Aperte play e acompanhe a leitura ao som de "Sozinho - Caetano Veloso (Cover Ana Gabriela)".
Hugo:
Eu precisei pensar tanto se iria mandar algo ou não para a Ana e o que eu iria mandar... Eu sei como ela e o seu coração funcionam, é uma complexidade única e exclusiva dela. Qualquer vírgula colocada fora do lugar poderia quebrar o coração da Ana e não era isso que eu queria. Eu sempre quis ver a Ana bem, com o sorriso dela no rosto e correndo atrás dos sonhos que ela vivia me detalhando, mas agora, nesse momento, eu não poderia falar nada além do que foi dito. Não poderia falar "Ana, te amo, vamos voltar?" e eu sabia que ela não esperava isso, mas queria que uma amizade pelo menos se estabelecesse. Fazem 4 anos que optamos pelo fim e não tem como recomeçar agora, muita coisa mudou, eu mudei, ela mudou... Eu já machuquei outra pessoa por causa dela, não quero machucar mais ninguém e isso me inclui e a Ana também.
Negar que eu sinto algo forte por ela é hipocrisia, mas só sentimento não faz um namoro ou amizade dar certo. Já busquei esquecer, mas é como pedir pra sentir mais quando tu força alguma coisa. Eu pensei em ler e não responder, talvez fosse melhor para ela, ou talvez isso a fizesse ficar com a mente mais transtornada, eu não sei bem. Sei que quem acabou por ficar transtornado fui eu. Quando ela reaparece muita coisa muda dentro de mim cara. Eu começo a pensar nela mais do que deveria, começo a desejar vê-la, saber que ela está bem e eu até a desejo ao meu lado, mas quando eu estiver com o coração totalmente livre dos males que houve no nosso namoro. O mais foda nisso tudo é que ela "reaparece" quase todos os dias, mesmo não provocando isso, imagino nós dois juntos, no passado e num futuro... Confesso que o medo que ela me esqueça me atormenta diariamente, eu quero poder estar guardado num bom lugar naquele coração gigante dela e se um dia for para nos esbarrarmos, que seja para sempre dessa vez.
Anabela:
Eu tentei esquecer o Hugo, juro. Mas acontecia uma sabotagem do destino, da vida, de Deus... Quando troquei de cidade pensei "o que os olhos não veem, o coração não sente", mas essa frase é algo só para acalmar os corações doloridos e inconformados. Os olhos podem não ver, mas os sonhos trazem à realidade. Eu poderia passar um dia inteiro sem lembrar dele, mas quando eu deitava e dormia ele estava sempre lá... Um dos motivos de aceitar a proposta de sair da cidade natal era não ver mais o Hugo, era uma "fuga", mas eu sentia que isso me fazia pensar cada vez mais nele. A frase da Ana Carolina combina perfeitamente com toda a nossa história "e cada vez que eu fujo eu me aproximo mais". Quanto mais distante, mais vontade involuntária e necessidade de estar perto, mais presente ficávamos, mesmo em memória. E aí fica a questão: como esquecer alguém que ainda é tão presente na sua vida e no seu coração?
Posso fazer uma confissão? Mas sem julgamentos, por favor... Tenho medo do amanhã. Sei lá, saber que eu estou perdendo toda a juventude, uma fase tão gostosa na vida dele, compreende? Tenho medo de amanhã um de nós não estarmos aqui ou de já ter a vida toda encaminhada e só aí nos reencontrarmos. O meu desejo, mesmo, era viver todas as fases ao lado do Hugo. As boas, as ruins, a aprovação para ter a primeira carteira de motorista, a compra do primeiro carro, a festa de 18 anos, a formatura na faculdade, a primeira vez indo à praia dirigindo e cada nova "primeira vez" e mesmo sendo segunda, terceira ou quarta vez. Só queria poder estar lá. Eu torço para que o Hugo note, enquanto há tempo, que o que falta no coração dele sou eu e que em outra pessoa ele não vai encontrar o que eu proporcionei. Por esses e outros motivos que não aceito duas pessoas que se amem estarem distantes, compreendo que cada caso é um caso e às vezes é uma necessidade, mas no nosso não acredito que seja.
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O tempo passa, o amor não
Roman d'amourPrólogo: "Anabela era uma menina que não queria mais sentir. Com medo de tudo o que havia passado, escapar para uma nova escola era a solução. Entretanto, ela não esperava que seria lá onde encontraria a sua maior confusão. Hugo, com seu jeito todo...