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Acordou mais atordoado ainda. Seu tronco desnudo estava suado e seu cabelo pregado em seu rosto. A respiração descompensada indicava que acabara de sair do pesadelo.

Era sempre a mesma coisa.

Estava em sua antiga casa, com toda sua família, sentado no colo de sua mãe, enquanto ela cantava e mechia em seu cabelo.

No segundo seguinte ela se levantava e ia embora sem olhar pra trás. Ai o caos se instaurava e Yoongi se via perdido no oceano. Completamente submerso por toda aquela água densa e infinita. Se movia descontroladamente na água, mas não conseguia nadar e acabava apagando pela falta de ar.

Esfregou os olhos no escuro do quarto e saiu da cama. Ficar ali só ia piorar sua claustrofobia.

O relógio na parede do corredor marcava 4:43 da manhã e o sol ameaçava sair ao longe.

A casa era um completo silêncio e tudo que se escutava era o canto dos pássaros lá fora.

Yoongi foi então até seu "refúgio". A sua sala, o seu cantinho, onde podia ser ele mesmo. Onde podia ter medo e ser fraco. Ali não tinha a imprensa, nem seu pai, nem ninguém. Só ele e seus pensamentos perturbados.

Trancou a porta de aço atrás de si e respirou aliviado o ar frio dali. Ligou as luzes e os computadores. A grande tela na parede central ainda mostrava o rosto de sua mãe e de sua irmã.

Sua cabeça estava cansada e até confusa. As coisas na empresa iam bem, mas a pressão sobre ele só aumentava. Seu pai continuava cobrando mais do que Yoongi podia oferecer. Sempre focado no lucro, no resultado.

Seus dedos doíam e seus ombros também. Há dias não tinha um folga nem um tempo pra só existir. Tudo que fazia era em torno do dinheiro que ganhava. Yasar tinha o ensinado bem.

Yoongi então fez algo que não fazia há muito tempo. Jogou. Jogou todos os jogos que tinha e pelo tempo que quis. Pra muitos, aquilo podia parecer idiota, mas pra ele era uma forma de dar voz a quem ele realmente era: um moleque de 24 anos que não sabia muito bem o que estava fazendo na vida.

-Bom dia. -Yoongi disse ao entrar na copa.

Alyia e mais duas empregadas colocavam a mesa.

-Bom dia, senhor. -Elas disseram em uníssono.

-Podem tirar o dia de folga. -Ele disse enquanto se assentava. -Eu cuido do almoço. Voltem amanhã pela manhã.

-Sim, senhor.

Elas trocaram olhares curiosos entre si, mas não ousaram dizer uma palavra. Terminaram de servir a mesa e saíram.

Yoongi tirou o celular do bolso pra perder tempo, enquanto esperava por Aurora. Estava disposto a amenizar a situação com ela, pelo menos era o que pensava.

Os minutos foram passando e nada da garota aparecer.

-Alyia! -Chamou a menina.

Ela logo apareceu na copa.

-Vá acordar Aurora. -Ordenou.
-Ela não está, senhor.
-Já saiu?
-Na verdade, ela ainda não voltou.
-E onde ela foi?
-Foi visitar o irmão.

Yoongi pensou um pouco.

-Sabe se ela volta hoje?
-Não sei, senhor.
-Tudo bem, obrigado.

Alyia voltou aos afazeres e Yoongi bufou. Não era justo que a garota saísse assim pra ver sua família e ele não.

"Mas isso é culpa sua, seu idiota" Pensou. "Você não visita seus irmãos porque não quer."

Terminou de comer e voltou pra sua sala. Decidiu tirar aquela sexta-feira pra ficar em casa e assim o fez. Ignorou todas as ligações de Yan é apenas mandou uma mensagem.

"Não vou hoje. Não me procure nem ligue mais."

Se deitou no grande sofá e encarou o teto.

Quando era pequeno costumava idealizar seu futuro e pensar em utopias onde era quem queria ser. E anos depois viu que nada daquilo tinha se tornado realidade. Concluiu que estava infeliz.

Era rico, casado com uma mulher linda, tinha uma casa maravilhosa e o emprego dos sonhos. Mas nada disso importava agora. Porque nada, nenhuma de suas conquistas era verdadeira.

O dinheiro que tinha pertencia a seu pai, pelo menos boa parte dele. Seu casamento era uma farsa. Não gostava da esposa e ela não gostava dele. A empresa estava no nome de seu pai e o sucessor por ordem era Yura. Nada era real.

Aquele não era seu sonho.

Nunca quis um emprego convencional. Nunca quis terno e gravata. Queria poder compartilhar sua história, suas opiniões e suas filosofias através da arte. Queria viver uma vida simples, longe do domínio ganancioso de seu pai. Só queria ser ele mesmo.

Ele era o, clichê, pobre menino rico.

Aurora voltou a pisar na mansão tarde da noite. E relutante. Não queria voltar, mas Jaden não queria que ela ficasse sob o mesmo teto que seus pais.

Entrou na casa e viu tudo na maior escuridão. Estava quase na escada quando Yoongi apareceu.

Ela quase não o reconheceu com aquela touca azul e um moletom cinza. Só o via de terno, desde o dia do casamento. E agora ele parecia... Normal?

-Achei que já tinha colocado seu plano de fuga em ação.

Yoongi já estava esperando uma resposta grossa, mas a menina riu.

Seu dia havia sido bom e, consequentemente, Aurora estava de bom humor.

-Sinto em te chatear, mas ainda não, Min.

Ele enfiou as mãos no bolso e tomou coragem pra dar seguimento a conversa.

-Seu dia foi bom?

Aurora ergueu a sobrancelha diante daquela pergunta. Ele nunca quis saber, o que mudou agora?

-Foi ótimo. -Disse depois de analisar a expressão de Yoongi. -E o seu?
-Melhor que de costume.
-Que bom. -Ela se limitou a dizer e deu mais um passo na escada. -Bom... Eu vou indo, boa noite, Min.
-Espera. -Pediu. A garota o encarou e ele limpou a garganta, nervoso. -Não vai comer nada?
-Não tô com fome.
-Mas eu cozinhei. -Ele disse baixinho.
-Você sabe cozinhar? -Ela riu. -Então eu vou ser obrigada a experimentar.
-Prometo que não vai se arrepender.

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