Felipe e Breno estavam impressionados com o que viram.
Haviam se passado apenas um minuto desde que estacionaram na calçada oposta ao portão principal da Escola Estadual Santa Helena. Esse pouco tempo já foi o suficiente para analisar o local: pessoas extremamente ricas e de linhagem honrada, como filhos de empresários, artistas e etc.
- Sua escola não é pública?
- Pois é, mas ela é a escola mais requisitada da região. Ela é financiada por um setor do governo que permite investidores, que, no caso, são os pais magnatas dos alunos. Ela é muito, MUITO, seletiva. É preciso fazer uma avaliação num nivel similar ao vestibular para entrar, ou claro, entrar por recomendação.
- E no seu caso...?
- Pode- se dizem que eu tenho muuuita sorte. Meu tio por parte de mãe é muito influente no mundo da economia. Ele começou a bancar eu e minha mãe, depois do problema com o meu ... com o meu pai.
- Entendi.
Era claro em Breno que ele gostaria de saber mais sobre o que havia acontecido, mas Felipe agradeceu profundamente por ele não ter tocado mais no assunto.
Breno segurava em sua mão um colar com um cristal que, se olhar bem atentamente, notava-se uma fraca luz sendo emanada dele.
- O que é esse colar ai?
- É um rastreador, ele consegue reconhecer auras de poder.
- Ele não deveria piscar toda hora, já que você é um Caraibano?
- Ele se acostuma com auras que o portador, e com auras que o mesmo considere próximas.
- Awnt, não sabia que já eramos "best friends"...
- Não seja estupido, provavelmente... sua aura deve ser tão fraca que ele não pode nem siquer captar.
Felipe, ignorando a habitual "delicadeza" de Breno, resolveu assumir para si que a razão seria a sua baixa experiência no controle de sua aura mágica.
- São duas e quarenta da tarde, todos devem estar se preparando para as atividades extra curriculares nas oficinas, se entrarmos agora...
Felipe congelou a fala. Ver, no meio de muitas Mercedez e Lamborghinis, um Gol 2014, com a pintura mal cuidada, estacionar logo a frente roubou o resto das palavras.
Do carro desceram olhos tão azuis e intensos quanto um céu de verão, cabelos negros, com ondulações finalizando um percurso de vários fios brilhantes e lisos, lábios naturais, assim como todo o resto. Felipe conhecia cada traço da garota a muito tempo atrás.
- Precisamos entrar AGORA.
- Perai, e o plano?!
- Te explico depois, vamos!
Felipe apanhou da mochila de Breno uma jaqueta jeans e usou a mesma para cobrir seu rosto. Breno, sem entender nada, somente seguiu o menino.
Felipe já esbarrava nas coisas naturalmente, não olhar o caminho havia aumentado suas habilidades. Era estranho perceber que seus reflexos ninja não funcionavam no momento.
Depois de quase ser atropelado por uma Kawasaki, e novamente ser salvo por Breno, Felipe chegou ao portão principal da escola. Haviam doze catracas, uma ao lado da outra, barrando a entrada. Janelas de vidro revestidas de fumê impediam quem estava de fora ver o rosto da pessoa que, de longe, era o melhor funcionário da escola.
- Vamos precisar falar com o Will.
- Quem é Will?
- Ele é o porteiro da escola. Sempre esqueço meu cartão- passe, e ele sempre me libera. SE ALGUÉM NÃO TIVESSE SAIDO CORRENDO talvez eu teria ele em mãos hoje.
- Eu nunca disse que pretendia usar a porta principal.
Breno fechou os olhos e permaneceu como uma estátua por uns dez segundos. Felipe já estava preparado para ver algo explodir ou se transformar em algum fenômeno da natureza assassino. Mas, para sua surpresa, a única coisa que explodiu foi sua mente.
Estavam agora os dois meninos parados no corredor principal da escola, a uns trinta passos do portão principal.
Breno estava segurando o braço esquerdo de Felipe, enquanto levava o punho livre ao nariz, apressadamente.
- Will com certeza teria problemas se eu soubesse fazer isso antes...
- Vamos, precisamos descobrir onde os mascarados vão agir. Tem alguma ideia?
Felipe se sentia meio desnorteado, quer dizer, aquela era a escola dele. Se fosse para alguém saber alguma coisa, teria de ser ele.
Mas desde o momento em que Felipe conheceu todo esse mundo, a verdade por trás dele, parecia que ele não poderia confiar em nada do que pensava que sabia. Afinal, o que ele sabia?
Reparando no ambiente, Felipe viu os mesmos rostos esnobes de sempre seguindo para a mesma direção, relaxados, pois para eles o tempo é quem precisa esperar.
Algumas expressões corriam apressadas, com quilos de cadernos e blocos de notas em mãos, na mesma direção. Eram os raros e valiosos alunos matriculados pelo teste de admissão.
Breno olhava desesperadamente no rosto de cada pessoa, procurando alguém.
- Como seu amigo é exatamente?
- Diferente. Tem mais pessoas além dessas na escola, certo?
- Sim. Aparentemente todos estão indo para o auditório número um, acredito que esteja acontecendo uma reunião...
- Vamos nessa!
Ainda com a mão protegendo o nariz, Breno pôs- se a seguir os grupos de adolescentes, com Felipe logo atrás.
Virando em mais três corredores diferentes, eles finalmente chegaram numa sala gigante. Era exatamente como um grande teatro, com várias poltronas vermelhas posicionadas contra um imenso palco, cheio de equipamentos profissionais de audiovisual e com alguns adultos operando os mesmos.
Felipe percorreu o ambiente com os olhos. Reconheceu Sara Yamamoto, uma colega de classe que era de uma família tradicional japonesa, que estava ao lado de Larissa Ribeiro e de...
Era ela novamente. Mais hipnotizante do que nunca, com seus olhos fixados nos de Felipe.
Teresa dos Santos era a menina mais inteligente e bonita de todo o primeiro colegial de toda a história de Santa Helena, gabaritando o teste de admissão.
Ela era descolada e ao mesmo tempo comportada, seguindo as regras quase tão prioritariamente quanto seguia seus sentimentos.
Breno fazia o mesmo, procurando seu suposto amigo, quando percebeu os mesmos olhos azuis encarando Felipe e ele mesmo.
- Ela é a menina que fugimos no estacionamento, não é?!
- Nós não fugimos...
- Você correu dela mais rápido do que quando fomos perseguidos pelas sombras mascaradas.
Felipe pretendida retrucar o comentário, quando foi interrompido por um ruído de microfone, seguido da voz suave porém firme da diretora da escola.
" Espero que todos estejam tendo uma ótima tarde. Convoquei todos aqui para que possamos prestigiar uma visita ilustre em nossa escola. Com vocês um dos mais renomados e reconhecidos, sociólogo e historiador do Brasil e do mundo: Doutor Sérgio Motta".
Entre luzes e aplausos, uma figura amistosa e simpática assumiu o microfone, cabelos grisalhos penteados para trás, óculos vermelhos e grandes, que combinavam com a gravata lisa de mesma cor. Sua pele era morena e enrugada, olhos puxados e escuros e um sorriso largo e sincero.
- Uma boa tarde a todos os senhores e senhoras presentes nessa maravilhosa escola. É realmente muito reconfortante retornar a minha antiga área de aprimoramento intelectual, que hoje é habitada por meus netos queridos e seus colegas brilhantes, aos que dirijo a palavra neste momento.
Dois jovens morenos, com cabelos negros e lisos se ajeitaram nas poltronas da frente, possivelmente os citados netos do doutor.
Enquanto Sérgio Motta continuava seu discurso, Felipe pode perceber que o cristal de Breno brilhava fortemente, numa cor azul celeste.
- Hey Breno, seu colar tá piscando... mais que antes.
Breno serrou os olhos enquanto levou os dedos ao colar brilhante.
- Estranho.
- O que significa?
- Significa que estamos dividindo a sala com uma aura espiritual muito intensa, monstruosa, na verdade.
- O que?! AQUI?!
- Fala baixo, idiota- Breno socou o ombro de Felipe, e respirou fundo- Sim, provavelmente um Caraibano experiente, aqui e agora. E muito forte.
- Acha que pode ser o seu amigo?
- A luz de agora é azul. Meu amigo é bem mais... Ele teria outra cor.
- Tipo vermelho?
Agora o cristal brilhava desesperadamente num tom vermelho berrante, como uma sirene de uma viatura. A luz piscava cada vez mais rápido, até chegar a se tornar contínua,e finalmente... Se apagar.
E nesse exato momento toda a escola começou a tremer violentamente. Todos se seguraram nas poltronas e uns nos outros para se equilibrar.
Quando finalmente os tremores cessaram, surgiu no centro do palco um pequeno broto, que, depois de uns segundos, se tornou rapidamente um broto de flor gigante, num tom roxo elétrico. A flor logo desabrochou, liberando no ar uma nuvem amarela que colocou para dormir grande parte das pessoas presentes no auditório.
A fumaça aparentemente possuía alguma propriedade especial, pois algumas pessoas na sala pareceram não ser afetadas pelo efeito. Felipe se incluía nessa lista (benção ou maldição?).
A nuvem havia desaparecido, exibindo no lugar várias e várias sombras com máscaras esqueléticas brancas apontando lanças, flechas e facas para os alunos da platéia que permaneciam acordados e, surpreendentemente, para o pobre velhinho desesperado no palco.
Felipe tentou encarar, assustado, Breno, quando notou que o mesmo, havia se tornado um dos reféns.
Os netos de Sérgio, três garotinhas do fundamental, Cristian Oliveira (artilheiro do time de futebol da escola) se encontravam na mesma situação. Haviam, no meio de tantos olhos, dois em especial. Eles olhavam diretamente para os olhos de Felipe, como havia acontecido a alguns anos atrás. Teresa o encarava com os olhos gritando por socorro.
As luzes falharam por três segundos, e retornaram novamente, revelando um auditório silencioso. Sem sombras, sem reféns, sem Breno...
Felipe se via no meio de duzentos alunos sonolentos levantamento do chão frio, desnorteados demais para gritar, correr ou siquer entender o que estava acontecendo. Todos tremiam, desesperados.
O objetivo das sombras agora era claro: sequestrar Caraibanos jovens. Mas por que?!
Elas haviam sequestrado em média dez alunos, Breno e um senhor idoso.
Felipe era o único Caraibano consciente no local. O único que poderia ter feito algo para impedir, mas seus reflexos e seu "super pulo" não respondiam, seu corpo ainda tremia...
Parece que, desta vez, Felipe teria que descobrir como salvar Breno, Teresa e os outros, usar seus poderes e derrotar as sombras totalmente sozinho.
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O Chamado do Vento Uivante
Adventure" Quando se recebe um dever do destino, é necessário atendê-lo. Quando o vento uivante sopra, é seu dever escutar." O Brasil esconde diversos segredos, dos seus tempos mais antigos até os atuais. Um problema foi causado por conta de um desses segr...