Comigo e mais ninguem

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Depois que passei por Rodney, no caminho para a enfermaria comecei a pensar, era isso, Gabriele não estava mais com ele, então Gabriele não tinha mais nada a perder! Era questão de tempo até ela contar para os meus pais, agora que a escola inteira já sabia, eu estava realmente lascado. Entrei na enfermaria e uma senhora que tinha a aparência de ser muito querida me atendeu. - Vamos ver como você esta meu querido! Ela fez o que tinha que fazer, me deu um comprimido para dor, e perguntou se eu queria ser dispensado da aula naquele dia. Respondi que não, afinal o que eu iria dizer em casa, e também não iria querer deixar Gabriel sozinho na escola. Todos já estavam nas salas de aula, então peguei minha mochila, que o guardinha tinha pegado para mim e fui para a aula da professora Yoda. 

Não deu outra, assim que bati na porta e pedi licença para entrar, aquele mar de olhares me perfurou, alguns cochicharam e alguns riram. Entreguei um bilhete feito pela enfermeira para a professora e sentei em minha carteira. Rebeca me encara com um ar de "eu te avisei que Rodney não era boa pessoa" e cochichava com a sua amiga. Não prestei a atenção em nada na aula, minha cabeça estava em tudo o que estava acontecendo e meu corpo sentado ali. Rodney tinha contado para a escola inteira que eu tinha ficado com Gabriel, minha irmã estava por cima novamente, e meu pai me caçava era só questão de tempo até aquela bomba toda explodir na minha cabeça. Naquele mesmo dia eu teria aula de Educação Física conjunta com Gabriel, se eles me vissem com ele iria confirmar o que Rodney tinha gritado no pátio. Então eu não poderia ficar perto de Gabriel.

O Sinal tocou e fui para a próxima aula. Logo mais seria o intervalo e eu teria que conversar com Gabriel a respeito de ficar próximo na escola, não poderíamos nem conversar, ou realmente os alunos iriam acreditar em Rodney, depois eu iria espalhar para a escola que Rodney disse aquilo de raiva por que Gabriel estava me defendendo. Era isso, pelo menos na escola eu iria poder ficar tranquilo, Gabriele eu cuidava em casa! Fiquei tão compenetrado em meus pensamentos nessa aula também que nem vi passar! O Sinal tocou e sai porta a fora, tinha que falar com Gabriel sem que ninguém da escola nos visse, assim que ele saiu da sala de aula fiz sinal para ele me seguir até o banheiro da biblioteca, aonde dificilmente alguém ia, entramos e eu tranquei a porta com o pé. - Você esta bem? Por que não foi para casa? Nossa, eu nem consegui prestar atenção nas aulas, vem aqui. Ele veio em minha direção. - Gabriel escuta, precisamos conversar. Ele ficou me olhando, e parou antes que pudesse me abraçar. - Não podemos ficar juntos aqui na escola, temos que fazer todos acreditarem que Rodney disse aquilo por raiva. Então a gente se vê depois da escola, na rua ou na cachoeira onde ninguém possa ficar nos vendo. O que você acha?  Gabriel me encarava, pela primeira fez o brilho do olhar dele tinha sumido, era frio e sem aquela magica. Ele me encarava como se tivesse dito algo nojento sobre a sua pessoa. - Você é muito mane mesmo cara! Você vai se importar mesmo com o que esses moleques vão dizer? Você realmente vai fazer esse papelão, pra não ser falado pelas costas por um bando de caipiras? Gabriel falava e gesticulava com rispidez. - Não você não me entendeu Gabriel, eu não estou me separando de você, ou sei lá o que isso significa, eu só não quero que as pessoas nos vejam mais juntos. Assim o boato dos gays da escola vai ser esquecido! Gabriel me olhava incrédulo. - Você é mesmo um otário Bruno, mesmo! Parece que tudo o que Yara nos disse não te serviu para nada, parece que assim que você colocou os pés na cidade, deixou pra lá tudo o que passamos nesse final de semana, só porque você tem medo de ser quem você é! Aquilo me magoou, então o encarei e perdi a cabeça. - Ah claro, esqueci que você não levou uma surra, esqueci você não tem um pai militar machista e autoritário, que você não tem uma irmã que esta prestes a estragar a sua vida! Agora ele me olhava com nojo, podia ver o desgosto em seu olhar. - E você esqueceu que me meti na frente pra te defender, que te protegi do Rodney, e faria com qualquer um por que te amo. Mané! Gabriel puxou a porta fazendo com que eu saísse do caminho.

Tudo o que estava acontecendo não era o bastante, não era mesmo! Sentia um nó na minha garganta, tinha perdido a única pessoa que realmente se importava comigo naquela hora. O sinal tocou, e eu fui para a aula de E.F. minha turma inteira me encarava, mas ninguém falava nada, queriam realmente provas do que Rodney tinha dito. Quando entrei no ginásio, Gabriel não estava lá, a turma dele também me encarava. Olhei pra cada um deles e fui me sentar na arquibancada. Tinha sido dispensado da aula de educação física pela enfermeira. Rebeca veio de braços dados com a sua amiga escudeira fiel. - Podemos nos sentar? Não respondi, e elas sentaram mesmo assim. - Olha Bruno, eu te avis... Me levantei, peguei a minha mochila e sai ginásio a fora. Elas ficaram me olhando, e pude até mesmo ouvir alguns palavrões.

Então fui a busca de Gabriel, procurei na biblioteca, nos banheiros, e no pátio da escola. Será que ele teria ido embora? Pulado o muro talvez?  Sentei no banco de costume da cantina, e ao longe avistei Catraca, Marcha-lenta e Pablo. Não sabia se eram amigos ou naquele ponto queriam se vingar pela expulsão de Rodney. Não arrisquei saber, fiquei sentado esperando aquele período passar, só querendo ir pra casa, só querendo deitar e esquecer aquele dia maldito. Agora eu entendi o tamanho da minha preocupação, o medo de estar de volta! 

O sinal tocou e segui para a minha aula, Rebeca agora me olhava com cara de nojo, e suas amigas também, alguns garotos da minha sala, que realmente não sei nem o nome, riam e faziam gracinhas quando eu passava. Pronto, Rodney ferrou com a minha vida. Meu celular vibrou e era uma mensagem de texto. "Agradeça ao Gabriel por mim, 9,7 no trabalho de geográfica! já estou com saudades, amo vocês". Guardei o celular no bolso! "Obrigado Yara, valeu!" pensei comigo mesmo, me fazendo sentir pior do que eu estava.

Finalmente era hora de ir para casa, esperei na saída, junto com a minha bicicleta, pra ter certeza que Gabriel tinha ido pra casa e realmente ele não passou pelo portão. Peguei minha bike. E fui para casa. Quando cheguei, minha mãe estava na cozinha fazendo o almoço, e Gabriele estava sentada na sala, era a primeira vez que via Gabriele depois que ela se trancou no quarto. Ela me olhou, e fingiu que eu não estava ali, tinha tristeza no olhar dela, e poderia jurar que ela tinha perdido peso. - Bruno que bom que você chegou, hoje à tarde eu preciso de uma ajuda! Minha mãe gritava da cozinha. - Desculpa mãe, mas hoje não vou poder. Tenho que resolver um probleminha. Minha mãe me encarou, eu odiava contraria-la, mas eu precisava ir falar com Gabriel, - Tudo bem eu peço para a sua irmã. - Obrigado mãe, você é incrível! - A beijei, e subi para o meu quarto, larguei meu material, e abri a janela do meu quarto para entrar um sol e poderia jurar que tinha visto Rodney parado do outro lado da estrada olhando pra a minha casa.

Depois de almoçar, peguei a minha bicicleta e fui até a casa de Gabriel. Cheguei e toquei a companhia, e um senhor abriu a porta. - Pois não, no que posso ajudar meu jovem?! Ele parecia ser uma pessoa muito querida. - Tudo bom, sou amigo do seu filho, Precisava falar com ele, ele se encontra? - Ah não deu sorte garoto, ele acabou de sair daqui com aquela amiga dele que tem aquele cabelo esquisito. - Rita? - Ah acho que é isso! Agradeci, e segui de bicicleta pensando em ir até a cachoeira. Mas não precisei ir muito longe, eles estavam sentados na esquina da casa vermelha. Assim que Gabriel me avistou ele fechou a cara, pegou seu skate e se levantou. - Não precisa fazer isso! Eu disse me aproximando, e descendo da bicicleta. - Olá Rita, como vai?! Rita sorriu, mas podia ver em seu rosto que ela estava preocupada. - Bem garotos, acho que vocês precisam conversar, eu preciso ir, Gabe meu gato, a gente conversa mais tarde. Ela se levantou e por de trás de Gabriel fez um gesto do tipo "Vai falar com ele".

Gabriel se sentou novamente, e eu sentei do lado dele. - Cuidado Bruno, vão te ver comigo, e dai você vai confirmar os boatos que somos um casal. Eu o encarei. - Somos? Perguntei. Agora era ele que me encarava e eu continuei antes de uma resposta. - Então Gabriel, eu andei pensando, Se a escola esta falando de nós, temos que fazer isso direito. Realmente, você tem razão. Não irei deixar um bando de gente tosca ditar a minha vida como meu pai tenta fazer. Eu me levantei e me apoiei com o joelho esquerdo de frente pra ele. - Gabriel, se vamos passar por isso, que seja juntos. Quer namorar comigo? Quer ser meu namorado, e remar contra todo mundo? Gabriel estava me olhando fixo. - Você se arrependeu mesmo do que disse no banheiro Bruno? Ou esta fazendo isso apenas para se desculpar! - Eu não estaria aqui pedindo para a pessoa que mudou a minha vida, pra ficar comigo e mais ninguém, se realmente não tivesse me arrependido.

Gabriel agora sorria como de costume, e seu olhar voltou a ser o mesmo, doce e gentil. - Eu aceito! E me abraçou ali mesmo na calçada. Agora éramos eu e ele contra todos.

Enfim sós. (Um romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora