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Aurora saiu atordoada da sala. Cambaleando sobre os saltos finos ela foi até o elevador. Sentia um peso enorme em suas costas, era como se tudo tivesse caído sobre ela. Todo o peso que ela vinha ignorando há dias era completamente impossível de ser ignorado agora. 

Yoongi a seguiu, em silêncio. Entendia que era o melhor a se fazer. A menina precisava de tempo pra assimilar tudo, inclusive o fatídico fim daquele casamento, tão eminente que o assustava.

Os dois entraram no elevador e quando as portas se fecharam Aurora desabou. Não conseguia nem queria controlar as lágrimas. Em sua cabeça ela tentava buscar por motivos que justificassem a indiferença de seu pai, mas nada parecia responder seus questionamentos.

Respirou fundo quando viu que estavam perto do primeiro andar e passou as mãos no rosto, tentando limpar um pouco do rastro de rímel que descia por suas bochechas.

Yoongi cuidadosamente depositou sua mão nas costas dela e a conduziu até o lado de fora, onde o carro já esperava por eles. Abriu a porta pra ela, depois a seguiu pra dentro.

-Pra casa, por favor. -Pediu ao motorista que logo pôs o carro em movimento.

A menina voltou a chorar, dessa vez mais contida, mas as lágrimas gordas caíam sem dó.

-O que tem de errado comigo, Min? -Perguntou de repente, cortando o silêncio que os envolvia.

-Como?

-O que tem de errado comigo? -Repetiu. -Por que tudo na minha vida da errado? Por que eu não consigo o que quero?

-Não tem nada de errado com você. -Ele disse. Sentia um urgência de abraçá-la, mas se conteve. Não queria afastá-la. -Erradas são as pessoas que não reconhecem seu valor.

Ela riu sem nenhum humor.

-Eu tô mesmo no fundo do poço. -Balançou a cabeça em negação. -Min Yoongi me consolando? É mesmo meu fim.

-Eu tô me esforçando. -Ele disse calmo.

A paisagem já começava a se tornar familiar e, ao fundo, já se podia ver a mansão.

Assim que o carro estacionou Aurora saiu, tirando os saltos, e praticamente correndo pra dentro da casa. Se trancou no quarto, mesmo ouvindo Yoongi pedir pra que ela não se isolasse.

-Merda!

Ele bateu uma, duas, três vezes na porta, mas não teve resposta.

-Aurora, por favor. -Disse em tom de súplica. Não entendia bem porque se importava, mas não conseguia nem considerar a possibilidade de deixá-la sozinha lá dentro, ainda mais no estado em que se encontrava.

-Vai embora! -A voz abafada veio em resposta.

-Eu não posso. -Ele respondeu com a cabeça encostada na porta.

-Claro que pode! -Outro grito. -E é melhor ir logo, não perca seu tempo comigo.

Yoongi respirou fundo e bateu mais uma vez.

-Por favor.

-NÃO!

-Você sabe que eu tenho uma cópia da chave, não sabe?

Houve um momento de silêncio e, de repente, a porta foi bruscamente aberta.

-O que você quer? -Ela ralhou ainda fungando.

-Eu não sei. -Ele disse calmo. -Só não posso te deixar sozinha agora.

-E por que não, Min?

-Porque você tá triste.

-E desde quando você se importa?

-Desde a época da escola. -Ele disse com sinceridade. -Eu achei que ia esquecer você depois de um tempo, mas parece que a vida não quer me deixar nem cogitar essa hipótese.

Aurora ficou sem resposta, talvez porque a cabeça doía demais pra pensar, ou talvez porque nunca tinha visto Yoongi tão vulnerável antes.

-Você só tá dizendo isso pra...

-Pra quê? -Ele a interrompeu. -Me dê um bom motivo pra mentir pra você.

-Eu... -Ela tentou, mas acabou desistindo. -Min...

-O que?

-Porque não disse nada antes?

-Dizer o que?

-Dizer que gostava de mim ou sei lá. -Ela disse séria.

Foi a vez de Yoongi se ver sem palavras. Ela sabia?

-Eu sei que existem coisas que você não me diz. -Aurora continuou. -E eu não sei que diferença elas podem fazer agora, mas fariam anos atrás, porque você não era o único.

Ele ergueu os olhos só pra se certificar de que aquilo não era um brincadeira de mal gosto. Parte dele queria acreditar, mas a outra dizia que não tinha a menor possibilidade de ser verdade.

-Eu só to dizendo que podia ser diferente. -Aurora disse, depois de ver que ele ainda não estava pronto pra responder. -Uma vez, uma única vez, eu me imaginei assim, casada com você e foi uma imagem feliz. -Ela suspirou, sentindo o nó em sua garganta crescer. -Mas não era pra ser assim. Eu não queria que fosse assim.

-Não precisa ser assim. -Foi a única coisa que ele conseguiu formular. -Eu... nós podemos mudar isso se você quiser.

Ela riu sem humor e baixou o olhar.

-Agora é tarde. -Disse. -Acabou, Min. Você tá finalmente livre de mim.

-E quem disse que eu quero me livrar de você?

Yoongi viu com toda clareza que aquele era o momento. Se não fosse honesto com ela e consigo mesmo, corria o risco de perder a melhor parte de sua vida, mesmo não sabendo disso.

Sentia um turbilhão de emoções de uma vez só. Queria gritar e chorar ao mesmo tempo, nem sabia por onde começar. Respirou fundo e jurou pra si mesmo que só saia dali depois de dizer e ouvir tudo que precisava.

-Aurora, -tentou começar. Ela o encarou, também ansiosa pelo que viria. -eu não sou bom com essas coisas, na verdade eu sou péssimo. -Riu sem humor, mas ela continuou estática. -Eu tenho pensado muito nisso ultimamente, em nós... Merda, eu não quero acabar assim. Digo... você não precisa ir agora, as coisas ainda estão muito bagunçadas e...

-Me dá um bom motivo pra ficar. -Ela disse baixinho. -É só isso que eu quero.

Ele engoliu em seco, mas não tinha coragem de dizer, nem pra ele mesmo.

Yoongi tomou o resto de coragem que ainda habitava seu corpo e a puxou pra perto, num abraço apertado.

-Eu quero você por perto... nem que seja num casamento falso. -Disse relutante. Não porque era mentira, mas porque feria seu orgulho. -Eu quero você. -Repetiu em afirmação. -Sempre quis e não to disposto a perder agora. Por favor, fica.

O nó que insistia em se manter na garganta de Aurora se desfez e ela chorou. Era um misto de alívio e medo. Nunca se sentiu daquela forma. Era como se as palavras de Yoongi tivessem aberto uma caixa onde vários sentimentos se escondiam.

Nenhum dos dois queria admitir tão cedo, mas eles sabiam que tudo o que havia acontecido naquele dia era o fim dolorido pra um começo necessário.

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