sixteen

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Eu sempre detestei velórios.

É sempre um clima tão pesado e ruim que assim que chego no local, sinto minhas pernas vacilarem e uma vontade enorme de vomitar toma a minha boca. Engulo em seco e seguro com mais força no braço de Sol, a quem estava servindo de apoio para que eu não tropeçasse no ladrilho e caísse. O mesmo me oferece um sorriso triste como se dissesse "Se você cair, eu caio junto".

Na sala em que estava o caixão, havia além minha mãe que estava sentada num banco próximo e apoiava a cabeça nas mãos, alguns parentes que eu não me lembrava os nomes e alguns amigos de Tyler. Também havia uma moça loira e jovem chorando muito próxima ao corpo de Tyler. Julia era o nome dela, me lembro com dificuldade, ela era uma amiga de Tyler.

Com a glória dos anjos, o caixão estava fechado e assim me poupando de ter que olhar para ele. Não queria o ver daquele jeito, sem vida, quero me lembrar para sempre de Tyler com aquele sorriso amigável no rosto.

Vou até a minha mãe e toco levemente seus cabelos loiros. Ela se levanta num pulo e me abraça repetindo "Margot" várias vezes. Seus olhos estavam vermelhos e tinham marcas profundas de noites não dormidas. Eu me sentia olhando no espelho, porque era exatamente assim que minha aparência estava.

- Oi mãe. - É tudo que consigo falar, mas parece o bastante porque ela começa a chorar.

Depois de uma eternidade, ela me solta e abraça Sol que chora junto com ela.

Reviro os olhos - que estavam secos - e me sento encarando firmemente o caixão. Era um pensamento louco mas tudo que eu queria era que ele se levantasse dali e desse risada das nossas caras surpresas.

Claro, aquilo jamais aconteceria. Tyler estava morto e eu precisava aceitar.

Mas por quê é tão difícil aceitar a realidade?

- No que está pensando? - Sun aparece minutos depois e se senta ao meu lado.

- Em Tyler. Em Castiel. Em você. - Ele sorri. - Resumindo, tudo.

Castiel havia lido minha mensagem mas nenhuma resposta tinha sido enviada. Aquilo me dava nos nervos e me deixava cada vez mais ansiosa. Ele estava bem? Daniel tinha feito algo com ele? Como ficaria sua situação a partir de agora? E Lysandre? E Kentin? E Nathaniel? Eles continuariam
operando? Eles também esqueceriam Castiel quando ele fosse desligado?

Minha mente processava mil perguntas ao mesmo tempo mas não encontrava respostas para nenhuma delas.

Sol parece perceber o que se passava dentro de mim.

- De qualquer maneira, foque em ficar bem. Esqueça ele. - Ele diz mas sua voz não demonstra nenhum tipo de
confiança. Sun não parecia acreditar no que dizia.

- Você sabe que é impossível.

Ele assente com a cabeça.

- Sei muito bem.

❌❌❌❌❌❌❌❌

Nos dias que se seguiram, só tive forças para sair da cama até o banheiro ou a cozinha.

Sol dormia comigo todas as noites, passava a maior parte do comigo e tentava me animar como podia. Minha mãe aparecia de vez em quando trazendo alguma comida ou livros para eu me ocupar. Como ainda minha transferência para a escola da cidade não tinha sido realizada, eu não estava a frequentando. Eu também havia perdido a vontade de retocar as minhas mechas azuis, que agora se encontravam num tom estranho de verde. Não que isso me importasse a essa altura do campeonato.

Quatro semanas haviam se passado e os dias eram todos iguais e cinzas, - mesmo que sempre estivesse um Sol infernal do lado de fora - eu estava a beira de um surto. Eu não conseguia me desligar nem um momento, até o sono eu estava perdendo.

now you see me (Castiel)Onde histórias criam vida. Descubra agora