Uma experiência punk!

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-Não, isso não é... punk. - O professor objeta, compreendendo que "punk" é uma gíria para "porreta", "irado". Agora o professor conseguiu me surpreender. - Assim como vocês, ele adquiriu consciência e até certo nível de cultura... Mas ele não conseguiu superar os flashes durante a fase da purificação. Ele começou a perder o controle com frequência, e a caçar humanos. Quando recuperava a razão, o estrago já estava feito. Ele foi perdendo a razão por períodos cada vez mais longos... Talvez alguns de vocês já tenham tido lapsos de consciência - ele olha atentamente para os alunos assustados. - Pois é assim que começa. - O Dr. Barringer aponta a batuta para o imortal morto na imagem. - Este daqui deixou um rastro de dez a vinte humanos ensanguentados, mortos, e estripados, toda vez que se descontrolou... Alguns dos humanos que ele atacou foram encontrados agonizantes, em transformação, ou mortos. Imaginem o estrago que ele deixou para nós consertarmos. Problemas e mais problemas... Só que as vidas perdidas não podem ser consertadas.

"Este exemplo em particular se refere a um estágio avançado de loucura pós-transformação... Nossas pesquisas indicam que os adolescentes transformados correm mais riscos de sucumbir aos flashes dos anos infernais e, consequentemente, das memórias humanas refratárias, do que os adultos transformados. Para jovens, como vocês, a raiz do problema está nos flashes... Se este daqui" - e aponta outra vez a batuta para a foto - "tivesse pedido ajuda... Ou se, na época, houvesse um programa como o que estamos implantando no Colégio Três Pinheiros... Talvez seu destino trágico pudesse ter sido evitado".

Sinto a preocupação de Sean me alcançar em ondas, enquanto ele se ajeita na cadeira, muito ereto. Ele sabe que, ultimamente, eu tenho tido alguns flashes do meu passado.

-Na verdade, é como acontece com os veteranos de guerra humanos que sofrem de Síndrome Pós-Traumática. - O professor prossegue alheio ao nosso "pequeno" drama. - Eles voltam da guerra para suas famílias aparentemente normais. Só que, de repente...

-...sacam a metralhadora e matam todo mundo onde menos se espera! - completa o viking, todo animado.

Sean fecha a cara diante da tentativa de piada.

-Quanto desperdício de sangue humano. - Mad Greeley zomba, por tabela.

Vicking e Mad batem as palmas das mãos, como jogadores de futebol americano se cumprimentando depois de fazerem touchdown.

-Somos aquilo que quisermos ser. - Eu aparteio, tentando tranquilizar Sean mais do que a mim mesmo. Todos me olham, sem entender. Então, forço-me a explicar: -Somos aquilo que lutamos para ser. Bons, ou maus, só depende de nós mesmos - olho de relance para meu irmão. Sean apenas me encara de volta.

Mad Greeley bufa; não entende a mensagem velada que estou passando para meu irmão, e mesmo assim quer dar o seu pitaco. Ele abre a boca para falar algo, mas Sean lhe dá um inesperado soco no ombro.

Mad Greeley decide ficar quieto.

-Deixem para trocar amabilidades durante o intervalo. - O Dr. Barringer sorri, complacente. Ele apanha uma de suas fichas de aula sobre a mesa.

-Nossas aulas seguirão um determinado roteiro. Acho justo que vocês saibam como pretendo proceder com vocês. "Quem somos nós"? A resposta a essa pergunta inclui a necessidade de aceitarmos o que somos... Aquilo em que nos transformamos. Também implica em revermos o processo de transformação de maneira controlada, antes de encontrarmos um objetivo de vida neste mundo. Alguma pergunta?

O silêncio é sepulcral. Apenas nossos globos oculares fazem barulho, girando de um lado para o outro... As pestanas batem, as mãos que escorregam sobre o tampo das mesas produzindo sons ora ásperos como lixa, ora deslizantes... Eu fecho os olhos tentando me livrar de todos os ruídos que assaltam meus ouvidos hipersensíveis. Ainda é difícil de bloquear... Especialmente, no estado de ânimo em que eu me encontro. "Aposto que se cahill Adriano soubesse a respeito dos meus flashes, não teria me escolhido para dar aulas à humana".

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