21.

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I

O motor do carro roncou alto quando o motorista pisou mais fundo no acelerador forçando-o a avançar mais rápido pelas ruas escuras e desertas. Carla e Carolina sacolejavam no banco traseiro com as mãos atadas às costas. Ao lado da loira, um dos capangas de Santiago mantinha uma pistola semiautomática Ruger apontada para suas costelas. No banco do carona, ao lado do motorista, outro capanga segurava uma pistola Bereta, o que a fez se lembrar do filme Duro de Matar, já que aquela era arma que o protagonista usava. Achou engraçado pensar em filmes na situação em que se encontravam, mas logo voltou ao foco. A Bereta também era a pistola de sua preferência, embora usar as mãos fosse sempre a sua primeira opção. Para ela, nada se comparava a emoção do combate corpo a corpo.

Um solavanco a jogou em cima de Carolina e a moça gemeu ao bater a cabeça no vidro da janela.

— Você está bem? — Carla questionou, voltando ao seu lugar. Ajeitando-se da melhor forma que podia.

O brutamontes ao seu lado lhe enviou um olhar atravessado e fincou um pouco mais o cano da arma em suas costelas. Ocultando uma careta de dor, ela se voltou para ele com um sorriso distorcido.

— Quando isso acabar, vou fazer você engolir todas as balas dessa arma.

Ele lhe enviou um rosnado em resposta junto com um sorriso de superioridade pelos papéis que exerciam naquele momento, mas afastou a arma de suas costelas e ela se voltou para Carolina repetindo a pergunta, enquanto notava a expressão de dor em sua face.

— Vou sobreviver. Irei curtir muito os quarenta minutos que ainda tenho de vida — respondeu ela sem conseguir evitar o sarcasmo e notou uma leve ruga no canto da boca de Carla, um meio sorriso fugidio.

— Devia ter me obedecido e ficado no quarto — Carla a repreendeu. Ela havia voltado a ser fria, inexpressiva e assustadora.

Carolina a olhou magoada, pois ir até a sala havia sido um impulso de seu coração preocupado com o bem-estar dela.

— Duvido muito que ficar no quarto me mantivesse...

— Protegida — Carla completou. — É provável que não, já que Santiago foi bem enfático em afirmar que nosso caso e envolvimento neste... — seus olhos se fecharam brevemente como se buscasse a palavra correta e Carolina completou a frase como ela havia feito segundos antes.

— Plano diabólico?

— Eu ia usar a palavra "circo", mas acho que "plano diabólico" também serve. Enfim, ele foi categórico em afirmar que estávamos nisso juntas. Dificilmente, Marcos deixaria isso passar. Aliás, seria estupidez se o fizesse. Acabaria por se mostrar fraco diante de seus associados, já que lhe poupou a vida uma vez.

Era o que realmente pensava, mas não conseguia deixar de sentir um pouco de raiva do chefe por ter arrastado Carolina junto naquela história.

— Ele disse que havia provas... — Carolina a fitou com intensidade, recordava-se bem de suas próprias palavras ao afirmar, noites antes, que ela não era do tipo que traía.

Carla capitou a dúvida em seu olhar e isso a abalou um pouco, pois sabia que tudo que tinha feito ao longo daqueles treze anos à serviço de Marcos e o que viesse a fazer no futuro, por mais bem-intencionado que fosse, sempre seria pesado e avaliado diante dos olhos de Carolina. Isso, claro, se ela viesse a aceitar o seu amor, já que tudo que tinham até aquele momento era apenas sexo. Todavia, para Carla, era a realização de seus sonhos mais puros.

— Elas existem — afirmou. — E, tenho certeza, são bem mais comprometedoras do que imagino.

Carolina olhou, através da janela, para as poucas estrelas no céu, sentindo o medo crescer em seu íntimo e descobriu o quanto ele podia ser mais intenso quando se temia pela vida de quem amava. O medo que sentiu, meses antes, quando Marcos quase a matou, não era nada comparado ao medo que sentia naquele instante por si mesma e, principalmente, por Carla.

Crimes do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora