Capítulo 2

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Terça-feira - 22/02/2016; 09:30. Manchester, Inglaterra.

Banheiro lavado: Conferi.

Café da manhã pronto e na mesa: Conferi

Trabalho da faculdade pronto: Conferi.

Carro preto estacionado na frente da casa: Con...o que?

Olho pela janela da sala, um carro estacionando em uma das vagas de Arthur e franzo o cenho. Ele não me disse que teríamos visita hoje para o café da manhã. De qualquer modo, arrumo as almofadas da sala pela ultima vez, e vou para o meu posto na cozinha e espero ser anunciada se for o caso dele precisar me apresentar.

Tento repassar a lista das pessoas que tem o costume de o visitar para o café da manhã, e concluo que ninguém vinha o visitar nesse horário. Sempre foi o momento sagrado de Dr. Rodwell. Deve ser algo muito importante. Descido repassar todos os afazeres na minha cabeça e dou garças a Deus por hoje ter pouca coisa, preciso terminar um trabalho para semana que vem.

Escuto a voz de outro homem que não é de Arthur e aquilo me intriga ainda mais. Dr.Rodwell sempre detestou reuniões no café da manhã, diz que é um péssimo jeito de se começar um dia e que significa que o dia irá ser ruim. O que me choca ainda mais, é que os dois estão rindo. Uma pena que não consigo entender o que eles falam. Olho o relógio e sei que vou acabar atrasando algumas coisas mais...sobressalto, quando escuto Dr. Rodwell me chamando.

Caminho em passos largos, confiantes e lentos, sempre com a cabeça erguida e os braços para frente do corpo. Isso é a postura correta, que Arthur me instruiu a fazer quando me anuncia. Porém, tudo isso congela no momento que estou na sala e vejo o tal homem misterioso. Ele é alto, moreno, barba por fazer e tem um belo porte que diz que malha todos os dias da semana. Seu olhar é penetrante, e o que surpreende é que ele me olha com um olhar intrigante, como se fosse anormal. Deve ser o cabelo e minha pele tão branca que parece que eu rolei na farinha, sem contar as inúmeras sardas e manchinhas vermelhas que tenho pelos braços e rosto.

-Essa é Ísis Maillard, a moça que te falei pelo telefone. Ela é responsável por toda a casa e devo dizer que faz um belíssimo trabalho – faço uma pequena reverencia e por dentro fico feliz com o elogio. – Maillard, esse é meu filho mais velho, Owen Rodwell, ele irá passar um tempo conosco. Me desculpe por não ter te avisado antes.

-Está tudo bem Dr. Rodwell. Sr.Rowell, será um prazer trabalhar para o senhor também –

Sempre ser educada, nunca deixar de chamar de senhor ou senhora, sempre se curvar e sorrir suavemente. Todos os códigos de postura eu queria jogar no espaço e me aproximar daquele homem e lhe dar um abraço, só para sentir seu cheio. Mas é claro que eu jamais poderia fazer isso.

Ele apenas me olha de cima a baixo e depois se vira para seu pai, me ignorando. Aquilo, de algum modo me incomodou. E olha que eu já fui ignorada pela maioria das pessoas que vem aqui. Apenas a família (tirando esse filho pelo visto), sempre me cumprimenta com um sorriso e agradece por eu cuidar do pai.

-Pai, será que podemos tomar café primeiro e depois você me mostra a casa? Tive uma viagem longa e não deu para comer nada – sua voz é rouca e quente. Tudo dentro de mim vibra e brigo comigo mentalmente por isso. Que diabos Ísis, respeito.

-Claro filho. Maillard, o café já está na mesa – ele se vira para mim me tirando dos meus devaneios.

-Sim Dr, está tudo pronto. Com licença, se precisarem, me chamem. – saiu dali a passos rápidos e vou em direção ao conforto da minha cozinha.

Apoio uma mão na pia e outra levo até minha testa, tentando controlar todas as reações que aquele home provocou em mim. Já recebi vários tipos de caras aqui. Dos mais idosos, aos que mal saíram das fraldas. E nenhum deles conseguiu causar o estrago que esse homem está causando em mim.

Por conta de sempre estar cuidando da casa ou tendo aulas online, nunca tive a oportunidade de sair por ai com outras meninas, ou ter encontros. Meus dois únicos melhores amigos eu conheço desde á infância e depois no colegial. Clara e Jenson são as únicas pessoas que eu tenho um meio social, e tudo o que eles acham importante sobre o mundo dos famosos, eles me contam. E isso porque a gente só conversa por mensagens e MUITO raramente, eu consigo ver eles.

Pego meu simples celular do bolso do avental, que ganhei quando fiz 18 anos e mandei uma mensagem para Clara.

Eu: S.O.S. Algo aconteceu.

Clara: E porque raios ainda não falou?

Eu: Homem gostosão vai morar com Arthur, o filho mais velho dele.

Clara: amiga, eu não sei se fico feliz por você por ter algo bonito para ver todos os dias ou digo que você se fudeu.

Eu: Acho que a segunda opção se encaixa com meu estado.

Clara: A vamos lá, um bonitão, gostoso morando na sua casa e você não vai gostar? Vamos trocar de lugar então.

Eu: Mas ele me ignorou totalmente quando me apresentei. Nem vai notar que eu existo. Além do mais, tenho muitas coisas para me preocupar do que um cara bonito.

Clara: melhor ainda, assim você pode ficar olhando para ele que ele nem vai notar. Qual é, você é linda, tem um corpo incrível, acha mesmo que ele não vai te notar? Você precisa relaxar. Quando foi a última vez que você viu um cara gostoso?

Eu: Acho que desde o colegial.

Clara. Então. Deixa de noia e relaxa.

Olho para mim mesma e tenho vontade de rir. Meu uniforme é cinza claro até 2 dedos acima do joelho (por conta que eu cresci) com mangas cobrindo só o pedaço do meu ombro. Meu avental branco fica toda a minha frente, e por ter muito cabelo e não caber naquelas toquinhas que eu deveria usar, Dr Rodwell permitiu que eu ficasse apenas de rabo de cavalo. Em resumo, eu era apagada. O que complica ainda mais é o fato de eu ser alérgica a todo tipo de maquiagem, e as maquiagens para pessoas alérgicas são muito caras e como eu nunca saio, nunca vi necessidade de comprar algo. A única coisa que eu tenho é um gloss rosa claro que está encalhado a uns 3 anos.

Pedi diversas vezes para que Dr.Rodwell mandasse fazer um uniforme de manga comprida, apenas para tampar as várias pintinhas ruivas que eu tinha pelos braços. Meu rosto era, na minha opinião, comum. A única coisa que fazia as pessoas me olharem diferente é o fato de pertencer aos 20% da população mundial: os ruivos. Depois, o que dava pelo menos uma vida em meu rosto era meus olhos azuis, que eu achava tão apagados que me perguntava se as pessoas conseguiam notar que era azuis. Não que elas prestassem muita atenção em mim.

Ouvi a voz de Arthur me chamando e pelo horário era para retirar a mesa do café. Nossa, acho que me distrai por mais tempo do que eu pensei.

Fui de cabeça baixa, até a mesa de café, onde os dois já estavam se levantando para andar pela casa. Juntei os pratos sujos e os copos e levei até pia, voltando logo para pegar outras coisas. Tentei ao máximo não encarar aqueles belos olhos cor de cacau, ou em como seus músculos dos braços abraçavam tão bem as mangas da camisa social que ele usava. Se concentre Ísis, não pode demostrar que está afetada.

Quando recolhi as últimas coisas que faltavam e as guarde, caminhei até a sala, onde os dois se encontravam conversando. Dei um pigarro chamando a atenção dos dois. Ah cara, se ele me der mais um desses olhares enigmáticos vou pular em cima dele.

-Com licença, os Senhores precisam de alguma coisa? – disse com o máximo de controle que eu consegui.

-Aceita uma xícara de café Owen?

-Seria muito bom. – aquela voz.

-Irei trazer – faço a reverencia e saio da sala voltando para o meu porto seguro.

Eu peço a Deus que ele não fique muito tempo, não sei até quando vou aguentar ter esse homem aqui. 

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