"Tenho que me lembrar de respirar, tenho quase que lembrar meu coração de bater. Vivo como se me impulsionasse uma mola endurecida."
O morro dos ventos uivantes
Emily Brontë
Ethan
A vida de Ethan Collins era marcada pelo relógio. Para tudo o que fazia, havia um determinado tempo. Seus dias eram todos iguais, o que muitos chamavam de monotonia ele chamava de seguro.
Gostava de viver assim, sem muitas surpresas, pois descobrira de uma maneira que a maioria nomeia como destino, que não lidava muito bem com elas. Às vezes a vida elabora artimanhas muito cruéis para ensinar algo e ele fora moldado por elas.
Então para evitar esses momentos indesejados, optara por levar seus dias com uma rotina criada por ele. Às 06 horas acordava, cinco minutos depois tomava seu banho matinal, em quinze minutos já estava devidamente vestido e tomando seu café. 06h30 saía de casa. 06h55 chegava ao seu escritório na universidade e enfim as 07h20 iniciava a sua primeira aula do dia. Era sempre assim. Seu corpo havia se acostumado a realizar suas tarefas nessa ordem, pois às vezes as faziam no automático.
Viver assim era muito mais fácil, não tinha que se preocupar com surpresas ou até mesmo despedidas, pois também descobrira que não lidava bem com elas.
Mas nem sempre fora assim. Na sua outra vida, como ele gostava de pensar, de monótono não havia nada. Cada dia vivido era diferente, algo novo sempre surgia, às vezes bons e outros nem tanto. Ele era um homem diferente, em um país diferente, com objetivos e paixões diferentes. Era outro Ethan, um que ele nem se lembrava mais de como era, pois como fora dito, a vida ela nos molda, nos guia, nos ensina, e as artimanhas que cria para nos fazer ser quem somos.
Sempre dizia a si mesmo que não havia mal algum em possuir algumas manias. Afinal quem não as tem? Só que o seu problema era que elas não eram apenas manias, eram seu jeito seguro de viver. Sempre fazer a mesma coisa para que o inesperado não aconteça.
Nesse momento, por exemplo, estava em um dos seus rituais semanais que religiosamente seguia.
Toda a quinta-feira exatamente às 21 horas podia ser visto sentado em um banco no canto esquerdo do balcão do bar que havia no bairro universitário chamado Jack's. Um estabelecimento que achava particularmente agradável, um ponto de encontro tanto para estudantes quanto para professores. Gostava de ir até lá, apesar de na sua humilde opinião possuir um barulho excessivo, se sentia relaxado. Sentia como se todo aquele barulho pudesse afinal calar um pouco o que ele possuía em sua cabeça.
Quando se mudara para Londres novamente, aquele fora o primeiro lugar que visitara. Lembra-se de sair de seu apartamento, a duas quadras dali, e ao caminhar para fugir um pouco das pilhas de caixas que teria que arrumar, encontrara aquele lugar, entrara, sentara, pedira uma cerveja e pela primeira vez em muito tempo conseguira enfim respirar um pouco. Estava mais distante de seus problemas, sabia que ali não iria ser perturbado pela consequência deles, pelo menos não por uma delas. Isso fora em uma quinta-feira.
Desde então era o que fazia. Entrava, sentava, pedia uma cerveja e respirava.
Ele pousa sua bebida no balcão e encara as horas em seu relógio de pulso, eram 21h34. Solta um longo e cansado suspiro e pensa com pesar na noite que teria. Não era muito adepto de quebra de rotina, mas naquela em particular ia, para seu desgosto, ser diferente. Apesar de seu jeito um pouco rude, era um homem de palavra e seguidor da responsabilidade. Se prometia fazer algo, ele o faria.
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A anatomia do amor (degustação)
RomanceAos 20 anos, Sarah tinha o que considerava ser a vida perfeita. Tinha pais amorosos, era bonita, talentosa, possuía o emprego dos seus sonhos como primeira bailarina em uma conhecida Companhia de Ballet, além de ter ao seu lado o amor da sua vida. M...