Capítulo III - "Beijinho de amigo"

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Aperte play e acompanhe a leitura ao som de "Cravo e Canela- Gabriel Elias".

Anabela:

Eu estava pronta para qualquer garoto ser Hugo, mas não ele. Nosso primeiro contato tinha sido péssimo, eu senti que estava sendo invasiva atrapalhando o recreio dele com seus amigos... E agora ele estava vindo à minha direção?!

- Ana, esse é o Hugo. Hugo essa é a Anabela. Pronto, agora vocês se conhecem e podem conversar por si só.

Vontade de enfiar a cara de baixo da terra e não sair nunca mais? Imagina, isso nem me passou pela cabeça... Mas a parte mais constrangedora ainda estava por vir:

- Oi. – Ele disse.

- Oi. – Respondi.

E o silêncio dominou aquele mini projeto de conversa.

- Então, tenho que ir embora... – Falei.

- É, eu também. – Respondeu.

E essa foi a conversa mais interessante e bem estruturada em toda a minha vida. Ok, sem ironia, mas de fato essa conversa me encaminhou para um futuro próximo que eu jamais esperaria, então muito obrigada à minha cúpida, Isa.

Hugo:

Cara, eu acho que nunca fiquei tão constrangido quanto a primeira vez que finalmente falei com a Anabela. Foi algo tão sem jeito e esquerdo que eu pensei ter perdido todas as minhas chances com ela. A Isabella meio que forçou uma aproximação nossa em um dia na saída da escola. Claro que eu queria me aproximar dela, mas não dessa forma. Eu nem sabia bem qual a melhor maneira de fazer essa coisa toda, mas sabia que não era desse jeito.

Até então eu nunca precisei chegar nas meninas, lançar um papo e conquistar... Eu chegava, ficava e fim. Não tinha envolvimento. Mas ela era diferente, cara. Passamos um mês conversando, comecei a passar os recreios com ela e com uma amiga dela, Ana Paula, e quando percebi eu já estava apaixonado sem nem me dar conta. Confuso isso. Mas eu notei que preferia estar ao lado dela a estar ao lado dos meus amigos, eu saía da escola e já estávamos trocando mensagem de texto, chegava em casa e corria pro MSN conversar com ela e quando percebia que ela estava off-line eu já sentia que algo estava faltando no meu dia, passava o dia inteiro pensando em como foi bom ter mais um dia ao lado dela e nós nunca nem havíamos ficado, nunca nem havíamos conversado algo relacionado a interesse amoroso.

Resolvi arriscar. Tinha uma prova de Geografia, eu sabia que seria fácil demais e aí vi uma oportunidade... Fiz uma aposta com ela que iria tirar 10, se eu tirasse ela teria que me dar um selinho, caso contrário eu iria dar. A professora corrigiu a prova em seguida e quando vi meu 10 já queria sair correndo até a porta dela (que era ao lado da minha) esfregar na cara o 10 e cobrar a aposta. Eu sabia que ela iria morrer de vergonha e isso a deixava ainda mais linda e atraente.

Quando o sinal bateu nos alertando que a aula havia acabado, fui correndo para a porta da sala dela com a minha prova em mãos. Já estava a minha espera com uma cara de desconfiada. Cheguei rindo. Eu queria disfarçar, mas a felicidade me invadiu por completo, pois eu sabia que agora sim o nosso envolvimento amoroso iria iniciar. Ela ficou com uma cara séria no início e me concedeu o seu riso. Ria de nervosa.

- Não é possível Hugo. Você colou na prova?

- Não. Eu sou foda, estudei. – Respondi

- Me dá aqui essa prova, me deixa ver se é tua mesmo. – pegou a prova da minha mão – Hugo Rosa Fernandes. COMO ISSO HUGO? – falou em um tom mais alto e assustado que o normal - Eu não acredito. – E por fim ela deu um sorriso tímido de orelha a orelha.

A amiga dela, Ana Paula, começou a provoca-la insistindo para que ela cumprisse a promessa naquela hora. A Anabela começou a ficar de todos os tons do arco-íris: já era branquinha, ficou rosa, vermelha, azul, roxa... Eu sabia que ela deveria estar morrendo de ansiedade e timidez por dentro. Não fazia o seu feitio roubar beijos. Entramos cada um para suas devidas aulas e o próximo sinal seria o do recreio. Confesso que minha barriga começou a embrulhar, revirar... Eu não parava de pensar em como seria o encontro das nossas bocas, mas as expectativas estavam a milhões.

Anabela:

Confesso que desconfiei da índole do Hugo, pensei que ele tivesse pedido a prova de algum amigo só para conseguir que eu desse o selinho nele. Mas eu estava enganada. A prova estava assinada com o nome dele e um 10 logo ao lado. Eu pensei que cumprir essa aposta seria moleza: era só chegar, dar um selinho e sair, como no jogo verdade ou consequência. Mas isso era uma missão quase impossível quando eu me sentia completamente apaixonada por ele. Tomar essa iniciativa, na minha cabeça, era como dizer "é, eu gosto de você" e eu não queria demonstrar nada assim tão cedo. O que ele pensaria de mim?!

No intervalo ele e a Ana Paula ficaram os 20 minutos inteiros entisicando sobre isso. "Ela não tem palavra, já deveria saber". "Anda logo Ana, é só um selinho, vocês dois pelo amor do céu.". Minha boca e meu coração imploravam que eu fosse, mas minha mente travou todo o meu corpo. Quando eu senti que conseguiria, o sinal para voltarmos para as salas tocou e o Hugo logo soltou:

- Tens a saída ainda para me provar que tu é uma menina de palavra.

E você não tem ideia de como essa frase tão pequenina me assombrou por duas aulas extensas. Eu comecei a ansiar por esse momento, planejei tudinho na mente: "ele vai estar te esperando na porta como todos os outros dias, vocês descem as escadas e saem da escola. Quando o tumulto passar você o chama como quem não quer nada e quando ele se virar você tasca o selinho. É fácil Ana, deixa de ser tonta.". Plano infalível, certo? Coloquei metade do plano em prática, mas na hora H foi tenso, até que minha amiga Ana Paula falou:

- Ai que saco vocês dois. Dá logo um selinho nela Hugo e acaba com isso.

- Eu não, a promessa não era essa. Tô desacreditado dela.

E quando eu percebi minha boca já estava tocando a do Hugo.

O tempo passa, o amor nãoOnde histórias criam vida. Descubra agora