Capítulo XX - Pretending that you were just some lover

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Dois meses depois

Pov Alex

Minha guitarra parecia nunca afinar. Talvez as cordas estivessem danificadas por há um bom tempo não serem tocadas... Talvez fosse medo de realmente compor algo novo, revivendo o que já deveria ter passado.

A varanda do meu apartamento virou meu lugar favorito desde que decidimos que a banda faria uma pausa. Eu passava muito tempo lá, quase um dia inteiro e, embora levasse meu cinzeiro e cigarros, não conseguia fumar. Apenas observava a fumaça sumir no ar, deixando os pensamentos tomarem conta.

"Resolvemos dar uma chance para um lance de verão, já desconfiávamos que não duraria.".

As palavras que Cereja usou em sua entrevista ainda ecoavam na minha cabeça. Ela havia mudado, parecia mais forte, enquanto eu estava enfraquecendo.

"Nunca me machucaria.".

Seu sarcasmo foi tão nítido, acertando meu ponto fraco e seu pequeno riso ao fim da fala parecia ser de diversão ao tocar na ferida.

Meu celular vibrou mais uma vez em meio a mensagens e outras ligações ignoradas.

"Sim?" Continuei indiferente, focando apenas no instrumento sobre meu colo.

"Alex afinando sua guitarra? Álbum novo em breve, eu espero."

"O que foi, Felix?"

"Precisamos encerrar essa pausa."

"Eu sei." Exalei, estando incerto sobre o assunto.

"As coisas tem sido difíceis para você, mas os álbuns estão vendendo muito. Temos shows para fazer... Conheço alguém que pode te ajudar."

"Hm." Respondi, tocando um pequeno solo.

"Sério. O nome dela é Taylor, ela é modelo e..."

Meus olhos se expandem em surpresa. Eu sabia o que ele queria dizer. Nunca tinha pensado em substituir Ce.

"Alex? Tá aí?"

"Não preciso de ajuda dela. Obrigado."

"É uma pena, porque estamos indo aí agora. Estou levando também os documentos que oficializam a volta da banda. Você não tem escolha a não ser parar de agir como criança. Te vejo em alguns minutos."

*

Antes que eu pudesse abotumar minha camisa branca, a campainha soou. Descalço e em plena consciência de que meu apartamento estava uma bagunça, atendi.

Uma mulher loira e alta acompanhava meu assessor e assim que me viu seus olhos acenderam. Não como os de Cereja, mas eles ressaltavam o quanto Taylor queria me ver.

Cortando a frente de Felix, ela estendeu a mão para que eu desse um beijo, mas somente a apertei, cumprimentando e observando a decepção em seus olhos azuis.

"Oi, entrem."

"Ugh, tá uma bagunça aqui, exatamente como sua vida. Você não desfez suas malas ainda?"

"Eu posso arrumar se você quiser, Al." A modelo sugeriu, voando para cima de uma de minhas malas jogadas na sala.

"Não. Obrigado." Eu disse subitamente, controlando a raiva e impulso dentro de mim. 

"Taylor, querida, vem cá..." Felix ofereceu a ela um lugar no sofá. "Então, que tal assinar aqui, Turner?"

"Não sei, eu..."

"Não assina ainda, é melhor lermos primeiro. Posso ler em voz alta..."

"Ok, me passa a caneta." Assinei antes que a voz irritante dela pudesse enunciar aqueles documentos longos. Arctic Monkeys estava de volta.

Acendi um cigarro, finalmente conseguindo levá-lo a minha boca.  Alcancei um para Felix, me encostando e relaxando na cadeira. Apesar de eu conhecer o tipo da mulher sentada ali, lendo seu semblante de desejo ao ver o maço, ela continuava tentando me impressionar.

"Alexander... fumar faz tão mal para a saúde. Eu poderia te ajudar a sair dessa e de outras." Uma breve risada escapou da modelo.

Um silêncio constrangedor tomou conta da sala e nossos cigarros eram consumidos pelo fogo cada vez mais rápido, acalmando nossos pensamentos.

Após uma pequena conversa para acertar os detalhes de futuros shows e alguns copos de champanhe que manteram a boca de Taylor fechada, finalmente eles começaram a deixar meu apartamento.

 "Tchauzinho! Espero te ver por aí." Ela piscou pra mim. Dei um pequeno sorriso falso, praticamente jogando a bolsa e sapatos que ela havia largado na minha sala, em seus braços.

A modelo já andava um pouco a frente no corredor, quando o assessor estendeu sua mão e, assim que a apertei, ele me puxou e sussurrou em meu ouvido:

"Ela terá de ser sua, por bem ou por mal. Aproveite para conhecê-la. Vou te passar o contrato em breve. Até mais."

POV Cereja

Lana Del Rey - Heavy Hitter tocava nos meus fones de ouvido enquanto eu passeava pelas ruas de LA, em busca de uma jaqueta nova de couro. Meu mais recente estúdio ficava a algumas quadras dali e para aquele dia marquei apenas um ensaio fotográfico, então a manhã toda era só pra mim. 

Aquela entrevista mudou muita coisa.

Estava mais rica, mais forte e sociável. Só não era tão feliz quanto antes, o que me levou a buscar diversão em tudo.

Uma vitrine decorada em vidro quase transparente com algumas folhas de outono chamou minha atenção. A loja era linda e as roupas também.

"Em que posso ajudar?" A voz rouca de Brian, como dizia seu crachá, chegou aos meus ouvidos assim que entrei. Um arrepio percorre minhas costas. Ele era mais velho. Comparada a ele, eu não passava de uma garotinha no ensino médio. Seus olhos vibrantes contrastavam com sua jaqueta cor de caramelo. Tinha algo sobre ele... Algo que me fazia morder meu lábio inferior.

"Perdida em algum devaneio?" Ele diz se aproximando.

"Ah, desculpa... Então, estou procurando uma jaqueta de couro."

 Ele sorri. "Por aqui, Cereja."

"V-você sabe meu nome?"

"E quem não sabe?"

Nós caminhamos lado a lado em corredores com roupas, nossos sapatos fazendo barulho no piso de madeira escura e brilhante. 

Ele me mostrou algumas das jaquetas, até que uma me chamou atenção. 

 "Angel baby? Não sei se combina comigo.". Debochei assim que li o bordado nas costas da peça.

"Acho que combina sim. Deixa eu te ajudar a colocar."

Brian colocou a jaqueta sobre meus ombros e vestindo-a, me virei de frente para ele, ficando bem próxima. Ele cuidou de cada detalhe, ajeitando o colarinho e limpando um pouco de poeira. 

"Lindíssima. Quanto custa?"

"Custa você sair comigo."

"Estou falando sério. Quanto custa, amor?" As coisas poderiam se tornar divertidas e eu estava pronta pra jogar.

"Também falo sério, Cereja."

Sorri internamente. Era isso. "Hoje às oito?"

"Fechado."

"Aqui, pega." Anotei meu número em um cigarro que ele pega de imediato. "Mas ainda irei pagar pela jaqueta." Entreguei o dinheiro a atendente que nos observava.

Brian me abraçou. Eu mergulho profundamente nele. Não sabia o quanto eu estava carente e magoada por dentro. Porém, me arrependi logo em seguida.

Meu corpo começou a ficar tenso, minhas mãos trêmulas.

O perfume.

O perfume dele era igual ao de Alex. Foi como um gás venenoso preenchendo meus pulmões. Flashbacks surgiram na minha cabeça, mistos com saudade. Logo me soltei dele, ainda atordoada.

O que eu estou fazendo da minha vida?

"Algum problema?"

"N-ao, te vejo hoje à noite. Tchau."

Além das Fotografias - Alex Turner [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora