1.

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Carolina sentiu o chão afundar sob seus pés.

O suor brotava em sua testa, a respiração entrecortada pelo esforço da fuga tornando ainda mais doloroso e cansativo cada passo. Não ousava olhar para trás, pois temia não ter mais forças para continuar se o fizesse. Então, a dor a alcançou com uma fúria implacável e ela caiu sob seu próprio peso afundando seu rosto na areia. Seu ombro latejava, enquanto algo quente e pegajoso encharcava suas roupas.

Meio tonta, percebeu que a areia fina e branca estava se tornando vermelha e compreendeu o que havia acontecido. Levara um tiro.

— Não... — balbuciou com lábios trêmulos, compreendendo dolorosamente que sua curta vida havia chegado ao fim.

Virou-se sofridamente e sentiu a areia invadir o ferimento causando um terrível desconforto. O céu azul e límpido lhe preencheu os olhos, enquanto uma lágrima solitária escorreu por sua face alva com a certeza de que a dor logo acabaria. Poderia levantar e tentar correr novamente, mas sabia que naquelas condições não iria muito longe. Além disso, não era justo que ela sobrevivesse, enquanto o seu Bento havia perdido a vida.

Sentiu um aperto ao lembrar da vida que sonharam em dividir longe de toda a podridão que circundava o padrasto e que jamais aconteceria. Não fazia sentido encontrar a liberdade sem ele.

Ouviu passos se aproximando e desviou o olhar do céu para encarar seus carrascos, ou melhor, sua carrasca. Ela tinha o rosto de uma Vênus de Milo com longos cabelos loiros presos em um rabo de cavalo que chegava até a cintura, usava um elegante terninho preto que a fazia parecer mais alta do que realmente era. Uma mulher de beleza impressionante, uma criminosa como seu padrasto, uma assassina que logo teria o seu sangue nas mãos.

A areia cedeu com barulho sob os passos dela e Carolina sentiu o sangue jorrar para fora de seu corpo com mais intensidade. Queria ser corajosa, mas estava morrendo de medo. No fundo, sempre soube que morreria pelas mãos dela.

Seu olhar embaçado buscou os olhos da morte, mas só encontrou um par de lentes escuras que refletiram seu próprio rosto cheio de areia e sangue.

— Me mate! — pediu, sentindo os batimentos cardíacos se intensificarem.

A assassina pegou algo no bolso da calça, um canivete.

— Facas não fazem seu estilo... — sorriu Carolina, sentindo um gosto metálico em sua boca, surpresa com sua própria coragem naqueles momentos finais.

A assassina a ignorou.

Como sempre, nenhum traço de emoção era visível em seu rosto bonito e pálido. Ela encarou o objeto por alguns segundos, a luz do sol refletindo na lâmina prateada, fazendo Carolina imaginar a frieza do metal penetrando seu coração, pondo fim a sua agonia.

— Que seja, acabe logo com isso! — pediu novamente.

O sangue jorrava para fora de seu corpo trazendo-lhe um torpor mental, mal podia se concentrar no rosto alvo e sem emoção dela, nem no que o capanga às suas costas dizia com expressão aflita. Fechou os olhos por um segundo e, quando voltou a abri-los, percebeu que alguém estava caído ao seu lado.

Com horror, percebeu que o canivete da assassina havia, finalmente, ido de encontro a um coração. Estava enterrado até o cabo no peito do capanga.

Crimes do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora