O que aconteceu depois? Felipe não ficou lá para ver.
Quando todos se deram conta de que alguns alunos e um palestrante famoso sumiu misteriosamente do auditório... os status do Instagram que os diga.
As sombras ousaram sequestrar o sequestrador de Felipe, e ele levou isso para o pessoal. Mas por onde ele começaria?!
Felipe começou a correr em direção à saída de emergência. Ele imaginou que ter uma visão mais ampla poderia lhe dar uma dica de para onde as sombras poderiam ter ido.
Pelas frestas que o teto da escola tinha, Felipe pode perceber que o céu parecia muito escuro, considerando o horário em que estavam. Quando ele finalmente alcançou a saída entendeu o porquê.
Toda a escola estava coberta por raízes e cipós. Havíam espinhos e trepadeiras bloqueavam todas as ruas e saídas. Árvores de seis metros de altura se erguiam dos asfaltos, como se estivessem ali a anos.
- Ai caramba!
Enquanto Felipe observava o cenário caótico pode perceber que havia uma pessoa completamente enrolada por cipós, suspensa do chão e prestes a retornar a ele.
- Super pulo! Super pulo! Vamos lá, funciona...
Ele pulava descontroladamente, na esperança de acordar seu poder, que só poderia estar assistindo a uma aula de história para dormir tanto assim.
O corpo enrolado se contorcia no ar, fazendo com que os cipós que o sustentava começasse a ruir, de pouco em pouco.
" Respire. Você precisa estar sobre controle, se realmente quiser controlar a situação..."
Uma voz adulta ecoou na mente de Felipe, uma voz que era familiar, mas de um modo vago. Nesse instante Felipe ficou imóvel, um pouco assustado, mas resolveu se acalmar e seguir os concelhos da voz misteriosa.
Ele fechou os olhos e respirou profundamente, tentando pensar no que fazer. Foi quando sentiu algo queimar em seu bolso. Meio relutante, Felipe aproxima a mão do bolso e retira dele uma bolinha de papel completamente normal que, ao desamassa- la, pode reconhecer o desenho que havia feito em seu quanto, quando tudo isso começou.
O desenho da silhueta de uma ave, feito enquanto Felipe estava inconsciente, havia despertado em sua mente uma palavra...
- TACAPE!
O grito de Felipe ecoou pelo ar, no mesmo instante um vulto voador surgiu nos céus, passando ao lado de Felipe e seguindo em direção ao corpo prestes a cair.
Como instinto, Felipe começou a correr na mesma direção, o mais rápido que podia. Seu corpo tremia novamente, a energia de seus poderes havia retornado. Ele saltou, no mesmo instante em que o vulto cortava o cipó que sustentava o corpo enrolado. O corpo foi caindo em alta velocidade, mas foi perfeitamente agarrado por Felipe em pleno ar, como se tudo fosse delicadamente coreografado.
Felipe abraçou o corpo fortemente, tocou o chão e, depois de uma cambalhota, parou agachado no meio da rua.
Como se estivesse despertado de um transe, Felipe recuperou os sentidos, soltando bruscamente o corpo no chão, que com um estrondo abafado disse "Ai".
- Puts, desculpa. V- você tá bem?!
Felipe tentou remover os cipós do corpo ao chão, que gemia encolhido, mas a planta estava muito apertada.
O vulto voador pousou ao lado de Felipe, revelando ser um belo (e realmente muito veloz) Falcão- peregrino. A ave olhava atentamente para Felipe, algo nos olhos dela se mostrava dócil e amigável (o que impediu Felipe de sair correndo de medo). Felipe não sabia como, mas tinha certeza que ela atenderia ao nome "Tacape".
Vendo a dificuldade de Felipe em retirar a planta enrolada ao corpo, Tacape começou a ajudá-lo com suas garras afiadas e seu bico.
De cipó em cipó, Felipe finalmente reconheceu o uniforme azul e os All Stars preto, característico de seu porteiro favorito.
Will parecia assustado, sua roupa estava rasgada e suja, os cachos de seu cabelo estavam bagunçados e cheios de folhas e galhos. Até sua barbicha engraçada havia sido cortada irregularmente, deixando o rosto do jovem rapaz comparável ao de alguém que se perdeu numa floresta selvagem.
- Pirralho? É você?!
- Eai Will, você tá legal?
Will levou sua mão direita a cabeça, ele ainda parecia um pouco tonto.
- Eu tô... Meio grogue. Onde a gente tá?
- Humm... na frente da escola.
- O quê?!- Will olhou ao redor e coçou os olhos, incrédulo.
- Pois é, não dá tempo de te explicar. Preciso que você entre na escola e ajude o pessoal a se proteger.
- Ei, ei ei. E você?! Tá pensando que não notei suas faltas do nada?! Você não tá se metendo em coisa errada não, né?
Felipe refletiu se ser descendente de uma tribo milenar mágica e estar fugindo de sombras macabras atenderiam ao conceito de " coisa errada" de Will.
- Fica tranquilo, eu faltei por... Problemas familiares. Como é que você... Se enrolou assim?
- Péssima piada. Eu... eu não me lembro direito. Estava no meu intervalo de turno... ai quando voltei pra portaria os seguranças estavam dormindo e tinham...
Os olhos de Will arregalaram, como se estivesse vendo um fantasma. Felipe já poderia imaginar o que havia acontecido.
- Você viu sombras?
- Sim.. eram horríveis e... Perai, você também viu? Ai caramba, eu tô ficando maluco!!
- Calma, calma. Tá tudo bem, o que você viu é verdade. Só me conta o que mais você lembra.
- Elas usavam umas máscaras de ossos, e também tinha um muleque branquelo...
- Moleque branquelo?
- É, ele aparentemente comandava os manos sinistros. A última coisa que me lembro e dele estendendo a mão em minha direção e depois... tudo ficou preto.
Felipe começou a ficar mais preocupado. Ele precisava encontrar Breno e os outros urgente!
Tacape piou, um som alto e que ecoou pelo quarteirão, e puxou a camisa de Felipe.
- Ei, o que foi?!
" Siga- o", disse a mesma voz na mente de Felipe.
- Você sabe para onde ir?
- An?
- Não Will, tô falando com ele.
- O p-pássaro?
Tacape fez um sinal positivo com a cabeça, o que assustou Will e tranquilizou Felipe.
- Tá legal, tem algo muito errado nisso aqui. VOCÊ TÁ FALANDO COM UM FALCÃO!
- Ok, Tacape. Pode me levar até eles?
Tacape levantou vôo como um foguete, planando na direção da avenida principal.
- Droga, ele é rapido demais... Will, você tem uma moto, não é?Não era tão simples seguir um Falcão- peregrino, a ave mais rápida do mundo, montado na garupa de uma Bis, ainda mais com vários troncos, raízes e árvores tomando conta da estrada.
A moto realizava curvas brutas, desviando de várias árvores colossais, enquanto Felipe mantinha os olhos focados em Tacape, guiando Will aos berros.
Eles viajaram até uma área onde já não era possível saber se aquilo antes era uma parte da cidade ou uma local de preservação ambiental.
Havia uma passagem entre dois grandes paredões feitos por trepadeiras, que se encontravam acima da passagem formando, na verdade, um grande arco.
Tacape pousou no topo do arco, indicando o fim da viagem.
- Você sabe em que lugar estamos?
- Parei de reconhecer São Paulo desde o momento em que viramos aquela esquina- Felipe se aproximou do arco, notando que no chão jazia um portão de ferro, praticamente fundido ao solo, graças a grama que havia crescido sobre ele.
Tacape pousou no solo e começou a bicar algo. Will se aproximou da ave e reconheceu mais um objeto ocultado pela vegetação.
- Felipe, olha só isso. É uma placa!
Will removeu as raízes da placa ao chão, que dizia "Parque da Cantareira, Núcleo Pedra Grande".
- Caramba, aqui é o parque?!- Felipe realmente se surpreendeu com a informação. Aparentemente toda São Paulo havia se tornado uma extensão da reserva.
- O que tá acontecendo aqui, mano?!
- Eu não consigo entender também, mas só sei que eu vou resolver! "Tacape, você consegue mostrar o caminho de volta para o Will e entrar em contato com o pessoal do asilo?"
- Pera lá ou tampinha, você tá mesmo cogitando a idéia de entrar nesse lugar sozinho, me pondo no banco?
- Confie em mim Will, só eu posso fazer isso no momento.
- Você sabe que não vou sair daqui sem você, não é? Sou maior de idade aqui, seu responsável.
- Will, você tem 20 anos.
- Legalmente maior de idade!
Felipe pensou que mandar Will sozinho de volta para a escola seria arriscado. Não saber a real causa da dominação vegetal da cidade o preocupava.
- Ok, quer me ajudar né?! Vá com Tacape encontrar meus amigos. Preciso que você diga a eles que a operação não saiu como planejado e que estou esperando por eles aqui.
"Eu sei que nada disso parece real, que é impossível imaginar que eu possa fazer alguma coisa para mudar isso. Está sendo difícil pra mim também. Mas, tanto eu como você, precisamos aceitar a realidade. Existem alunos em perigo em algum lugar dessa reserva e eu sou o responsável por salvá-los. Sou um Caraibano e é isso que o destino uivou para mim".
Felipe agachou-se e, com toda a força, saltou para além do arco de entrada.
- Depois de tudo isso, vou exigir uma licença. É papagaio, vamos fazer o que o tampinha pediu.
Felipe adentrou o território da reserva. A luz do sol não alcançava o solo, já que enormes Pinheiros cobriam todo o céu.
O crepúsculo só piorava o sentido de orientação de Felipe. Ele não sabia exatamente para onde estava indo, não sabia até quando seus poderes se manteriam ativados ou se sobreviveria até que sua avó e os outros chegassem. Sua maior dúvida e preocupação era de encontrar os reféns tarde demais, ou pior, encontrar as sombras e não saber o que fazer. Ele não tinha nada para usar como defesa, nenhuma instrução de combate ou algum tipo de golpe especial indígena. Ele estava completamente vulnerável.
A mata começava a parecer realmente selvagem. Os sons dos pássaros, grilos e outros insetos impediam Felipe de identificar a aproximação de um suposto inimigo. A temperatura começava a abaixar, a medida que os passos do garoto percorriam a quase extinta estrada de terra.
Num certo ponto da trilha, Felipe assumiu estar perdido. Já não havia mais luz alguma. O tempo estava se acabando e as esperanças de Felipe também.
"Tá legal, preciso pensar".
Felipe começou a procurar rastros das sombras ou pelo menos de animais. Era muito estranho não ter encontrado nenhum no percurso.
Foi quando o primeiro grito ecoou pela noite.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Chamado do Vento Uivante
Adventure" Quando se recebe um dever do destino, é necessário atendê-lo. Quando o vento uivante sopra, é seu dever escutar." O Brasil esconde diversos segredos, dos seus tempos mais antigos até os atuais. Um problema foi causado por conta de um desses segr...