Aperte play e acompanhe a leitura ao som de "Pequena Flor - Gabriel Elias".
Anabela:
"O Hugo disse que achou linda". "O Hugo disse que quer te conhecer". "O Hugo disse para a gente apresentar vocês dois". O Hugo disse tanta coisa, mas no fim não disse nada – pelo menos não diretamente para mim. Foi me dando a impressão de uma pessoa sem atitude nenhuma, eu estava completamente ansiosa para saber quem ele era, para conhecer ele, mas ele falava, falava, falava de mim, mas não era capaz de vir conversar diretamente comigo?! Não fazia sentido para a realidade que eu vivia.
Virtualmente eu era a menina mais corajosa que existia, sério. Não seria novidade eu tomar a atitude com quem me interessava, então decidi pedir o número dele para a Maria e tentar o 'primeiro' contato definitivo.
Lembro que era sábado à noite, eu estava na igreja e Deus começou a falar comigo... Coisas boas estavam a caminho e eu precisaria estar atenta. Apenas duas luzes azuis iluminando o altar, todos prestando atenção na pregação e eu fui em seco mexendo na minha bolsa, pegando meu celular e digitando: "oii, o que você está fazendo hoje?". Demorou um pouco e meu celular vibrou "oii, quem é?". "É a Anabela. Peguei seu número com a Maria, tem problema?" "ahhh, oi. Não tem problema. Eu sai da igreja agora, tô voltando pra casa e você?". "Eu tô num culto também.".
Eu estava tão a fim desse garoto, mesmo sem saber o porquê, que eu desejava ardentemente conquistar ele. Como eu disse, não tinha vergonha em demonstrar interesse, quando eu sentia atração por alguém eu falava, mas com ele eu não podia, sabe? Eu sentia que ele era diferente de todos os outros e eu queria ter cautela, não queria sair correndo apressada e acabar enfiando os pés pelas mãos. Então o adicionei no MSN e pedi para uma amiga minha, a Bruna, que tinha mais experiência nesse negócio da conquista entrar na minha conta e conversar com ele fingindo ser eu. Enquanto ela conversava eu ficava como telespectadora da conversa dos dois torcendo para que ele se sentisse interessado por "mim". Claro que de vez em quando ela não podia conversar com ele, então eu tomava as rédeas, mesmo com uma insegurança danada. Depois de uma semana avisei que ela não precisaria mais falar com o Hugo por mim.
Lembro como se fosse ontem da foto de perfil dele. Estava sentado em um sofá bege, com uma janela de madeira branca fechada ao fundo, segurava uma zebra de pelúcia, estava com os cotovelos apoiados no joelho usando seu suéter vermelho e com seu boné branco com símbolo amarelo neon. Estava com um sorriso no rosto.
Hugo:
Se o meu interesse por ela era 1.000 antes, subiu para 1.000.000. Naquela época era difícil a guria tomar a atitude e ainda mais de uma forma natural. Começamos a conversar por MSN e no início ela era mais retraída, uns dias depois começou a ficar engraçada e divertida, disse que lembrava de mim ao ouvir a música "tô com fome" e confesso que fiquei sem entender, mas achei engraçado o fato dela lembrar de mim em algo tão tosco. Cheguei a me perguntar se era isso que ela me achava: tosco. A Anabela é escorpiana, não acredito em signos e nem entendo sobre, ela quem me contava tudo e dizia que o signo dela é misterioso, hoje eu entendo.
Eu comentava com as meninas da sala dela o quanto ela era sensacional. Eu queria colocar um sorriso no seu rosto o tempo inteiro, eu queria ser o motivo do sorriso dela. Em tão pouco tempo ela já me causava tanto bem que em todos os meus 14 anos de vida, até então, eu nunca havia sentido nada parecido. Eu queria conhecê-la de cabo a rabo, ela era tão interessante e tão diferente de todas que eu conhecia. Eu ficava olhando o Orkut da Ana, tantos depoimentos exaltando as qualidades e eu ficava imaginando quando seria o meu depoimento ali para ela. Entretanto eu não conseguia dar outro passo, não conseguia conversar pessoalmente. Ainda não havíamos trocado nem um "oi". Eu não conseguia esconder mais o quanto eu estava a fim dela, mesmo quem não sabia já começava a reparar na conexão que tinha quando um falava do outro.
Anabela:
Apesar de tudo, nosso contato era só virtual mesmo... Ele continuava falando de mim e eu continuava me apaixonando por ele, mas parecia que o contato físico entre nós dois era algo impossível. Pensei em começar a ignorar e deixar pra lá, mas como evitar uma situação que tomou conta de você por inteira? É complicado entender, nem eu entendo o que aconteceu, mas eu pensava nele direto, eu sorria com o coração quando me contavam algo que ele comentou sobre mim, quando subia a plaquinha no MSN "Hugo Fernandes acabou de entrar" eu já sentia uma vontade absurda de chamar ele e ficar conversando para sempre com ele.
Eu não era a única incomodada com essa situação de chove e não molha. Minha amiga Isabella era caruda, sabe? Dessas que não tem vergonha de nada mesmo e após uma semana do Hugo fazendo as meninas de pombo correio ela resolveu que iria mudar essa situação. Na saída da escola vi ela vindo com um rapaz, o mesmo rapaz que não falou comigo no recreio daquele outro dia. "Droga, esse é o Hugo?". Comparando o Hugo e a foto de MSN dele, não tinha nada a ver. Por foto ele parecia ser alto, musculoso... Pessoalmente ele era baixinho, deveria ter seus 1,65 cm, não tinha músculos, mas era magrinho.
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O tempo passa, o amor não
RomantizmPrólogo: "Anabela era uma menina que não queria mais sentir. Com medo de tudo o que havia passado, escapar para uma nova escola era a solução. Entretanto, ela não esperava que seria lá onde encontraria a sua maior confusão. Hugo, com seu jeito todo...