Capítulo I - Aluna nova?

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Aperte o play e comece a leitura ao som de "Seu mundo - Gabriel Elias".

Hugo:

O ano era 2011 e eu estava com meus 14 anos, você sabe como é essa fase: quando começamos com a curtição, a nos sentirmos "adultos". Não era um adolescente muito festeiro, minha mãe ainda me privava de certas diversões. Mas era um cara 'garanhão'. Apegado não, na verdade já escutei me chamarem de coração de pedra e é foda escutar isso quando eu sei que na verdade só não havia encontrado ninguém interessante o suficiente para me despertar algum encanto. Eu era rodeado de amigas e sabia que algumas delas estavam apaixonadas por mim, então ainda não havia rolado essa coisa de conquista na minha vida.

Nunca havia namorado. Fiquei com uma amiga durante o verão, foram 2 meses e só, enjoei. Me senti totalmente sufocado. Cara, eu não conseguia compreender essa coisa de namoro. Pensava que isso não passava de uma ilusão, saca? Quem conseguiria aguentar uma pessoa com seus defeitos e suas manias por tantos meses? E anos então? Eu não, tô fora! – ou pelo menos pensava estar até aquele momento.

O mês era Abril. Estava no meu primeiro ano, em uma escola nova, mas já estávamos nos encaminhando para a metade do ano, então já conhecia boa parte daqueles 400 alunos que frequentavam o período matutino daquela escola. Eu tinha uma rotina pré-estabelecida: acordava 06 horas da manhã, pegava o busão para ir a escola ouvindo Projota ou Rashid no celular, saía às 11:20, almoçava, todas as terças e quintas estavam reservadas para o treino do futebol do clube do meu bairro, nas quartas era costume que os adolescentes se encontrassem no shopping e às vezes eu dava uma passada por lá, de resto ficava no computador, jogando play ou saía com alguns amigos a tarde... Mas foi esse mês e esse ano que me trouxeram uma coisa que mudou totalmente a minha rotina.

Cheguei mais cedo na aula e resolvi ficar na frente do colégio esperando o sinal bater com alguns amigos, ficamos sentados no meio fio mesmo. Conversávamos sobre o treino de futebol e sobre os pontos que fizemos no Cartola. E eu vi uma coisa diferente, quero dizer, uma pessoa (já vou pedir desculpas desde já por colocar a palavra 'coisa' no lugar de muita coisa). Nunca a vi andar pelos corredores de lá. Ela estava parada na frente da porta, com um olhar calmo, mas ao mesmo tempo desconfiado. Ela não estava confortável, claramente aluna nova nos seus primeiros dias. Mexia no celular e olhava para todos os lados, como se estivesse esperando alguém ou totalmente incomodada.

Cabelos pela cintura, lisos e moreno, rosto redondo, olhos pequenos e castanho, nariz curvado. A pele dela era tão branquinha que parecia como a neve, usava um suéter vermelho que a destacou ainda mais em meio a tanta gente igual. Era uma harmonia em cada traço do corpo dela que eu fiquei um bom tempo olhando-a fixamente. Se ela tivesse me olhado por algum segundo pensaria que eu era algum tarado ou retardado mesmo, mas ela não lançou seu olhar na minha direção nem por um milésimo de segundo. "Eu vou ficar com essa menina" foi o único pensamento que consegui raciocinar.

O sinal tocou me fazendo acordar para a realidade. Quando me dei conta ela já havia sumido. Segui minha rotina da manhã, mas de uma forma diferente... Nos intervalos de aula era costume os alunos irem para a porta e ficarem conversando até o próximo professor chegar, mas dessa vez eu fiquei quieto. Fiquei recostado na entrada da minha sala tentando ver se achava ela em alguma outra porta ou sentada em alguma outra sala. Não a vi e logo fui desistindo da ideia de procurar ela novamente pela escola.

"Por que tu quer saber dela cara? Ela nem é pro teu bico e tu nem sabe chegar nas gurias direito", pensei. E não passava da mais pura e dura verdade.

Uma semana se passou e nesse tempo continuei a caçá-la com meu olhar de vez em quando sem muitos esforços e sem sucesso. Estava no recreio com o Tiago, com a Maria Luisa e com a Paula e sem querer bati o olho nela, sentada sozinha. "Ninguém merece ficar sentada no recreio sozinho", pensei. Mas isso era só uma desculpa que eu me forçava a acreditar para não ter que admitir que eu desejava me aproximar dela.

- Maria, Paula, tem uma menina sozinha ali. Chamem ela pra cá. É foda passar o recreio sozinho.

- Ela é da minha turma. É nova, entrou há uma semana acho. Pera, vou chamar ela. – respondeu a Maria.

Vi as duas conversando um pouco e a vi se levantando. "E agora, o que tu vai falar com ela?". Quando chegou eu travei. A beleza dela impressionava ainda mais de perto. "Será que tinha namorado?". Eu podia escutar a batida acelerada e não ritmada do meu coração, me questionei mentalmente se mais alguém conseguiria escutá-lo também. Ouvi ela falando sobre uma festa que daria final do ano, mas não consegui prestar atenção em mais nada. A voz dela era tão doce parecia mel – e eu nunca consegui entender como uma voz pode parecer uma comida, mas nesse dia eu entendi. O sinal tocou. Passou tão rápido e então me dei conta de como fui sem noção, eu não consegui nem dar um "oi". Fiquei olhando-a imóvel, sem reação nenhuma e tive certeza que ela deve ter me achado um idiota.

Anabela:

Começar em uma escola nova é um saco e quando isso acontece depois das aulas terem começado é assustador. Os grupos já estão formados, a matéria já foi passada, as provas já foram marcadas... Mas não culpo meus pais por me trocarem dessa maneira. Eu precisava. Na escola antiga eu sofria bullying por ser branquinha demais, por me acharem com cara de metida, por ter o nariz empinado (no sentido literal e não figurado), por usar maquiagem, enfim, basicamente por existir. Além disso, a situação financeira começou a ficar mais apertada para continuar em uma das escolas mais renomadas da cidade.

Meu primeiro dia foi uma bosta, sério. Me perdoe a palavra. Cheguei atrasada e minha mãe quis entrar na escola comigo. Não, não tenho vergonha da mulher mais extraordinária que já conheci, mas isso passa um ar de "filhinha da mamãe", sabe, e eu queria evitar após o trauma do antigo colégio. Por sorte a turma do nono ano estava sendo dividida em duas nesse dia, então não perdi nada da matéria. Quando pisei na sala já começaram as piadinhas sem graça quando a professora informou que eu ficaria na outra turma. Um rapaz gritou "deixa ela aqui nessa professora". Eu sou mais retraída, então não suporto esse tipo de atitude, fico totalmente sem graça e sem jeito. Quando as salas estavam completamente divididas a aula começou, não conversei com ninguém. Passei o recreio com meus amigos Pedro, Gustavo, Augusto e Vitória, do primeiro ano e assim eram meus dias na escola.

Poucos dias depois fiz amizade com um casal da minha turma, Isabella e Victor e em um recreio eles resolveram ter uma DR e, claro, eu não estava inclusa na discussão da vida amorosa deles. Não sabia onde estavam meus amigos do outro ano então permaneci sozinha por alguns minutos. Enquanto estava mexendo no meu celular conversando com os amigos que deixei na escola antiga, até que uma colega de turma veio me chamar:

- Ana, não fica sozinha. Fica ali com a gente... – disse a Maria Luisa.

Fui. Mesmo sem conhecer ninguém, eu precisava me enturmar, então não ir não era opção naquele momento. Estavam em quatro, duas meninas e dois meninos. Um deles era alto, bem magro, mas não prestei muita atenção em outros detalhes. O outro usava um boné branco, um suéter vermelho e tinha uma cara extremamente séria. Fixou o olhar em mim, porém não me dirigiu uma palavra sequer. "Ele é lindo, por que ele não fala comigo? Será que estou incomodando?", pensei.

No dia seguinte a Maria sentou próximo de mim na sala e me contou que um tal de Hugo não parou de falar sobre mim e que perguntou se eu estava solteira. E a primeira coisa que me passou pela cabeça foi "Hugo quem??????". E foi assim por uma inteira e longa semana. O que é estranho nisso é que enquanto a Maria me contava que o Hugo falava de mim, que queria me conhecer, que me achou bonita, eu sentia uma atração imensa mesmo sem conhecer ele, mesmo sem saber quem ou como ele era. Eu sentia por cada pedacinho do meu corpo que eu precisava conhecer esse Hugo.

O tempo passa, o amor nãoOnde histórias criam vida. Descubra agora