Capítulo 6

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Narrador ON:

Os dias após o incidente do cachorro pareceram passar mais rápido que o normal. Quando Daisuke percebeu, já era sexta feira e faltavam apenas algumas horas para se encontrar com Haejime. O que lhe deixou um tanto nervoso.

- Daisuke - uma voz meio distante o chamou na volta pra casa - alô, tem alguém em casa?

- ham? - o garoto olhou para sua esquerda e viu a pequena Touka olhando-o e esperando sua resposta para alguma pergunta que ele não prestara atenção - desculpe, mas pode repetir?

- Eu perguntei se você vai mesmo a casa do Hae amanhã - respondeu balançando sua cabeça como se seu irmão fosse um completo tapado.

- Tenho que ir - no fundo, ele sabia que não iria ser um inferno completo, mas nunca admitira a ninguém - se eu repetir de ano por causa de orgulho, estarei frito com a mãe.

Durante alguns minutos ambos pareceram não ter nada a dizer. Mas, para surpresa do garoto, sua precoce irmã deixou um pequeno sorriso se formar em seus lábios, fazendo-o imaginar se ela não saberia de tudo que estava passando em sua mente naquele momento. Se recusando a cutucar aquela pequena fera que lhe dava arrepios as vezes, caminhou lado a lado com a mesma até sua casa.

Como de costume, e rotina ajudou sua mãe na cozinha, já que a mesma não estava com tanta disposição depois do serviço na loja de penhores que ficava quase no outro lado da cidade. Ela não podia reclamar, afinal, era um emprego bem pago. Porém sua idade começava a lhe causar alguns prejuízos, alguns como a falta de disposição, ou os círculos escuros que se formavam abaixo dos olhos cansados, mas sempre com resquícios de uma alma jovem e batalhadora. Assim como seu usual rabo de cavalo bem preso com uma linda presilha azul, usava sempre o colar e a pulseira que ganhara no dia das mães a 5 anos, feitas pelos seus tão estimados filhos.

- Obrigada meus queridos - enquanto era ajudada a colocar a mesa, sorria docemente para seus pequenos pedaços de alegria - vocês se esforçam tanto para que eu não tenho que me esforçar...

- A senhora sabe que fariamos qualquer coisa por você - Touka diz, equilibrando alguns pratos e copos em ambas as mãos e cabeça.

- Cuidado! - sua mãe tenta lhe alertar, mas já era tarde. A garota tropeçou em uma cadeira.

Mas, mais rápido que um gato em busca de um passarinho indefeso, Daisuke segura sua irmã nos braços. Quanto aos copos e pratos que ainda estavam no ar, ele apenas esticou sua perna e um braço após o outro, e os segurou. Touka, que estava envergonhada pelo acidente, apenas olhava as peças intactas sendo firmemente amparadas por seu irmão maior. Após ser repreendida pelo mesmo, que mandou que ela se sentasse e deixasse o resto com ele, ficou apenas observando.

- Chegou a se machucar? - uma voz tira-a de seus pensamentos surgindo da porta, onde uma silhueta se escorava na parede, um tanto ríspido.

Ele se destinou a garotinha deitada em sua cama lendo um livro. Fora pega de surpresa por aquela atitude tão cortês vinda de alguém que apenas a ignorava. Mas, depois de um momento, a mesma suspirou, sorrio e sentiu um alívio

- Não, estou bem - fechou seu livro e bateu algumas vezes na cama ao seu lado, o convidando a se sentar.

- Bom. - ele pareceu hesitar, mas entrou no quarto que era em si composto de pôsters de bandas e animes, com cores não tão marcantes... Um pouco tristes, seria o correto a dizer - o que foi? Quer alguém pra brincar de boneca, ou fazer alguma de suas experiências?

Uma risada profunda e satisfeita veio do fundo do diafragma de sua irmã, o que não o deixou mais seguro sobre o que ela queria. Mas no fim, ele se sentou nos pés da cama. Enquanto tentava pensar em uma pergunta, sua irmã apenas lhe estendeu um pôster. Parecia ser de um anime normal. Já estava pronto para manda-la longe por ter o chamado só pra recomendar um anime, mas reparou em algo diferente nos personagens.

- Sabe que gênero de anime é esse? - ela perguntou quando percebeu que ele já se afundava em delírios.

- Y-y... - ele sabia bem. Mesmo assim, por que propósito ela estaria perguntando aquilo? - yaoi...

- Isso mesmo, e o que é característico em um yaoi?

- Relações entre garotos... - agora ele percebera o que ela queria, estava ciente que se não entrasse nessa dança iria sair perdendo.

- Ok, agora me diga se você gosta desse gênero de anime. - aquilo tinha soado mais como "agora me diga se você gosta garotos". Tinha chegado o momento que ele estava esperando.

- Hum... Claro - deu de ombros, enquanto fazia pouco caso da pergunta. Olhou de canto de olho para ela, que estava brilhando e com cara de expectativa. - não ouviu falar que aconteceu um acidente na aula de química e certos alunos sairam da sala? - ele se levantou e deixou sua de boca aberta. Mas enquanto caminhava no corredor, escutava gritinhos histéricos em suas costas.

Não sabia se tinha feito o certo, mas já se sentia aliviado por ter saído daquela conversa estranha. Claramente ele tinha se metido em uma fria, mas estava preocupado demais com sua ida a casa do colega pra ficar se martirizando com aquele assunto inoportuno. Só pensava em deitar logo para que o tempo passasse de uma vez e tudo isso acabasse.

- É só um trabalho, nada de mais - repetia inúmeras vezes enquanto tomava banho - você só vai ir até a casa dele, fazer um trabalho e ir embora. Simples. - mas ele sabia que não era tão simples.

Mesmo após o banho, ele ainda suava frio. Tentava pegar no sono. Mas simplesmente não conseguia parar de pensar que estava nervoso atoa, já que o outro garoto nem devia estar ligando pra tudo isso.

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Porém, a algumas quadras dali, outro garoto também se preocupava com o dia de amanhã. E rolava na cama com o mesmo nervosismo, e até mesmo um pouco de interesse em como aquilo terminaria.

- Boa noite, jovem mestre - Hidorin se despediu em quase silêncio e apagou as luzes do corredor e do restante da casa.

- Boa noite... - murmurou Haejime, um pouco cansado de tanta preocupação que enchia sua cabeça, como uma torneira aberta sobre um copo. Logo após muitos murmúrios insatisfeitos por não conseguir estar dormindo bem nas últimas noites, ele adormeceu.

Por que você me irrita tanto? [PARADA PARA REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora