Na ponta dos pés

Capítulo 7 - Our chance

Adianto que se alguém não assistiu Malévola ainda, o começo do capítulo possui alguns spoilers. Perdoem os erros que podem ter ficado apesar da revisão e boa leitura ♥

O sorvete dançava em minha língua após ser levado até a minha boca, era deliciosa a sensação de satisfação que eu sentia com aquele pequeno pedaço do paraíso derretendo. Porém ao mesmo tempo uma sensação de tristeza me invadia enquanto assistia as imagens que a televisão me trazia. Nessas últimas semanas, estive seguindo um de meus mais fortes mantras: "Se você está triste seu dever e se afundar um pouco mais."

Logo, eu estava sentada no pequeno sofá de três lugares preto na sala do apartamento que eu dividia com Ruby, assitindo a "Malévola" acho que pela vigésima vez nessas duas semanas e chorava cada vez com a cena em que a rainha dos Mors perdia suas asas e na que estava sendo transmitida agora.

A personagem da Angelina Jolie, a Malévola, e o personagem do Sam Riley, que ainda tinha dúvidas do nome tento apenas a informação de que ele era o corvo, estavam no quarto de Aurora e viam o suposto beijo de amor verdadeiro do príncipe falhar.Em seguida, após sobrar só os dois naquele quarto, a mulher que parecia uma deusa em suas roupas negras e com seus lábios de um rubro tão vivo se aproximava e deixava expostos cada arrependimento que possuía.

Havia culpa, dor e amor em cada palavra e mesmo eu sabendo que nos segundos que se seguiriam tudo seria resolvido com o beijo de amor verdadeiro vindo da Malévola, eu ainda chorava. Sentir culpa era algo que eu tinha ampla consciência, esse sentimento habitava em mim todos os dias e se intensificavam nessas semanas de final e começo de ano.

Na vida em que todos vivemos um beijo de amor verdadeiro realmente não existia, não importava o quanto você amasse a pessoa, nenhum beijo seria capaz de tirar alguém do sono eterno. E tudo que eu desejava era que isso fosse mentira e que eu pudesse habitar um reino tão mágico quanto o do filme, para que ninguém fosse tirado de mim de forma tão brutal quanto às que existem nessa realidade.

— Não saio mais dessa casa até esse inverno passar, estou decidida. - A voz de Ruby ao entrar em nossa casa me faz sair de meus pensamentos. - EMMA! ME AJUDA AQUI!

— Calma Rubs, eu 'tô aqui do lado. Não precisa gritar.

Me levanto deixando a coberta rosa na qual estava enrolada e o pote de sorvete no sofá, para então caminhar até a porta onde minha amiga havia deixado duas sacolas, pego-as e me direciono para a cozinha.

— Trouxe o chocolate ou sorvete que eu pedi, lobinha?

— Você realmente achou que eu iria comprar qualquer uma dessas coisas? - Pergunta virada de costas para mim ao mesmo tempo em que guardava alguns cereais que estava em uma de suas compras.

— Por que não? - Reviro meus olhos.

— Tirando o fato de que você praticamente tem hibernado dentro dessa casa nos últimos dois meses não vejo razão mesmo.

— Não exagere, só fazem duas ou três semanas que estou aqui.

— Duas semanas em que ou você chora vendo aquele filme que você já deve até ter decorado as falas ou chora com uma música deprimente ecoando por todos os cantos dessa casa.

O olhar que Ruby direcionava ao virar-se em minha direção para pegar outra sacola me mostrava exatamente o quanto ela estava irritada com a situação em que eu estava.

— Eu estou em grande sofrimento, não sei por que você não entende isso. - Digo me puxando um dos altos bancos amarelos que ficavam encostados próximos a bancada que dívida a sala e a cozinha no estilo americano.