- Um sorriso. - Arthur diz alegremente depois de eu rir de sua piada.
Sua alegria dura pouco, pois logo já estou novamente de cara fechada.
- Como conseguiu capotar aquele carro Thomas? - Sarah pergunta.
Estamos no celeiro, fica bem proximo a casa. Decidimos dormir aqui para não incomodar ninguém. As palhas foram cobertas com lempões e lampiões foram acesos. Muitos já estão dormindo, as ultimas horam vem sendo cansativas e amanhã vamos continuar nossa caminhada. Timoti se ofereceu para nos levar, mas somos muitos e as estradas não são seguras.Continuaremos pelas florestas.
- Usei o cadarço do sapato. - Respondi dando uma mordina em uma maçã.
Ela arqueou a sobrancelha surpresa, Arthur ri junto com Lucas e mais um garoto chamado Alex.
- Mas... - Ela parecia não entender como o acidente aconteceu.
- Eu o usei para estrangular o motorista. - Respondi entendendo a duvida. - Ele perdeu o controle e...
- Uau! - Alex exclama. Ele é um rapaz um pouco mais novo que Arthur, da mesma altura, porem mais magro. Seus cabelos são loiros e os olhos azuis, pele bronzeada e suas bochechas são vermelhadas. - Já vi que é um baixinho perigoso.
- Não diria perigoso. - Falo. - Foi sorte.
- Se isso não tivesse acontecendo nós estariamos em um quarto branco e apertado em uma CP. - Arthur desfaz o sorriso. - Sorte ou não, você nos deu uma chance. - Ele me olha.
- Quando você esteve na CP... - Foi a vez de Sarah dizer. - Eles te machucaram?
- A mim não. Eles não nos machucam se seguirmos as regras. Temos de acordar no horario, tomar café da manhã e uma pilula de alguma coisa, depois tem a conversa com o psicólogo, depois orientação, que é como uma aula de como se comportar... Almoço, mais uma pílula, mais orientação, conversa com outras pessoas, pregação da palavra, mais remédios... Jantar, toque de recolher e no outro dia tudo de novo.
Penso que eu daria trabalho para eles. Eu nãoseguiria essas regras sem perguntas, sem discussão.
- Ouvi dizer que quando se entra lá volta sendo outra pessoa.- Sarah olha para as mãos.
- Enlouquecemos lá dentro de uma forma ou de outra. Eu seguia as regras então, o tratamento não era tão duro. Mas quem se recusava a cooperar... Bem, nunca terminava legal pra eles. Eles mandavam os garotos pra solitaria, mergulhavam eles em banheiras com gelo, choques... Passam o dia inteiro dizendo o que voce deve ser, como deve fazer, como deve agir... Você começa a acreditar depois de um tempo. Por sorte sai antes de as coisas ficarem realmente ruins.
- Minha visinha era uma garota alegre... - Sarah começa com olhar melancolico. - Ela foi enviada pra uma das CPs e voltou quase tres anos depois. Era como se ela nem mesmo existisse, ela não saia de casa e quando saia não ficava muito tempo fora. Parecia ter medo de tudo e de todos. Ai um dia eu vi a ambulancia na frente da casa dela. Os pais dela choravam na varanda, policiais entraram na casa e eu não sabia o porque... Uma gritaria começou la dentro, ouve disparos, e do nada ela simplesmente pulou da janela do seu quarto. Foi tudo muito rapido, o quarto ficava no andar de cima da casa. Ela pulou de cabeça. De cabeça! E em nenhum momento durante a queda tentou se proteger. Ela queria morrer e fez... Eu estava pensando em me entregar naquela época, não queria mais ser diferente, então percebi que talvez o pior do que ser é tentar mudar.
Um silencio se fez entre nós ninguém disse nada por muito tempo.De certa forma todos nós sabiamos exatamente o que o outro estava sentindo. Quem nunca cogitou a idéia de se tornar "normal"?
A conversa volta depois de um tempo e aos poucos um a um vão caindo no sono, sinto meus lhos pesados, mas Alex insiste em dialogar comigo. Ele é um garoto inteligente e educado, o geito que me olha me lembra de Charles. Não sei se acho isso algo positivo.
- Então você tem alguém? - Ele pergunta sentado perto demais.
- Tinha. Não quero falar sobre isso.
- Desculpa. - Ele abaixa o olhar. - Eu não quiz...
- Está tudo bem... É só que... As coisas aconteceram rapido demais.
- Entendi. Se quiser conversar com alguém depois eu estarei aqui.
Percebo seu interesse, mas não consigo distinguir suas intenções.
- Obrigado - Digo e bocejo para ele perceber que estou com sono.
- Esta com sono? - Ele se aconchega na palha e seu braço encota-se no meu. Estranho, mas tento relachar.
assinto
- Foi um dia cansativo.
- Então vamos dormir. - Ele diz e se deita. - Ainda sente dor?
- Um pouco.
- Se precisar de alguma coisa, me acorde.
Assinto sem graça e sem saber exatamente o que dizer. Deito e me afasto um pouco dele, é estranho ter alguém tão proximo fisicamente, mas não tenho muitas opções.
O sono não demora muito a me dominar, em pouco tempo estou dormindo profundamente. Vejo Charles. Ele vem andando em minha direção com seu belo sorriso e aqueles olhos azuis, que me encantam até nos sonhos.
Ele me abraça. Sinto o seu cheiro e o calor dele. Me sinto bem. Ele não é tão alto quanto Arhur e nem tão baixo quanto eu, mas o encaixe de nossos corpos acontece de forma natural e perfeita.
- Vamos ficar juntos. - Ele diz. - Para sempre.
Sorrio. é bom ouvir a sua voz. Ele levanta meu queijo e aproxima seus labios dos meus, posso sentir a sua respiração em meu rosto.
Desperto.
Abro os olhos e vejo a escuridão do celeiro ser cortadas por feixes de luz atravessando as frestas nas paredes. Me levanto as pressas, algumas pessoas já estão acordadas e assim como eu assustadas pelo barulho lá fora. Não é nada alto, mas podemos ouvir passos e vozes baixas. Torço para despertar e que isso seja apenas um sonho como aquele de poucos segundos trás.
Estão se aproximando.
me levanto sem fazer barulho. Sinaliso para que acordem os outros. Me aproximo da porta apenas para verificar algo que já tenho certeza. Olho pela fresta e posso ve-los se aproximar.
Estão em grande numero. Os agentes vestem preto e usam armas maiores do que aqueles que nos escoltavam. Tres carros escuros estacionados proximo a casa de Timoti. Ele e a mulher se encontravam rendidos na varanda junto de Samuel que parece assustado. gabriel por sua vez estava conversando com um homem calvo vestindo terno. Quem era aquele cara?Uns quinze soldados se aproximavam lentamente pela porta da frente. Devem ter deles aos arredores também.
Estamos com problemas.
Olho para meus colegas de grupo, que não sabem o que fazer. Arthur está nervoso tentando ter alguma idéia.
Olho para ele e ele para mim. Já tenho em mãos a minha arma e estou pronto para lutar. Arthur como se lesse meus pensamentos pega a sua arma e acena com a cabeça para mim.
Vamos lutar.
me afasto da porta alguns passos e espero. Arthur ordena para que todos se escondam e eles se escondem detras das pilastras, tambores e qualquer coisa que encontram. alguns apenas deitam no chão. Estou no centro do celeiro com a arma em mãos.
Ouço seus passos mais perto.
mais perto.
mais perto.
mais perto.A porta se abre.
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SUJOS
General FictionA humanidade tenta reconstruir o mundo após uma guerra, enquanto um movimento religioso radical cresce e decreta ser crime a homosexualidade. um grupo de foragidos tenta escapar dos radicais arriscando suas vidas em uma jornada eletrizante em busca...