Capítulo 3

404 15 19
                                    

Depois daquele dia, aquele assunto ainda não voltou a ser abordado apesar de eu querer tocar nisso sempre que falava com ela, mas sabia que não devia dar o primeiro passo para entrar nessa conversa novamente. Da última vez eu fiz isso, as coisas saíram completamente o contrário do que estava planejado e deu tudo errado.

O tempo foi passando, Luciana a cada dia se mostrava mais ansiosa com os preparativos para seu casamento. A cada novo encontro ela tinha uma novidade: ou era sobre uma prova de vestidos, experimentação de docinhos, tipos de decoração... Ela sempre tinha algo a comentar sobre isso.

Fizemos alguns shows, participações em programas de TV e inúmeras gravações para diversos canais do YouTube. Voltei à Holanda para matar a saudade de minha pequena menina algumas vezes, sempre por menos tempo do que eu gostaria.

Até que voltei para o Brasil e viajamos para Brasília. Luciana, que se sentaria ao meu lado no avião pediu para que Aline trocasse de lugar com ela, alegando que gostaria de sentar ao lado da janela. Me ofereci para trocar de lugar, na esperança de que ela não saísse do meu lado, mas a mesma recusou e passou para o assento a minha frente, dando seu lugar a Aline perto de mim.

A viagem foi relativamente curta, em vista a todo o tempo que eu costumava passar dentro de um avião quando viajava para a Holanda. Já na recepção do hotel, nosso empresário nos comunicou:

- Lissah como está com a Antonella, fica no quarto 211, no sexto andar, sozinha com a neném. Karin e Aline, quarto 213, também sexto andar. Luciana e Fantine, quarto 219, no sétimo.

- Mas Pablo, não posso ficar no quarto com a Karin? Eu gostaria de ensaiar alguns arranjos novos que estive pensando e achei que ficariam ótimos na voz dela...

- Isso não vai ser possível, Lu... Karin e Aline me pediram para reservar um quarto com colchões especiais, pois estão com dores nas costas devido a viagem. Não tenho como pedirem para trocar as camas agora, sem avisar nada...

- Mas...

- Desculpa, Lu. Você vai ter que dividir o quarto com a Fantine mesmo.

Ele se retirou, para ajudar Lissah a entrar no elevador junto de suas bagagens e a pequena menina no colo e Luciana e eu ficamos sozinhas na recepção.

Eu me sentia profundamente magoada, por ela tentar me evitar assim a todo custo, mas não demonstrei. Apenas segurei na alça de minha mala e me dirigi ao elevador que se encontrava parado no térreo.

Entrei no mesmo e percebi que Luciana se encontrava parada no mesmo lugar.

- Você já vai subir? Posso segurar o elevador.

- O que?

- Subir, para o quarto. Descansar. Você já vai?

- Ah sim... Vou.

Ela recolheu sua bagagem do chão e andou até o elevador. Recolhi meu braço que segurava a porta e apertei o botão do sétimo andar.

As portas rapidamente se fecharam e eu respirei fundo.

- Me desculpa por isso... – fiquei surpresa com sua fala repentina.

- Te desculpar pelo que?

- Por estar tentando a todo custo te evitar...

- Não posso esconder que isso realmente me magoa. Mas não posso impedir que você se afaste de mim, então...

- Leonardo anda muito estressado com algumas coisas. Ele acha que você pode tentar algo a qualquer momento...

- Apesar de ser a minha vontade, eu não faria isso...

Ela virou seu rosto para mim e quando abriu a boca para falar algo, o sinal sonoro do elevador nos indicou que estávamos em nosso andar.

As portas foram abertas e nós duas saímos do mesmo, procurando pela porta do quarto 219, que se encontrava ao final do corredor. Como o cartão magnético que destravava a porta estava comigo, não a esperei. Adentrei o cômodo e percebi o quão bonito e bem decorado o aposento era.

Escolhi a cama da esquerda, pois a cama oposta se encontrava mais próxima da porta que nos levava a varanda e eu sabia que Luciana sempre gostava de dormir nas camas que dessem a ela alguma visão do céu.

Soltei minha mala no chão, ao lado de minha cama e percebi que Luciana ainda não havia entrado no quarto. Fui em direção a porta e a ouvi, falando em seu celular.

- Você precisa confiar mais em mim. Se eu estou falando que estou com você e até aceitei o seu pedido de casamento, não entendo o porquê de toda essa insegurança.

Ela ficou em silêncio por alguns instantes e então continuou:

- Você quer ficar com raiva por causa disso? Você pode ficar. Eu não tenho como controlar o que você está sentindo. Eu não tenho como controlar o que ninguém sente. Cada um sabe dos próprios sentimentos. Ou não... – a última frase ela disse em um tom de voz muito baixo, quase como que se desejasse que a pessoa do outro lado da linha não a escutasse.

Senti cada pequeno pelo de meu corpo se arrepiar com essa fala dela, mas precisei me afastar da porta rapidamente, pois ela havia encerrado a ligação e já se encaminhava para o quarto.

- Você deixou a cama perto da varanda para mim?

- Sim... A não ser que seu hábito tenha mudado. Se preferir posso trocar.

- Não... Eu ainda amo dormir observando o céu. Obrigada por isso.

- Dividir o quarto comigo pode ter suas vantagens. Eu sou um amor e muito gentil. – Brinquei, fingindo estar convencida, o que fez ela soltar uma gargalhada que aqueceu meu coração.

- Se eu soubesse disso, não teria reclamado lá embaixo.

Meu sorriso foi morrendo aos poucos e ela percebeu.

- Desculpa Fanta, eu não quis...

- Tudo bem. Vou tomar um banho.

Abri minha mala e peguei uma roupa qualquer e me dirigi ao banheiro que se encontrava ao lado do pequeno armário que fora disponibilizado para nós duas, a deixando sozinha no quarto.

Eu.Where stories live. Discover now