Capitulo 03

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Como não há nada mais de importante para resolver no galpão, vou pra casa. Entro no carro.

No caminho me pego pensando em Bernardo.

 Aposto que não usamos a camisinha. O negocio não é meu. Por que eu tenho que lembrar? Nem pra isso aquele encosto serve.

 Ligo o som, está tocando Aquarela, do Vinicius de Morais. Sinto saudades da minha mãe. Eu escutava essa musica com ela. Ela morreu quando eu tinha 10 anos, num acidente de helicóptero. Não lembro muita coisa dela, mas sei que tenho seus olhos porque o meu pai falava isso. Ela não teve para conversar comigo sobre sexo, e pílulas e camisinha. Tive que aprender tudo sozinha.

Dirijo em direção à casa da Bruna.

Aperto o interfone e ela abre o portão sem que eu precise falar nada. A fachada da casa é pintada em verde claro. A porta é branca.

Um dos empregados de Bruna abre-a para mim. Bruna é rica, assim como eu. Isso é claro e evidente.

Subo as escadas e vou direto para o quarto de Bruna, destacável por sua porta pintada em roxo.

Entro no quarto de Bruna, e fecho a porta atrás de mim. Admiro o quanto Bruna é organizada. Sua cama feita, sua estante e cheia de livros limpa.

Ela não está no quarto. Só pode estar no seu ateliê, embutido.

Em frente à sua cama tem uma porta que dá para seu closet. Mas já faz um tempo que Bruna deixou de usar esse espaço somente para guardar suas roupas. Ela usa o closet, também, para guardar as pinturas que faz.

Abro a porta e lá está ela. Finalizando uma obra. Bruna é uma paisagista e faz isso muito bem.

- Ainda pintando escondida de seus pais? - pergunto fazendo com que ela notasse que eu estava ali.

- Você sabe que eles não aceitariam que eu fosse pintora. - responde calmamente - "Ou você será advogada ou não será nada. Acha que isso dá dinheiro, Bruna?! Não criei minha filha para ser artista!" - Bruna diz, imitando sua mãe.

Fico em silêncio. Não sei o que falar quanto a isso.

- Vamos, me conte sobre Bernardo.- Bruna para de pintar, puxa uma cadeira e se senta. Amo o jeito solto da Bru, hoje mesmo ela esta usando uma bandana na cabeça, uma calça jeans totalmente suja e uma blusa branca com outra soltinha por cima. Sem falar nas aspirais que ela usa no braço.

- Ah, vamos Bruna. Não quero falar sobre esse idiota. Não acredito que ele não usou camisinha.

- Ah, falando nisso... - Bruna se levanta e se estica para  pegar uma caixinha rosa na parte de cima do seu guarda-roupa. Ela me entrega a caixa.

- Obrigada, Bru. Onde tem água por aqui?

 Ela aponta para uma garrafa azul em cima de um banco. Abro a caixa e observo a cartela. Pego um comprimido, ponho na boca e bebo a água.

- Quais os planos pra hoje? - pergunto a Bruna. - São apenas duas da tarde, temos tempo pra vadiar ainda.

- Aonde vamos então? Não quero ficar aqui, se eu ficar mais um pouco, irei enlouquecer. - Ri um pouco e todo aquele sentimento de ansiedade expirou. - Me disseram que um garoto da escola esta dando um luau, poderíamos dar uma passadinha lá. - Percebo que tem mais do que uma simples passadinha.

- E quem é esse garoto misterioso que deixou seu coração... Abalado?

- Que coração abalado, que nada! Para de alucinar. Eu preciso é beber.

- A bebida não vai passar a raiva que você está sentindo da sua mãe, Bru. - Comento, simplesmente. - Mas eu gosto da ideia da festa. Amanhã tem aula, será que faz mal uma festinha? - Falo baixinho. Bruna me olha com uma cara de maluca.

Sucessora da máfia - finalizadoOnde histórias criam vida. Descubra agora