Poemas rotineiros

Vida boa

18h de sexta-feira. Final de expediente. João vai para casa depois de um dia cansativo de trabalho, feliz com a chegada do final de semana. 

Chega em casa. Liga as luzes. Prepara seu jantar e senta no sofá para comer sua refeição sozinho em frente a TV. Após o jantar lava a louça. Toma um banho e volta para a TV. Ver um jornal, novela, futebol, seriado.

Até aí é apenas mais um dia rotineiro, como qualquer outro em sua vida. Mas hoje, algo estava errado. Percebe que foi apenas isso que sua vida se transformou: rotina. Uma sequência dos mesmos acontecimentos dia após dia.

Mesmas tarefas no trabalho há anos, mesmo caminho, mesma casa, mesmos móveis, mesmas pessoas. O que aconteceu para sua vida se tornar aquilo? Haveria algum problema com ele?

Olhou sua agenda e viu os compromissos do dia seguinte. Almoço na casa da mãe, barzinho com os amigos. Quase a mesma coisa toda semana. As vezes trocava o barzinho por um cinema, teatro ou passeio no parque.

Ficou olhando nas redes sociais a vida de alguns de seus antigos amigos, alguns tinham ido morar no exterior, outros se tornaram empresários bem sucedidos e, boa parte, assim como ele levava uma vida simples, sem grandes altos e baixos. No meio daquelas postagens também viu notícias sobre pessoas doentes, guerras, enchentes, mortes. E começou a pensar que muitas pessoas ficariam felizes com uma vida monótona como a dele. Mais do que isso, ele estava feliz com a vida dele.

Percebeu que não era errado sonhar com algo melhor, com aventuras, com o que não se tem. Mas era errado se martirizar e desejar aquilo que nem se quer de verdade.

E daí que ele tinha um emprego médio? E daí que não vivia grandes aventuras? Ele tinha um emprego, tinha saúde, uma boa família, bons amigos. Para ele aquilo tudo já bastava.

Decidiu deixar aqueles pensamentos de lado e foi dormir um sono tranquilo por ter descoberto que era feliz.