Prólogo

1.2K 225 894
                                    


"Acredito que isso possa ser considerado um sonho estranho!"

Foi a primeira coisa que pensei quando, de repente, em meu sonho, minha sala de aula se transformou em um lugar completamente preto; parecia uma sala bem grande, só que o chão era como se estivesse nas nuvens, ou havia alguma máquina de gelo seco ligada por aqui. As paredes não pareciam sólidas; podia jurar estar vendo o céu do outro lado devido aos pontinhos brilhantes que lembravam as estrelas. Até minhas roupas haviam mudado, da minha tradicional farda diária de calças jeans e camisa cinza, para uma espécie de vestido longo com mangas compridas, como aqueles de filmes medievais, porém, era todo branco.

Eu sabia que ainda era um sonho, mas não se parecia com um, por que ao invés de estar vendo da perspectiva de uma terceira pessoa, era como se eu estivesse presente naquele estranho e calmo lugar.

— Aproxime-se guardiã. — disse uma voz masculina que parecia dominar todo aquele lugar. Quando olhei para trás havia algumas pessoas que estavam sentadas no chão, formando, aparentemente, um círculo. No centro dele, provavelmente vindo do teto (se é que tinha algum), vinha uma luz bem suave que os iluminavam — Aproxime-se e venha para o centro.

Comecei a caminhar, mesmo que contra a minha vontade. "Ai meu Senhor do Bonfim, me ajuda! Por que com 8 bilhões de pessoas na terra esses aliens abduziram logo a mim? Trazia minha mãe que gosta dessas coisas não eu... Pera, traz ela não, vai que é para fazer experiências e fazem com ela?... Pior é que vão fazer alguma comigo... e nem dá pra gritar por socorro!". Pensava, morta de medo tentando parar de andar, mas era como se minhas pernas não me obedecessem, levando-me até o centro do círculo. Mesmo com a suave iluminação, percebi serem humanos "graças a Virgem Maria, se é que se pode agradecer por isso", ou pelo menos se pareciam com os mesmos, ou melhor, com índios. É, eram como índios; haviam 7 deles, todos usando roupas marrons, como nos filmes americanos. Alguns tinham algo por cima da roupa, como um xale ou poncho, outros tinham penas enfeitando os longos cabelos, ou algo que parecia dente de animais. Pela fisionomia, todos aparentavam já serem bastante idosos.

— Seja bem-vinda de volta guardiã! — disse a mesma voz de antes, que agora eu sabia pertencer a um daqueles índios. Olhei em volta e descobrir o autor da voz. Ele estava sentado como todos os outros, mas o seu porte era mais altivo, como se fosse uma espécie de líder ou chefe para os demais. Tinha os cabelos ainda negros e bem longos; o único ali que os usava soltos e com algumas penas enfeitando-os em finas tranças aleatórias.

— É a segunda vez que me chama desse jeito, de "guardiã" e me trata como se me conhecesse. Não, espera, melhor, vamos começar do início: quem são vocês? Que lugar é esse? Por que me trouxeram aqui? O que vão fazer comigo? E por que ficam me chamando "guardiã"? — meio que fiz as perguntas muito rápido, quase embolando uma, na outra.

Admito que ainda havia um monte de perguntas a serem feitas, sendo que eu as substituiria facilmente por um sonoro grito de "Socorro! Me tira daqui! Alguém me ajude!", mas, olhando bem (disfarçadamente, claro), não parecia que aqueles velhos iam me colocar em uma mesa cheia de aparelhos, fios e tubos para me abrirem ao meio. Bem, parecia... Eu ainda não tinha muita certeza sobre isso. Sabia que índios tinham outras formas de tortura, pelo menos nos filmes e livros de história e senti um calafrio de horror ao lembrar: escalpo! Meus cabelos se arrepiaram de medo. "Meu lindo cabelo! O que vou fazer sem cabelo???"

Um murmúrio de exclamações e perguntas encheu o ambiente enquanto aqueles índios falavam entre si, coisas como:

— 'Como isso foi acontecer?'

— 'Não entendo o motivo que a leva a fazer tais questionamentos.'

— 'Por que indagas?'

— 'O que houve com suas memórias?'

Trilogia Guardiã - PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora