Capítulo 7

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"O medo é que faz que não vejas, nem ouças porque um dos efeitos do medo é turvar os sentidos, e fazer que pareçam as coisas outras do que são."

Dom Quixote

Miguel Cervantes

Alexia

Você sabe que está realmente sozinha quando nem mesmo encontra garotas imaginárias para lhe fazer companhia em uma Sexta-feira à noite. E sabe que chegou ao fundo do poço a ponto de repensar se é uma legitima universitária, quando até mesmo as que tenta criar estão com preguiça de sair.

Utilizara todos os seus recursos e repassara toda sua lista de mulheres com quem costuma se ocupar nessas horas de "carência e tédio" que às vezes se encontrava. Mas o fato é que todas para quem ligara estavam de certa forma ocupadas, ou em alguma festa para qual não estava nem um pouco animada a se dar o luxo de comparecer e as outras da sua lista eram aquelas que não tinha a menor vontade de reviver certos momentos.

Preciso fazer uma limpa nessa lista. Pensava enquanto colocava ao seu lado no sofá seu caderno de desenhos, onde passara a última hora tentando buscar alguma inspiração para um modelo inovador de blusas com golas role que tinha que entregar até a próxima Terça-feira.

Pega seu celular da mesa de centro e entra em sua agenda de contatos. Desliza o dedo pela tela descendo a lista, lendo os nomes e tentando ligá-los aos devidos rostos, mas seu movimento para no instante em que chega à letra M e o nome de Maddie, a compulsiva por dedões aparece. Sem pensar duas vezes seleciona o contado e exclui.

Descobrira que possuía muitos contatos de garotas que já deviam ter sido retiradas há muito tempo. Sorri satisfeita quando os apaga. Vinte e duas mulheres deletadas no total. Então seus olhos encaram o relógio na tela e a preocupação se instala em seu peito. Sua amiga ainda não retornara e já passavam das 21h30.

Agora estava completamente inquieta. Mais cedo naquele dia, Sarah havia lhe dito que Peter a chamara para um ensaio de última hora. Sabia que sua amiga iria participar de um recital do "Lago dos cisnes" oferecido pelo estúdio. Então lá estava ela mais uma vez. Substituída.

Jogando seu corpo no encosto do sofá, Alexia pega o controle remoto para ver se encontrava algo deprimente e solitário para lhe fazer companhia e enquanto estava decidindo entre "Sexta-feira 13" e "Eu sei o que vocês fizeram no verão passado", escuta a tranca da porta se abrir e vê sua amiga entrar.

─ Nossa até que enfim. ─ ela sentava cruzando as pernas no sofá. ─ Pensei que não iria mais voltar.

Sarah segue até ela em silêncio, joga a mochila no chão e deixa seu corpo cair no sofá ao seu lado, enterrando o rosto na almofada.

─ Como foi seu dia hoje? Está mais bronzeada por causa das labaredas do Tártaro? ─ perguntava rindo ao mesmo tempo.

Sua amiga diz algo, mas sua voz fica abafada pela almofada.

─ Não entendi nada, Mi.

Ela vira seu rosto pra ela.

─ Deixe-me pensar ─ Sarah aperta os olhos pensando ─ Uma palavra para definir minha tarde. Silenciosa.

Diante o silêncio de Lexi e para a interrogação evidente em suas feições, sua amiga continua.

─ Ele não gosta de barulho. Não posso cantarolar, acho que sequer respirar é permitido. Me ouvir exalar o ar deve ser ensurdecedor.

A anatomia do amor (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora