Capítulo XVIII - You could see that we'd cried

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POV Cereja

As ruas iluminadas estavam muito silenciosas às 3 horas da manhã, vistas da sacada do hotel, mas meu corpo e minha mente não seguiram esse exemplo. As feridas eram como um alarme, lembrando-me constantemente do que aconteceu, torturando-me e ardendo conforme o vento gelado percorria minha pele. Minha mente, querendo gritar mais alto, implorava pelo cessar das dores físicas e mentais e implorava pela cama do quarto escuro de Los Angeles.

Eu nunca havia sentido isso antes, mas passei a desejar saber se a bebida e o cigarro eram como diziam, que aquietavam qualquer dor. Porém, o vazio não seria preenchido por essas drogas e a luta para acordar minha coragem e fazer o que preencheria estava tão difícil.

De volta ao quarto, o sentimento de que eu estava sozinha nessa situação pareceu bem mais real. Al havia adormecido na poltrona, ao redor de vários copos de whisky e cigarros fumados pela metade. A luz fraca que vinha da sacada pegava somente a metade do seu rosto e contrastava com os cabelos negros que caiam sobre sua testa. Ele era tão perfeito.

Rapidamente, quando nos conhecemos, ele ocupou tudo dentro de mim e meu mundo passou a girar entorno do vocalista. Achei que já tinha passado pelo primeiro amor, mas eu estava plenamente enganada.

Um sorriso ocupa meu rosto molhado pelas lágrimas enquanto várias memórias eram pintadas diante dos meus olhos.

Se eu ficar aqui relembrando os bons tempos, o resto de coragem que tenho pra ir embora vai sumir.

Sem acordá-lo, movI-me lentamente até o armário onde estava minha mala. Tirei dela cuidadosamente uma calça jeans rasgada e um moletom quentinho para substituir o blusão que usava para dormir. Um all star também seria bom, o deixei na porta para usar depois quando saísse, evitando assim qualquer barulho. Por último, uma meia branca com ursinhos e um coque bagunçado no cabelo.

Os meus documentos todos estavam na gaveta ao lado da cama. Caminhei até ela e a abri, pegando minha carteira e algum dinheiro perdido por lá. Assim que virei meu corpo em direção a mala, acabei escorregando no piso liso do quarto e minha carteira caiu.

Fechei os olhos, rezando para não ter acordado Alex. Se ele me olhasse talvez por um segundo e perguntasse o que estava acontecendo, provavelmente eu diria "nada" e o colocaria para dormir abraçado comigo.

Você é muito fraca mesmo.

Meu pensamento me relembrou da comum verdade que vinha ouvido a anos. Talvez agora esse pensamento fosse forçado a mudar, vendo o quanto estou me esforçando para lidar com tudo sem chorar no chão como uma garotinha boba.

Olhei para Al. Ele se mexeu um pouco na poltrona. 

Droga. Continue dormindo.

Alex se ajeitou, abraçou uma garrafa de whisky e com uma expiração alta, adormece. Uma sensação de alivio se espalhou pelo meu corpo enquanto me ajoelhei procurando o que caiu.

Tudo estava indo bem até encontrar aquela maldita foto que tirei quando nos conhecemos, lá no estúdio em LA. Ele sorrindo como criança, era desse jeito que eu queria lembrá-lo e não como um ex, algo que não deu certo.

Segurei a foto contra o meu peito. O choro veio finalmente, após a dor intensa o prender dentro de mim. Minhas pernas enfraqueceram, precisei reagir ou ficaria ajoelhada ali até de manhã.

Limpando as lágrimas com as mangas do moletom e me apoiando na cama para levantar, peguei minha mala e sem olhar pra trás abro a porta. Ela rangeu, não facilitando as coisas.

"Cereja?" A voz embriagada dele me derreteu por dentro. Ainda meio adormecido e bêbado, não havia percebido o que estava acontecendo.

Eu estava sem reação, paralisada, esperando ele perceber. Parte de mim queria que Alex me convencesse a ficar, o que era impossível aquela altura.

Ele coçou seus olhos, fazendo-os adequar a pouca luminosidade. Seu corpo ergue-se, mesmo com dificuldade causada pelo excesso de álcool.

Assim que finalmente olhou direito para mim e raciocinou, sua expressão mudou.

"Onde você tá indo?" No fundo, essa pergunta era retórica e Alex sabia.

"Calma, vamos conversar..."

Me aproximei e coloquei minhas mãos em seu peito. Sinto sua respiração carregada de bebida nas minhas bochechas.

"Al, v-vou voltar pra LA essa madrugada" - Evitei o contato visual com ele - "Mas fico aqui até você dormir se quiser."

"Não... Não. Não posso te perder."

Al tenta me beijar, mas eu recuso. Suas mãos tocam algumas de minhas feridas que doem, mas não pronuncio nenhum gemido sequer.

"Vem, volta a dormir, não tem como pensar racionalmente no estado que você tá. Não é hora pra discutir.' - Procurei o puxar para a cama, mas ele nem se moveu.

"O Miguel, ele vai ir atrás da minha Cereja, vai feri-la de novo, deixa eu cuidar..." Alexander choramingou.

"Alex, quem precisa de cuidados no momento não sou eu."

"O que foi? Cansou de arriscar? A sua vidinha boa de namorada de vocalista não está boa o suficiente?" A voz dele se alterou e seu jeito tornou-se mais agressivo.

"Não é nada disso, idiota. Não vou explicar novamente o porquê de ter que ir. Não é o fim. Não precisa ser."

De onde estou tirando essa força?

Foi quando vi seus olhos vermelhos de chorar assim como os meus.

 "Por favor, fica." Alex murmurou, quase desabando. Não fui recíproca assim que ele me abraçou.

"Não."

O deixei, mas antes que pudesse alcançar a maçaneta, ele fechou a porta. Realmente não seria tão fácil como pensei.

O vocalista pressiona nossos corpos contra a parede. Nossas respirações ofegantes, seus cabelos encostando na minha testa e o suor de ambos, que misturava-se com perfume forte masculino que mal dava para diferenciar do cheiro de whisky.

"Eu sei que você não quer voltar pra lá. Sei que me ama, por que desistir e acabar com isso?" A cada palavra, Al depositava um beijo sobre meu pescoço.

"Para, por favor." Imploro, entre soluços, lembrando do que Miguel fez.

O desespero só aumentava à medida que meu moletom era retirado.

Não podia acontecer de novo. Não queria me sentir suja pela segunda vez. Não queria sofrer mais.

"Se você parar com isso, eu fico."

"Boa menina..."

O vocalista me abraçou e eu retribui. Em seguida, Alex nos jogou sobre a cama e meu desespero retornou.

Distraí-lhe o suficiente para pegar a garrafa de whisky e quebrá-la sobre ele, que cai pesado sobre mim, desacordado.

Como um edredom, o empurro para o lado por sua jaqueta.

 Antes de ir, cuidei do corte em sua testa.

Vesti meu all star da forma mais rápida possível, relembrando o tempos de escola quando estava atrasada.

Só percebi o que tinha feito quando cheguei ao aeroporto. Até aquele ponto, eu estava sendo guiada apenas pelo lado racional, me protegendo, como se estivesse no automático.

Os óculos antigos, em formato de coração, serviram para disfarçar a minha instabilidade enquanto digitava para os meninos. Contei para eles o que tinha acontecido e me despedi, com palavras bonitas e tristes que não sabia existirem dentro de mim. Prometi que nos encontraríamos novamente e pedi que cuidassem de Al.


Além das Fotografias - Alex Turner [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora