Olhares no corredor

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        Finalmente chegou o dia de partir. Já não via Yara há alguns dias desde a nossa despedida nos portões da escola. Gabriele parecia dopada, não falava, não sorria, não me xingava, o que era o mais estranho, talvez tenha sido por cauda da bebedeira secreta dela. Nosso pai bebe socialmente, mas abomina quem bebe demasiado. Se ele descobrisse que ela chegou naquele estado em casa, ela levaria a mudança inteira nas costas correndo atrás do nosso carro.

A cidadezinha ficava a algumas horas de distância, estávamos no carro, nossa mãe sentada acompanhando as árvores que passavam tão depressa. Nosso pai falava algo sobre uma casa no centro da cidade. Gabriele e eu estávamos sentados no banco de trás, eu imitava minha mãe, e minha irmã não parava de digitar no seu celular o mais rápido que podia, talvez estivesse pedindo socorro ou um resgate imediato a uma das suas amigas esquisitas. Fui o caminho todo pensando como seria a escola, como seria a casa, mas resolvi na metade da viagem não pensar em mais nada, simplesmente limpar minha mente. Afinal, estávamos chegando e logo iria descobrir tudo isso!

Meu pai deu um urra de felicidade, e isso chamou nossa atenção. Tínhamos finalmente chegado à tal cidade. À primeira vista ela parecia hospitaleira, uma fachada de boas-vindas, muitas árvores, casinhas muito bem cuidadas. Alguns garotos andavam de skate, eles tinham a minha idade ou mais, e foi quando um deles acompanhou o carro com o olhar, até perder de vista em uma curva. Meu pai estacionou o carro e todos descemos, ele todo animado abriu os braços e disse:

- Nossa casa família. Vai ser aqui que iremos morar!

A casa era muito bem cuidada, não digo que era melhor que a antiga, mas era bem cuidada. Tinha dois andares, bem pintada por fora e parecia ser nova! Gabriele soltou um "uhuul" sem animo algum, minha mãe já começou a esvaziar o carro.

Dormimos em colchões no chão na primeira noite pois ainda não havia chegado o caminhão de mudanças com todas as coisas da casa. Gabriele parecia mais feroz do que todos os outros dias que convivi com ela, mantinha a distância sempre que podia. Minha mãe me chamou para que ajudasse ela a arrumar as coisas na cozinha, que era muito grande, maior que nossa antiga cozinha, acho até que era o maior cômodo da casa. Ela começou a falar sobre a nova escola:

- Hoje à tarde iremos ver a sua matrícula, tudo já foi encaminhado, só tenho que ir assinar alguns documentos. - Disse ela arrumando as mesmas panelas que guardava outro dia.

Perguntei o porquê tinha de ir junto, já que não iria assinar nada... ela apenas completou que eu deveria ir conhecer minha nova sala e colegas. Eu me vesti como de costume, nada demais, entrei no carro com minha mãe e fomos em direção ao centro da cidade. A escola era pequena, em relação à minha antiga. Fiquei pensando que o ensino também seria fraco, mas já estava terminando o 3° ano, só tinha que aguentar mais um ano e iria para a faculdade aturar minha irmã. Chegamos, carro estacionado, um porteiro minúsculo e magricela abriu a porta principal para minha mãe e eu. Os corredores eram limpos e tinha alguns alunos que vagavam por ali, foi quando reconheci aquele grupo de garotos, e o mesmo que havia perseguido o carro com o olhar quando chegamos à cidade me fitou, não consegui acompanhar o olhar por muito tempo, algo nele me incomodava, algo nele me fazia sentir vergonha, mas não era uma vergonha ruim.

Odiretor era um homem corpulento e tinha um bigodão, parecia mais um açougueiroem um paletó do que um diretor de escola, muito puxa-saco em razão do meu paiser alguém de importante cargo na cidade, como os papeis já tinham sidoencaminhados e a cidade era pequena chegou aos ouvidos de todos que eu seria omais novo e ilustre aluno com pai importante na cidade! Papéis assinados,boas-vindas dadas, agora era só esperar o final de semana passar e aquilo seriaminha nova rotina diária. Ao sair da sala os corredores estavam vazios, nenhumaluno sequer, a não ser o pequeno guardinha que tinha aberto a porta mais cedo.Entramos no carro e voltamos para casa. Algo me incomodava, algo que nunca meincomodou... Estava curioso para descobrir quem era o garoto do corredor.

Enfim sós. (Um romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora