Sobre a Última Noite

Capítulo 7

- Eu achei que  você estivesse  trabalhando pra fora. Disse ainda fitando o vazio.

- Eu havia acabado de voltar quando Bill recebeu o chamado e eu reconheci o endereço.

- Não sei a  quanto tempo estavam lá ou quando chegaram mas  não imaginava que uma  guerra tinha  se instaurado no andar de baixo, quando os vi meu primeiro instinto foi me esconder. Confessei sem ânimo.

- Acredite, foi a melhor coisa que  você poderia  ter feito. Nós fomos o mais rápido possível mas eu estava louco de que alguma  coisa pudesse ter acontecido a  vocês, quando  chegamos os  homens tentaram se interpor e começamos a trocar tiros e no ápice do confronto flagrei dois deles  tentando subir e atirei sem pestanejar.

- Você não devia tê-los rendido? Disse  contrariada.

- Lilian eu não sou tão bom quanto você pensa e principalmente se alguém ameaça um dos meus; Eu acabei de conhecer meus  filhos e não permitiria que um bandido qualquer fizesse  alguma coisa que pudesse afastá-los de min.

 Uma áurea sombria se instaurou sob as últimas  palavras de Davis e eu me perguntei quão longe ele podia ir.

- De qualquer  forma eu fiquei agradecida que  você tenha estado lá, eu não sei o que faria, Charlie nem sequer está em Chicago.

- Ficou mesmo? Até onde eu sei  você não me queria na vida dos nossos filhos e isso inclui qualquer proteção que pudesse dar.

Davis me  lançou um olhar acusador enquanto adentrávamos a garagem do seu condomínio.

- Só precisamos das  bolsas pra os meninos, amanhã darei um jeito nas  malas. Ele não respondeu, apenas  pegou as sacolas e me entregou enquanto  carregava as cadeirinhas elevador a dentro. - Qual andar? Me atrevi a cortar o silêncio.

- Décimo quinto. Respondeu  categoricamente.

Entramos ainda em silêncio quando ele  depositou as  cadeirinhas no sofá.

- Eu vou trocá-los e  dar de comer, espero que eles consigam pegar no sono.

- Precisa de alguma coisa especial?

- Se não for atrapalhar gostaria que esquentasse as mamadeiras. Ele me olhou com uma expressão de descrença e então foi pra cozinha.  Retirei todo envolto de  casacos de Anna e Alex uma  vez que o apartamento de Davis estava mais que aquecido e então estendi uma  manta sob o sofá colocando seus descansadores de pescoço em uma  tentativa de  cama improvisada. Os dois tinham uma expressão que  deixava meu  coração apertado, pareciam desgastados e  terrivelmente  assustados completamente opostos aos bebês que  coloquei  na  cama ontem a noite.

- Aqui está, eu mantive um a temperatura morna e também fiz um chá calmante  caso precisem.

- Eles  não  tomam chás pré-prontos como  nós...

- Eu sei disso Lilian e minha empregada sempre compra ervas frescas. Disse em tom ríspido enquanto pegava Anna que recuou. - O que houve querida? Sou eu o papai... Anna continuou demonstrando resistência e parecia que ia começar a chorar , estendi meus  braços pra ela que não ofereceu resistência alguma.

- Davis ela só está assustada... Ele exibia uma expressão de confusão e frustração ao  mesmo  tempo. - Ela  não entende  que  você livrou ela de apuros.

Eu estava um pouco atrapalhada tentando alimentar as duas crianças ao mesmo tempo, coisa que nunca  fora  um problema pra min; Talvez  fosse  porque a presença de Davis me intimidava e os dois não paravam de se encolher em meus braços, ele insistiu mas dessa  vez com o Alex que apesar do medo não resistiu.

- O chá  pareceu  fazer efeito . Ele  disse enquanto eu observava com admiração Alex  tranquilo em seus  braços.

- Coloque-o de barriga pra  baixo ele dorme mais assim.

-  Lilian você é louca não é?

- Do que está falando?

- Acha mesmo que eu deixaria meus  filhos dormirem aqui embaixo enquanto durmo confortavelmente  lá em cima? Me acompanhe por  favor.

Subimos as  escadas em silêncio com as duas  crianças sob nosso peito até que ele me  conduziu pra uma porta marrom que ficava em frente ao seu quarto. Era um pequeno quarto de bebê, não  tão grande mas com  tamanho suficiente  pra um quarto de apartamento; Uma  parede estava pintada de azul e a outra de verde, também haviam dois berços brancos com roupas de cama azul e rosa, o chão era  todo colorido  por um  carpete de borracha próprio para bebês que estavam começando a engatinhar e tinham vários brinquedos além dos andadores ,  dava  pra perceber que o quarto tinha sido minunciosamente preparado com carinho.

-  Você preparou tudo isso?

- Sim, terminei no fim de semana. Não é  grande  coisa mas pra min seria o suficiente por enquanto e quando o juiz desse a sentença eu precisava estar preparado.

Toda minha solidariedade foi embora ao ouvi-lo pronunciar as últimas palavras; Colocamos os meninos  no berço e saímos pegando a babá eletrônica.

- Então estava  mesmo  falando sério? Perguntei com descrença.

- Você ainda não recebeu uma  intimação? Preciso ligar para o meu advogado e saber o que está acontecendo já que as coisas estão correndo a dias. Eu empalideci com a secura em sua voz.

- Davis nós podemos mediar e chegar a um acordo?

- Acordo Lilian? Eu não quero acordo eu quero meus  filhos e principalmente depois do que aconteceu hoje, tenho certeza que eles não vão estar seguros com você!

- O que está dizendo? Eu enfrentei muita  coisa pra que eles  nascessem! 

Saltei pra cima dele como uma  gralha louca.

- Tenho certeza que o acontecimento de  hoje contará a meu favor perante ao juiz, Lilian você pode ser uma ótima mãe mas tem de  reconhecer que as coisas fugiriam do seu controle.

- DAVIS COMO PODE SER  TÃO CRUEL?

- Lilian estou apenas sendo prático.

 Não havia  nenhuma emoção que eu pudesse extrair dos seus olhos naquele momento.

- O juiz não vai  te  dar a guarda e amanhã mesmo  procurarei um lugar onde  nós três possamos ficar.

- Você pensa que  vai embora outra vez? Ele riu demonstrando suas  verdadeiras intenções.

- Você não seria tolo... Me neguei a acreditar.

- Vocês vão ficar onde eu possa proteger vocês e no momento este é o melhor lugar. 

Davis andou em minha direção e  parou me olhando no fundo dos meus olhos.- Se sair daqui será sem os meus filhos.

- Você  não pode nos separar!

- Eu eu não quero. Disse em tom sarcástico. - Apenas estou dizendo que se você deixar a casa será sozinha e como você não parece ser uma mentirosa pelo menos no que diz respeito aos cuidados com nossos filhos , eu sugiro que se acomode em algum canto!