Capítulo 8

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"Não caçoarei do senhor por isso, o que é uma pena, pois adoro rir."

Orgulho e preconceito

Jane Austen

Sarah

Luto, do latim "lucto". É um sentimento profundo de tristeza e pesar pela morte de alguém. Para Sarah havia outra definição que deveria ser acrescentada na lista. Solidão.

Apesar de adorar o fim de semana aquele em específico ela não queria vivenciar. 07 de outubro, um domingo de outono qualquer para muitos, mas uma data importante de dias passados. Era o aniversário "dele", o dono de seus sonhos e pesadelos diários, ou seria se ele não tivesse partido.

Sarah tentou deixar sua mente ocupada durante aquele tortuoso final de semana. Ensaiou em seu pequeno estúdio que tinha no apartamento, uma sala que elas adaptaram para que Sarah pudesse usar. Tentou ler, mas nem Shakespeare ou Jane Austen estavam ajudando, então partiu para os documentários sobre a vida selvagem, que gostava de assistir e que estava ficando meio viciada e no fim da tarde participou dos testes para o recital que o estúdio estava produzindo, o resultado sairia ainda naquela semana.

Fazia de tudo para que sua mente acreditasse que era apenas mais um dia comum, mas ainda assim nada tirava da cabeça que mais uma vez passaria por aquela data sozinha. Sem bolos, sem café da manhã na cama e sem ela o acordar usando um chapéu de aniversário esquisito e cantando parabéns para você.

Quando permitia se deixar ser preenchida pelas lembranças daquele dia, tudo o que ela queria era se trancar em seu quarto, deitar em sua cama e chorar. Pois a saudade era tão grande que já não cabia mais em seu coração e às vezes era difícil segurá-la e impedir que escorra por seus olhos. Mesmo nós sabendo que um dia o fim para todos chegará ninguém nunca está preparado para perder alguém.

Claro que Alexia não a deixou sozinha durante os dois dias. Ela havia dado várias desculpas a Ryan para ficar com Sarah a consolando, abraçando e até mesmo forçando ela a comer algo. Quando acordava de madrugada chorando Alexia a abraçava fortemente enquanto murmurava que tudo ia passar. Datas como aquelas eram difíceis, pois sentia que estava caindo no abismo que era a tristeza, como havia sido no começo.

Às cinco da manhã de segunda-feira algo não muito bom acontece. Ela acorda com uma forte dor em seu peito. Seu coração parecia bater fortemente e em seu nariz uma linha de um líquido avermelhado pintava sua pele sobre os lábios, esses que possuíam uma coloração fraca de roxo e chamavam por sua amiga que havia dormido ao seu lado. Alexia acordara aos poucos, mas quando notou o estado de Sarah levantou-se em um sobressalto com semblante preocupado. Ajudara a se trocar e a levara até seu cardiologista, Doutor Riveras.

Tinha o que ele diagnosticara como início de retenção de líquido resultante da falta de seus remédios. Não o tomava há três dias e devido ao seu estado Alexia também havia se esquecido de lembrá-la. Mas isso não a poupou de uma bela bronca. Notava o rosto dele adquirir uma expressão preocupante e isso fez com que ela prometesse tomar cuidado e que isso não iria mais se repetir.

─ O que faria se te perdesse? ─ escutava sua amiga dizer enquanto a abraçava fortemente na saída do consultório.

Não estava bem para ir à aula, escolheu por ir para casa e tentar repousar e se recuperar para de tarde ir ao seu estágio, não havia como fugir disso, não queria dar mais motivos para seu professor reprová-la.

Mas assim que se deitara em sua cama, percebera que não havia sido uma ideia muito boa, pois não havia nada para distraí-la. Nada para impedir que a saudade, que sempre estava à espreita, a todo instante a invadir com lembranças de três anos atrás, mas tão nítidas como se houvesse acabado de vivenciar. Ela quase podia ouvir a voz brincalhona dele enquanto a envolvia em seus braços e ria de seu chapéu.

A anatomia do amor (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora