Capítulo 5

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Narrador ON

Mais um dia acaba de começar em Tokyo. Pássaros começam a cantar, cães latem uns pros outros, as pessoas levantam pesadamente para trabalhar. Nada como um dia totalmente comum...

- AAAAAHHH! - alguns pássaros se assustam e levantam vôo das árvores vizinhas a casa de Daisuke.

O garoto fugia de um Pitbull raivoso que se soltara enquanto ele passava um galho pela grade. Correndo em alta velocidade para um humano, ele quase foi atropelado duas vezes, antes de ser puxado para um beco.

- Mas que por- - foi calado por uma mão enfaixada, a qual pensou conhecer. Observando o cão passar correndo direto por seu lado sem vê-lo.

- Quieto ou ele vai voltar... - o garoto de cabelos azuis segurava o maior como se fosse um fugitivo. Tentava previnir que o maior não se movesse, afinal, estava em desvantagem no tamanho. Era como se um lince tentasse segurar um leão.

- mu-huhu - murmurou alguma maldição ao azulado, que simplesmente o arrastou para mais fundo no beco.

Podia sentir que o perigo estava voltando. O perseguidor iria perceber a qualquer isntante que sua presa não havia continuado sua fuga. Dois latões de lixo serviram perfeitamente como esconderijo quando o cão raivoso adentrou o beco. Saliva e espuma saiam dos lados de sua boca. Aqueles dentes poderiam facilmente dilacerar uma perna em poucos minutos. Pensar sobre isso só deixava mais dúvidas de porque alguém teria um animal tão bravo no quintal. Claro, é um ótimo cão de guarda, mas deveriam pelo menos te-lo adestrado para que não saisse atacando pessoas inocentes.

O cachorro farejou o chão, olhou em volta e simplesmente saiu sem mais nem menos. Talvez o cheiro do lixo, ou talvez por ter se acalmado um pouco tenham influenciado no seu interesse pelo rapaz.

- Essa foi por pouco... - Haejime pronunciou em um suspiro longo. - Imagina se aquele bebê te pega? Iria voltar só os pedaços para casa. - O garoto era apaixonado por animais, por isso sua mania de chamar até mesmo os mais ferozes bichos de "bebês". Porém, aquilo não pareceu tranquilizar mais o ruivo, que estava em silêncio esperando que o outro tirasse a mão de sua boca. - Perdão, havia me esquecido.

Lentamente, liberou a boca do amedrontado jovem que estava sentado de lado para si. Estavam realmente muito perto, já que o espaço era limitado entre um latão e outro. Um momento se passou até que algum dos dois ousassem falar algo. Mas no final, acabou por ser apenas um obrigado balbuceado em pleno desgosto. Haejime, que já fora acostumado a esse tratamento, não fez muita cerimônia ao se levantar. Porém, quando já estava virando as costas para seguir seu caminho, fora agarrado pelo pulso, perdendo o equilíbrio e caindo sobre Daisuke.

- Não quero que pense nada de errado, ou tenha uma má impressão sobre isso, okay... - falou com uma voz rouca e um pouco carregada de arrependimento. - Ouça, eu sei que não faço diferença nenhuma na sua vida e que não lhe conheço. Mas, você é a única pessoa que eu respeito naquele Colégio... - os olhos do menor estavam tentando olhar através daquela expressão de indiferença, mas só enxergavam o seu próprio reflexo.

Seria aquilo algum tipo de piada? Talvez uma nova desculpa para tirar sarro dele quando menos esperasse. Ou uma forma de faze-lo sentir-se culpado por algo... Não. Não era isso. Convirera tempo suficiente com deliquente para ter certeza que isso não era seu estilo. Mas então o que? Um legítimo pedido de desculpas? Ou um preve arrependimento por toda sua ignorância? Já não importava mais. Ele era alguém com orgulho. Não poderia simplesmente abaixar a cabeça e fazer-se de inútil. Voltou sua atenção novamente para o garoto de sardas salpicadas nas bochechas e nariz. Um traço que provava que sua origem não era inteiramente japonesa. A cor de seus cabelos, seus olhos... Seu tom de pele tão claro... Claramente seu pai ou sua mãe são de nascença europeia. Talvez alemã, ou polonesa... Mas agora o verde brilhante de seus olhos, fora substituido por uma cor opaca, pastel. Uma cor triste. Quis se mexer, para poder encara-lo melhor, mas estava em cima de seus joelhos, dobrados como em oração.

- Isso está ridículo, não é? Patético, talvez. Mas é como me sinto. - como ele se sentia? Era essa a explicação para tudo isso? Ou apenas uma saída para sua total perca de controle emocional? Tomou uma longa prova de sua saliva que insistia em não descer por sua garganta e continuou, com uma voz mais firme. - pode até não parecer, mas eu sempre tive inveja de você. Todo o privilégio que tinha no Colégio. Todas as pessoas ao seu redor. Nunca se envolver em problema nenhum. Até mesmo minha irmã gosta mais de você do que de mim.

"Eu simplesmente queria te dizer..."

Quando iria dar seu veredicto, uma campainha soou. Não fora bem uma campainha, e sim o toque de um celular. Haejime tateou seus seus bolsos, agradecendo por ter mais um tempo para digerir aquelas informações. "Alô?" Atendeu. Era Hidorin, seu mordomo. Queria saber se queria algo de onde estava fazendo compras, talvez um souvenir ou algum ingrediente para suas receitas. Bastou poucos segundos para explicar que no momento não gostaria de nada e que logo chegaria em casa para recebe-lo. E alguns segundos mais se passaram para que ele desligasse. Logo que guardou o aparelho e olhou decisivamente o outro garoto, que parecia um pouco mais tímido que antes.

- Eu... Acho melhor esquecer tudo isso. - Se levantou desajeitadamente e ficou a alguns metros do outro, que seguia, agora, ajoelhado o olhando. - Só esqueça, tudo bem? Isso... Não vai mais se repetir.

Encerrando sua conversa, caminhou com passos rápidos para a saída. Por um momento ele pareceu hesitar em dobrar na rua e seguir para sua casa. Apenas se ouvia o som do solado de seus tênis pisando sobre as pedras e sujeiras no chão. Esse som logo desapareceu, junto com a silhueta altiva e presunçosa, mas que agora, parecia apenas as costas de uma criança indefesa.

Em uma mistura de choque e surpresa, Haejime se pussera em pé na tentativa de alcança-lo. Mas já era tarde. Ele desaparecera. Olhou para o beco por onde aquele tão estranho rapaz saira e foi na mesma direção. Estava sentindo agora um pouco de cançaso. Talvez por ter salvo o mesmo, ou talvez por ser de manhã onde o sol faz as pessoas ficarem mais preguiçosas a médica que são expostas a sua luz. Não tinha certeza qual das opções era mais plausível.

Mas de uma coisa ele tinha plena certeza. Aquilo não seria facilmente esquecido.

Por que você me irrita tanto? [PARADA PARA REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora