Aperte play e acompanhe a leitura ao som de "Fica do Meu Lado - Onze:20".
Anabela:
Ele não era ciumento. Não completamente. Tinha o ciúme básico do meu melhor amigo, Luigi, mas era algo compreensível porque minha ligação com o Luigi era tão forte quanto. A primeira vez que o vi com ciúmes, de verdade, foi na gincana da escola. Na época estava passando a novela "Cheia de charme" e uma das provas era para fazer uma apresentação de alguma música da novela. Coloquei um vestidinho preto colado e dancei com mais duas meninas. Quando ele me viu naquele vestidinho e não me desgrudou eu comecei a reparar que ele me abraçava mais que o normal. Eu achei bonitinho, pra mim isso era uma reação de gostar de alguém, ele continuava ao meu lado, se entregando pra mim e me permitindo me entregar pra ele, sabe?
Novembro chegou, era o mês do meu aniversário e fui surpreendida com uma corrente com dois corações e um strass. Ele me entregou um papel de carta – o mesmo papel que eu dei no aniversário dele – escrito algumas palavras.
"Você é uma menina incrível. Me desperta admiração e tem um coração de ouro. Eu quero poder estar contigo sempre. Feliz aniversário, que tu tenha muito amor e que seja ao meu lado. É nóis branquelinha".
No início fiquei chateada por ele ter escrito na carta que eu entreguei pra ele, mas depois assimilei que tudo era novo e ele não compreendia direito ainda e quando li as palavras escritas, mesmo simples, tocaram de um jeito meu coração... E então nós precisamos conversar novamente.
- Você sabe que é esse mês que o Guilherme volta da Itália, né?
- Lembro...
- Eu só acho que a gente precisava conversar...
- Ana, a gente só está ficando. Vai lá, fala com ele. Se tu ficar, ficou, mas eu só vou querer saber depois.
Hugo:
Eu não queria que a Ana encontrasse o passado dela. Ela gostou por 5 anos do cara, foi a paixão de infância dela e eu confesso que me senti ameaçado demais. Não queria que ela visse e achasse que o que passou comigo não passasse de uma ilusão que ela criou para substituir a ausência dele, mas também não poderia privá-la de colocar os sentimentos dela em ordem. Ela precisava. Eu precisava. O Guilherme precisava – por mais que eu odiasse admitir. Ele estava presente ainda na vida dela. Eles conversavam no MSN e eu sabia disso. Ele ameaçou que se ela namorasse outra pessoa, iria beijá-la na frente do namorado. Como eu suportaria isso? Eu sabia que o encontro deles era a coisa mais sensata a se fazer naquele momento. Ou era o nosso fim ou era o fim deles.
Enquanto ela estava no encontro que combinou com ele, eu fiquei extremamente nervoso. Fui tomado por um misto de sentimentos: angústia, ciúmes, curiosidade, medo, amor, confiança... Tentava me distrair, mas só sabia olhar para o celular e esperar uma chamada ou mensagem dela me dizendo que me amava ainda. Eu não sabia como reagiria se ela dissesse que ficou com ele e que ainda sente algo por ele, ou pior: por nós dois. Se ela falasse que o sentimento dela era só por ele, eu saberia que acabou pra mim. Mas se fosse por nós dois eu seria capaz de me sujeitar a viver assim?
Era 18 horas quando finalmente meu celular tocou. Era ela:
- Tenho uma notícia boa e uma ruim, qual você quer primeiro?
Anabela:
Eu senti uma insegurança e tristeza na voz dele quando me respondeu:
- A ruim.
No fundo pude ouvir um suspiro, como se estivesse chorando e isso acabou com meu coração. Ir até esse encontro foi decisivo. Quando eu vi o Guilherme só sabia pensar no Hugo, apesar dele ter feito do nosso encontro algo perfeito. Me tratou como uma princesa o tempo inteiro, mas o beijo não se encaixava mais, o sentimento não arrepiava mais, não tocava no coração. Eu tinha um carinho gigantesco por ele, um agradecimento por ele ser quem é. Talvez ele tivesse sido para mim uma paixão mais duradoura que o comum ou era só o meu "amor infantil" mesmo.
- A má notícia é que tu vai ter que me aguentar por muito tempo ainda... Eu não senti nada no encontro, só pensei em ti. Senti a tua falta, queria que fosse tu e não ele. E a boa é justamente que meu sentimento é inteiro por ti.
Eu não consegui contar que houve envolvimento físico entre nós dois. Doeu ouvir o choro nem tão silencioso do outro lado do telefone. Preferi omitir já que havia encerrado essa história. Quando dei a notícia eu pude sentir o sorriso se abrir, o coração gritando e a calma invadindo a alma do outro lado do telefone. Agora seríamos só nós dois, como já diria Armandinho "sem amor antigo pra esquecer".
Hugo:
Pude sentir sair das minhas costas um ônibus, uma casa ou qualquer outra coisa extremamente pesada. Nunca pensei que palavras teriam tanto poder sobre uma pessoa, mas naquele instante eu era o cara mais feliz que poderia existir no mundo. Eu havia ganhado na loteria, mas o prêmio seria o amor (e confesso que acho mais valioso que dinheiro). A Ana tinha uma parte muito parecida comigo quando se relacionava: ela enjoava muito fácil e rápido. Então só de saber que nós estávamos nos superando no tempo máximo que nos envolvemos anteriormente, já era um indício de que era para ser nós dois.
As férias estavam chegando e isso foi me dando um frio na barriga, era como sair da zona de conforto. Eu estava acostumado a vê-la todas as manhãs, com a carinha de sono disfarçada pela maquiagem que passava. Ela ainda não conhecia meus pais, mas eu já frequentava a sua casa. Eu sabia que mesmo que não nos víssemos mais todos os dias, continuaríamos conversando pelo telefone e ligando a webcam no MSN. Isso me tranquilizava um pouco.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O tempo passa, o amor não
Roman d'amourPrólogo: "Anabela era uma menina que não queria mais sentir. Com medo de tudo o que havia passado, escapar para uma nova escola era a solução. Entretanto, ela não esperava que seria lá onde encontraria a sua maior confusão. Hugo, com seu jeito todo...