Capitulo 11

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Deixo a arma cair no chão. É, definitivamente eu matei ele. Respiro fundo e tento me concentrar. Concentar? Meu Deus! Eu acho que eu estou em estado de choque. Olho para Antônio mas meu corpo não reage.

 Me forço a andar até ele e e tiro as ataduras, suas mãos geladas me deixam apavorada.

O que meu pai iria pensar de mim? Será que eu entraria em cana?

 E depois desses infortúnios pensamentos, Antônio me olha no fundo dos meus olhos.

- Luiza? - Ele fala com uma voz rouca.

- Malu... Meu nome é Malu. - Com meus olhos ainda úmidos eu tento entrar em coerência e desatar o restante.

- Acha que ele está morto? - Antônio pergunta, pálido.

- Na cabeça. - Com suas mãos livres eu me sento no chão e escondo meu rosto. - A bala. - Falo sem forças.

Matei Juan. Matei o cara que confiou em mim e me colocou onde eu estou agora. 

- Vamos. - Ele fala e se levanta. Mas eu não consigo. Eu apenas... não consigo. - Vem, Malu. - Ele me segura e me pega no colo,  antes pego minha arma no chão, enquanto eu tento me recompor.

- Não conte... Por favor. - Sussurro. Acho que estou chorando. Não sei ao certo.

- Só... Vamos sair daqui. - Ele dá um jeito de sairmos pelos fundos, logo encontrarão o corpo e não irão querer nos ver aqui.

Antônio sai do casarão e olha para os lados procurando uma rota de fuga.

Juan estava me esperando e, como confia em mim, liberou os seguranças. Ele sempre faz isso.

Ponho a mão em meu bolso, pego a chave do carro e entrego-a. Ele a pega. A arma ainda na minha outra mão. Adormeço assim que entramos no meu carro e a última coisa que escuto é o som das rodas no cascalho.

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Quando acordo estou na cama de Bernardo. Não quero levantar, não quero olhar nos seus olhos, não quero fazer o que estou prestes a concluir.

Ele está sentado em uma poltrona, próxima a janela com o violão em seu colo, cantando uma musica do Jorge e Mateus. Não sou muito fã, mas amo a voz dele. Fito o teto por alguns minutos antes de Bernardo perceber que estou acordada.

- Malu? - Não o olho. Não faço nada. Queria que fosse mais fácil.

- Não posso. - Sussurro. Me sento enquanto ele deixa o violão de lado. Eu me prendo a ele e tento não chorar.

- Não está dando certo. - Falo entre soluços. Claro que daria certo, mais do que certo. Mas não posso arrasta-lo para isso. E se fosse Bernardo e não Antônio? E se ele estivesse morto agora?

- Malu... - Ele me abraça mais forte. - Eu te... - Não posso suportar isso.

- Não fala isso. Vai me matar aos poucos. Eu preciso ir. - Me levanto enfim.

Limpo meus olhos, mas ele tenta me segurar.

- Eu sei que você tá abalada. Mas não faz isso, Maria. - Eu o olho nos olhos e logo me arrependo.

- Acabou, Bernardo. - Ele parece quebrado. Eu não aguento isso. Tento parecer o mais fria possível. - Eu quero que você viva a sua vida, quero que fique com outras pessoas e não se lembre de mim. Do que aconteceu. De nada.

- Por que?

- Isso nunca daria certo. - Achei que não poderia doer mais, mas ele conseguiu.

- E eu realmente pensei que você iria mudar, Malu. Mas você continua a mesma garota de quando a gente se conheceu. Que dorme e não se importa com quem vai pisar amanhã. - Dou um passo para trás e reprimo o choro.

- Você deve estar certo. - Dou as costas e saio do quarto, chorando tudo o que eu segurei.

Desço as escadarias correndo e me bato com Antônio.

- Ai... hum... Oi. - Ele está sonolento,  acho que ele não conseguiu dormir.

- Minha chave. - Exijo.

- Ah, claro. Aqui. - Ele a entrega pra mim. - O que aconteceu?

- Bernardo aconteceu.  - Digo e saio pela grande porta de madeira.

Está escuro, acredito que sejam duas da madrugada. A luz acesa na frente da casa me ajuda a achar meu carro.

Abro a porta e entro, sentando no banco do motorista.

Agarro o volante.

Meu Deus o que eu vou fazer? Com certeza Antonio vai me denunciar pra polícia e minha ficha criminal não é das mais limpas. Pelo menos Bernardo vai estar fora disso.

Não me permito pensar em mais nada, só quero ir pra casa.

Faço o percurso até a minha casa o mais rápido possível. Abro a porta da minha casa e tento respirar ar puro. Corro para meu quarto e percebo que tem mais coisas do Bernardo aqui do que eu queria inicialmente.

Tem alguns porta-retratos de nós dois na primeira noite que nos conhecemos, antes de eu entrar no colégio e descobrir que ele estudava lá, foi a noite mais engraçada da minha vida. Sorrio sozinha. E então percebo o que acabei de fazer. Me lembro do que ele me disse. Que nunca mudei. Que continuo sendo a mesma garota que daquela noite. Ficando com o primeiro que aparecer e depois sumindo.

 Uma súbita fúria irradia de mim e eu pego todos os porta-retratos com ele e jogo no chão. Não sei o momento exato e que comecei a chorar, mas logo eu estava tão cansada que acabei dormindo no chão.

Acordo com alguém me chamando.

- Vamos, Malu. Você tem aula hoje.

-Ah não. Não posso ir para a escola assim.

- É, estou vendo. - Meu pai me joga o meu óculos escuros.

 - Mas você vai. Não pago mensalidades altíssimas para nada. Vamos, Maria, suas ferias acabaram

Com muito esforço consigo me levantar e me enfiar numa calça jeans preta e a blusa do colégio. Ponho um casaco preto por causa do frio.

Ponho o óculos e ajeito o cabelo para cair sobre o rosto. Passo pela mesa do café onde meu pai está sentado lendo um jornal. Pego uma torrada com Nutella e saio andando.

- Tchau pai. - grito e fecho a porta sem esperar resposta.

Decido não dirigir. Um dos motoristas do meu pai me espera ao lado de um Sedan preto. Chego atrasada.

Corro para a minha sala e dou de cara com a visão do interno - por falta de termo melhor - e acho que vou ter um treco.

Me sento ao lado de Bruna e tento não ficar observando aquela cena nauseante do Bernardo com a vaca em seu colo.


Sucessora da máfia - finalizadoOnde histórias criam vida. Descubra agora