43 | O s V e n t u r e

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Teresa

Ele não estava lá quando eu acordei.

Eu sentia que estava sufocando. Minha mente era um turbilhão de pensamentos misturados e confusos. Eram gritos, imagens, despedidas. Mesmo depois que eu acordei no Verão, comecei a sentir algo parecido com um ataque de pânico. O quarto era enorme, mas mesmo assim eu me sentia presa. Andava de uma porta até outra, mas maçaneta não girava, eu estava trancada. Volta e meia eu ia até as janelas, tomando consciência de que meu quarto ficava em um dos pontos mais altos. Não havia como sair. Eu estava sozinha! Estava longe dele!

Felipe.

Esse nome vinha na minha mente o tempo todo. Onde ele estava agora? O que estava fazendo? O que iríamos fazer para ficarmos juntos novamente? E... por quê, por quê Inverno e Verão tinham que se odiar tanto?! O sobrenome dizia tudo sobre quem éramos? Se fosse assim, eu não queria ser uma Venture! E toda vez que eu começava a pensar assim, as lágrimas vinham e eu ficava deitada por horas com o meu anel de noivado junto ao peito. Foi assim que eu passei os primeiros dias no reino do Verão.

Nos primeiros momentos, minha família vinha direto para ver como eu estava. Mas eu não queria vê-los, não queria ficar perto das pessoas que me afastaram dele. Eles sabiam que eu o amava, e, ainda assim, não hesitaram em nos separar. Família ama, apoia, e, não, prejudica. Leo também veio. Eu me recusei a falar ou olhar para ele, ainda me lembrava do que ele tinha feito para me ajudar: nada. Lembrava-me da sua promessa que não cumpriu. Ele era a minha família. Como ele mesmo tinha dito, éramos parceiros. E com o tempo, minha família foi desistindo de tentar. Disseram que, quando eu quisesse, eles viriam até mim. Que me entendiam!

Depois de algumas semanas, minha saúde também começou a piorar. Eu passava muito tempo dentro do quarto e ele despertou algumas lembranças em mim. Lembranças de quando eu era... Anna. Elas invadiam minha mente sem permissão, causavam tonturas e náuseas. Principalmente, quando as imagens que vinham era minhas com o Felipe.  E eu não sentia fome ou vontade de sair. Só queria ficar dormindo o tempo todo. Meus pais enviaram algumas criadas para cuidar de mim, no entanto, eu preferia ficar sozinha.

Só que isso não foi possível por muito tempo.

Deviam fazer três semanas que eu tinha chegado no Verão, quando eu ouvi uma batida na porta. Eu estranhei. Minha família tinha dito que não viria até que eu estivesse pronta. As criadas não batiam na porta, elas entravam e saíam silenciosamente, antes mesmo que eu tivesse a chance de vê-las. Então, quem era? Recusando-me a levantar da cama, deixei que a pessoa fosse embora. Ignorar quase sempre resolvia! Entretanto, a batida se repetiu e, logo em seguida, uma pessoa entrou.

Um pouco alarmada, sentei-me na cama e olhei para a silhueta esguia que caminhava na minha direção. A pessoa parou, como se temesse que eu reagisse. Quando percebeu que eu estava parada, deu um passo para frente, ficando onde eu pudesse vê-la. Para a minha surpresa, não era ninguém da minha família. Era um garoto. Ele tinha cabelos ruivos que batiam na nuca, traços finos, estreitos olhos esverdeados e um sorriso doce. Por um minuto, pareceu-me estranhamente familiar.

O rapaz deu mais um passo para frente e inclinou a cabeça, como se esperasse algo de mim. Só que eu não falei nada, e ele suspirou.

— Anna? — perguntou baixo.

Sua voz era calma. Eu sabia que já tinha ouvido a voz dele antes, mas... onde?

— Anna... eu... — ele pigarreou e coçou a cabeça — Você se lembra de mim?

Apertei mais a coberta contra meu corpo e continuei sentada, encarando-o. Ele deve ter aceitado aquilo como um não, porque virou-se para trás e xingou baixo. Suspirando bem alto, o garoto parou na minha frente e depois se abaixou, nivelando seu olhar com o meu. 

AMOR PERDIDO (Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora