Capítulo 3

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Narrado por: Haejime

  Cuidar das feridas de Daisuke me deixou um pouco estranho. Me senti responsável por aquilo. Sua pele estava tão machucada, e eu só pensava em cura-lo... Mas não podia. Não tinha como. O que eu podia fazer eu fiz e mesmo assim ele parecia bravo.

- Ingrato... só isso que penso... - mas no fundo eu sabia que era mentira. Suspiro frustrado enquanto era o último a deixar a sala de aula, meus colegas tinham saido praticamente desesperados dali - parecem animais enjaulados.

  Ao sair pelas portas do colégio, dou de cara com ele. Esperando. O que era, eu não sabia, por isso apenas desci as escadas e fui em direção a minha casa tranquilamente. Mas alguém me seguia, e eu sabia quem.

- O que foi? Perdeu o caminho para sua casa, nanodayo? - falo um pouco irritado.

- Não, eu só quero saber onde é a sua para ir até ela no sábado sem me perder - Daisuke continuava me seguindo, sem me perder de vista, mesmo eu tendo pego o caminho mais longo.

   Caminho como se quisesse me livrar de um pirralho chato no parque, mas sem sucesso infelizmente. Quando faltava duas casas para a minha, eu olhei pra trás e percebi que ele não estava tão longe. Pelo contrário. Eu dei com o rosto em seu pescoço sem querer, o fazendo se assustar.

- O que está fazendo?! - perguntou-me com um olhar de quem pergunta o motivo de terem pisado em seu tênis novo.

- Eu que pergunto! - falo olhando-o com ar irritadiço - Não apareça assim atrás das pessoas! - naquele momento eu pude ver uma de suas bochechas meio rosadas. O que me deixou ainda mais confuso.

  Sem muita cerimônia ele olhou pra minha casa (a que calculou ser a minha pelo menos) e virou as costas com ar arrogante. Aquilo tudo estava estranho. Assim que cheguei em casa fui tomar um banho para ver se esfriava a cabeça e pensar melhor no assunto. Mas a questão foi: Eu simplesmente não conseguia parar de pensar que em vez de seu pescoço, eu tivesse dado com o rosto no dele.

- Haejime? Está tudo bem ai em cima? - pergunta meu tutor, Hidorin. -Já  faz quase meia hora que entrou no banho...

- Estou bem - respondo desliando o registro para o chuveiro, e buscando minha toalha - Estou saindo.

  Depois que me sequei e fiz o mesmo ao meu cabelo, apenas me sentei na minha escrivaninha. Um tempo se passou até que Hidorin aparecesse com uma bandeja de café. Ele não costuma falar muito comigo quando estou em meu quarto, talvez por saber que não gosto de contato quando estou pensando. As vezes acho que ele se esforçar demais em tentar me entender.

- Aconteceu algo no Colégio?  - por fim ousou perguntar, era visível seu tom de preocupação.

- Nada além do comum. Tirando que fui derrubado de minha árvore e tive que prestar primeiros socorros a um inútil - do jeito que lhe contei, ele percebeu que falava de Daisuke - Está última parte pode ter sido causada por minha causa...

- A provérbio que diz: "As pessoas que mais lutam uma contra as outras, são as que mais as amam" - falou com sua habitual gesticulação com os dedos. Sua mente as vezes pode ser um mistério quando se trata desses seus provérbios.

- Mas, eu não o amo - parecia que eu tinha contato uma piada muito boa, porque no mesmo instante ele riu deliciado.

- Talvez não seja você que ama. Mas tenha certeza, talvez seja difícil de aceitar. - ele caminha devagar até a porta, saindo por ela - Preciso ir agora, com licença - desaparece após virar a direita no corredor.

  Aquelas palavras pareciam enigmas para mim, mas não desisti de compreender. Decidi que não adiantaria de nada eu ficar ali remoendo na minha cabeça e fui deitar.
  Nunca tive problemas em adormecer, mas esta virou a exceção. Eu fechava meus olhos e imaginava que toda a implicância que Daisuke tem comigo é algo de apenas chatices de adolescentes metidos. Peguei o travesseiro e apertei contra o rosto, chegando em um momento de quase sufocamento eu adormeci.

Durante o sono...

Eu estava em um lugar diferente, parecia uma escola de ensino fundamental. Algumas crianças corriam soltas no pátio, enquanto uma jovem moça cuidava de algumas plantas, dentre elas flores e pequenos arbustos robustos. Ela sorria, pegando suas ferramentas e cavando o chão, ocasionalmente olhando as crianças que brincavam ali perto.

- Cuidado meu filho, mamãe está cuidando desse lugar para uma nova árvore - a moça falou docemente...

  Comecei a tossir no sonho e na vida real. Aquilo me acordou de imediato. Não poderia ser minha mãe... Ela plantara a árvore antes do meu nascimento... E aquelas crianças eram supostas de serem eu e algum amigo? Mas como era possível? Estaria eu delirando e imaginando coisas?

Ouvi a porta se abrir e a silhueta de Hidorin aparecer no vão que se formara. Apenas respondi que tive um pesadelo e acordara tossindo, o liberando para que não se preocupasse. Assim que me acalmei, deitei novamente tentando pegar no sono.

Por que você me irrita tanto? [PARADA PARA REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora