quando ela fez o pedido pode notar a cara surpresa de todos na administração, ao que parece ninguém havia solicitado estágio com ele voluntariamente e muito menos no início do ano letivo. Quando a moça do outro lado do balcão lhe estendeu os papeis lhe ofereceu um sorriso encorajador, logo em seguida lhe dando um tapinha no ombro enquanto desejava boa sorte.
Isso explica muita coisa!
Ela hesitante chega ao no topo da escada do terceiro andar. A mesma moça que lhe deu um tapinha camarada havia lhe dito onde era o covil do Cérbero Collins e com os olhos fixos na última porta do corredor ela começa a caminhar.
Sinto que quando ele assinar esses papéis terei vendido minha alma.
Seu corpo todo estremece com aquele pensamento. O longo corredor parecia cada vez mais frio e sufocante, a porta parecia cada vez mais e mais distante e ela pode jurar que ouvia o farfalhar de asas de morcego no teto.
Que ridículo. Ela revira os olhos. Preciso parar de ver filmes de terror com a Alexia!
Quando finalmente para diante da porta, ela respira fundo, uma, duas, três vezes antes de bater e escutar uma voz grave, um singelo "entre", girando a maçaneta e entrando.
Assim que ela o avista, seu coração bate mais forte. Batidas frenéticas que agora ela culpava o nervosismo.Droga pare já de bater! Não!Espera!Se você parar eu morro! Pode ao menos desacelerar? É serio?! Estou falando com meu coração?
O motivo de suas batidas descompassadas estava em sua mesa com uma pilha de papeis a sua frente e franzia o cenho enquanto os analisava atentamente. Sem seu paletó a camisa social da qual usava tinha suas mangas erguidas e perfeitamente dobradas acima de seus cotovelos. O colete que a cobria estava justo em seu corpo e evidenciava o tamanho do seu peitoral e Sarah se perguntava como ele conseguia respirar.
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A anatomia do amor (degustação)
RomanceAos 20 anos, Sarah tinha o que considerava ser a vida perfeita. Tinha pais amorosos, era bonita, talentosa, possuía o emprego dos seus sonhos como primeira bailarina em uma conhecida Companhia de Ballet, além de ter ao seu lado o amor da sua vida. M...