Capitulo 01

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- Vamos á uma festa no sábado? - Bernardo pergunta, ele é o mais gato da escola, já peguei.

- Não sei, já tenho duas marcadas.

- Você podia parar de andar com suas amigas um pouco e dar atenção para mim né gatinha? Vou te ligar.

- Não me ligue que eu jogo o telefone na água. Já falei que você é página passada, rasgada e descartada né Bernardo? Desencana.

- Malu, meu benzinho, vamos relembrar nossa história vai...

- Nem em sonho, tapado. Segue a vida. Eu não reciclo. - Saio andando, mas o encosto me segue.

Entro na sala. A primeira aula é de português, ninguém merece. Sento-me na cadeira, enquanto Bernardo aloja ao meu lado.

A nossa família é amiga há duas décadas, parece que uma tia minha teve um rolo com o pai dele. Mas nada sério.

Bernardo quer reviver a história?

Tadinho, mal sabe ele o quão descartável é. Sentamos em silêncio durante o resto do dia. Como em todas as outras aulas, finjo que estou prestando atenção, mas não dou a mínima pra elas.

 Preciso manter a aparência de boa moça para que ninguém desconfie da minha outra vida.

 Sim, eu tenho duas vidas, e isso muitas vezes é um inferno. Enquanto estudo aqui e sou uma "santinha", lá eu sou a mandante de todo o trafico da região. Mas o dinheiro faz tudo isso valer à pena.

 A aula acaba e Bernardo vai embora cedo, então não tenho que aturar ele enquanto espero meu motorista.

Já estamos no final do dia. Eu estou totalmente cansada.  Sentada embaixo de uma das arvores do jardim do colégio escutando Certain Romance do Artic Monkeys no fone de ouvido.

Eu até gosto dessa escola foi aqui que eu conheci a Bruna, minha melhor amiga, que a propósito faltou hoje. Conheci a Bruna quando entrei no colégio, um pouco depois que eu me enfiei nessa história de duas vidas. Eu me lembro de ter olhado pra ela e visto uma inocência em seu olhar, algo que perdi ha muito tempo.

 Ela é baixinha, igual a mim, tem um olhar penetrante, que metia medo em qualquer um e a única coisa que me diferencia dela, é sua personalidade calma e passiva, e seu enorme cabelo ruivo.

Eu gosto muito da Bruna, mas não posso contar sobre os negócios da minha família pra ela, não sei se ela conseguiria entender, essa é uma parte da minha vida que eu mantenho em grande sigilo.

Log para ao meu lado. Fico olhando para ele, percebendo o quanto ele mudou. Logan era meu amigo. Era.

 Antes de ele começar a comprar na minha mão. Eu já fumei, mas atualmente só vendo, já vi o estrago que a droga faz e eu não to nem um pouco afim de sofrer isso.

A cara dele já diz tudo.

- Isso vai custar um pouco caro, Logan. - Comento. Ele me olha de soslaio. - Mas se você quer tanto... Toma aqui. - Jogo o pacote com mais ou menos 200 gramas de Cocaína para ele. Que sorri e me entrega o maço de dinheiro.

- Foi bom fazer negócios com você, Malu. - E foi embora. Esse foi o sexto pacote que vendi hoje. Muitas vendas, muito dinheiro.

Logo o motorista chega e eu entro. A viagem até minha casa é demorada, quase meia hora. O motorista passa pelo portão enorme, deixando os muros pálidos para trás. Entro na enorme mansão e jogo minha mochila no sofá. Costumava comprar mochilas rosas, cheias de enfeites, essa mochila é preta, escolhida por ser a mais discreta possível.

Subo as enormes escadarias, e entro em meu quarto. Não me desfiz de nada, mesmo depois de entrar nessa vida. Costumava não misturar o pessoal com o profissional, hoje em dia, não existe mais lado pessoal. A empregada me fez um almoço delicioso e eu fico pela mesa mesmo. Meu pai chega e se senta:

- Bom dia. - Ele nem olha para mim.

- Bom... - Ele me interrompe.

- Claro, Jhon! - E começa a rir. Percebi que está falando pelo dispositivo móvel, vi o fone sem fio em seu ouvido. Respiro fundo e me levanto da mesa.

- Maria! Volte aqui! - Ele grita comigo.

Mostro meu dedo do meio e grito com aquele idiota que eu chamo de pai.

- Vai à merda! - Corro para meu quarto e resolvo me trancar lá pelo resto do dia. Sempre assim, trabalho antes da família.

Ri amargamente. Meu IPhone toca.

- Quem é? - Resmungo.

- É o Daniel. Acabou de atracar no porto a nossa mercadoria. Coloca aonde?

- No galpão 73, naquele lugar perto da saída da cidade. Separa uma pequena parte pra mim. Já terminei os meus.

- Nossa. Não é que a chefinha é rápida? - Desligo e resolvo ir dormir. Minha vida está ganha.

Dinheiro é o que não me falta.


Sucessora da máfia - finalizadoOnde histórias criam vida. Descubra agora