"Ele desceu, evitando olhar muito para ela como quem evita olhar longos olhares ao sol, mas vendo-a como quem vê o sol mesmo sem olhá-lo."
Anna Karenina
Leo Tolstoy.
Sarah
Sabe quando sua cabeça está cheia de pensamentos dos quais não te deixam dormir? Ou quando está ansioso para um evento e mal consegue conter a excitação esperando o momento chegar? Ou até mesmo quando se tem dez anos e espera ansiosamente a manhã de natal para enfim abrir os presentes?
Era mais ou menos isso que Sarah sentia. Só que o problema não era simples como "será que ganhei aquele brinquedo do Papai Noel?" ou no caso dela sapatilha de meia ponta, não, era um pouco pior. Engraçado pensar em como as coisas com que nos preocupamos quando crianças são tão pequenas quando as olhamos com olhos de adulto.
Ok. Talvez o problema seja um pouco maior do que dito acima. Ela não compreendia totalmente o porquê se sentia com toda aquela carga de ansiedade. Entendia parte do problema que se colocara, havia exagerado um pouco nas perguntas, mas era teimosa demais para admitir que na verdade a ansiedade era para conversar com ele novamente.
Será que terei que fazer uma nova rachadura novamente? Perguntava-se enquanto caminhava pelo campus da faculdade em direção ao seu estágio. Tentava conter o impulso de levar os dedos aos lábios e roer as unhas, essas que devido ao curso que escolhera e à semana de provas que tivera já não eram dignas de um esmalte sequer.
Ansiedade sempre fora um dos seus maiores defeitos e devido à situação com que se depararia em exatos 11 minutos, aquele seu estado era completamente compreensível. Não sabia como seria àquela tarde de Sexta-feira. Como ele estaria após o episódio de insistência dela. Sentia-se exatamente como a criança na véspera de natal. Ansiosa, mas apreensiva. Só que naquele caso, não tinha mais dez anos, não era véspera de natal e com toda certeza não estava indo ganhar um presente do Papai Noel.
Os problemas nunca vêm sozinhos, havia algo que andava de mãos dadas com eles e eram as consequências. Essas sempre inevitáveis, uma hora ou outra elas sempre chegavam e você teria que enfrentá-las.
Tudo bem. Ansiosa, talvez, não fosse somente o que sentia. Outra palavra que se encaixaria muito bem era frustrada. Frustradamente ansiosa ou ansiosamente frustrada? Escolha qual for melhor.
Na aula de anatomia daquela manhã, tentara se concentrar no assunto, mas tudo que pensava era na forma como seu professor reagira ao seu comentário nada sutil e claro ele percebera sua total falta de concentração, pois em meia hora de aula recebeu não uma, mas duas reclamações vindas dele.
Culpa inteiramente sua professor! Se você não fosse tão difícil.
As pessoas costumam reagir a tudo de maneiras diferentes. Seu professor, por exemplo, não parecia o tipo de homem que gostava de compartilhar sentimentos, de falar sobre si ou sobre sua vida particular. Mas aqueles breves momentos, que por algumas vezes, vira algo de diferente em seus olhos, aquela coisa intrigante e peculiar que ele possuía, as sensações te tivera ela não conseguia ignorar, sabia que havia mais, muito mais, por detrás daquele muro.
Mas o que poderia ter acontecido pra ele decidir que aquele homem merecia ficar escondido pelas camadas de frieza? Essa era a pergunta de um milhão de dólares.
E que camadas. Ela se pega pensando em seus olhos os olhos que tanto a instigavam.
Balança sua cabeça para afastar tais pensamentos e apressa o passo em direção ao setor onde iria receber a sua sentença.
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A anatomia do amor (degustação)
RomanceAos 20 anos, Sarah tinha o que considerava ser a vida perfeita. Tinha pais amorosos, era bonita, talentosa, possuía o emprego dos seus sonhos como primeira bailarina em uma conhecida Companhia de Ballet, além de ter ao seu lado o amor da sua vida. M...