Capítulo 2 - As a child

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Sentia-me atordoada no momento, estava com a sensação de que havia me perdido, de que me faltava ar no ambiente pequeno em que eu estava, que sentada em uma maca na ala de observação do hospital era como se estivesse em meio à multidão sozinha novamente, eu me sentia a menina de doze anos que não sabia a direção que deveria seguir ou se algo daria certo, por algum tempo eu já não tinha essa sensação novamente, mas agora tudo vinha disparadamente. Já fazia pelo menos uns quarenta e cinco minutos que Cora tinha dado entrada na emergência e eu fui mandada para receber algum calmante já que estava em estado de pânico desde o momento em que eu tive um corpo desmaiado em meus braços, a partir desse momento eu apenas agi no automático, se me perguntarem qualquer coisa que aconteceu até eu estar aqui não saberia como responder, é como se agora houvesse apenas um espaço em branco na minha cabeça.

Lidar com qualquer situação que envolvesse hospitais ou coisas do gênero para mim tem sido um problema, eu simplesmente perco qualquer sentido que eu tenho, não sei como agir apenas sinto o medo tomando conta de cada célula do meu corpo. Um simples corte pode gerar em mim reações de desespero, tudo porque essas situações me trazem as mesmas memórias que tive mais cedo na companhia, entretanto são fragmentos e sentimentos que mexem com o meu interior, partes de mim que eu mantenho o mais fundo possível, que eu carrego com culpa e jamais externo. E é o sentimento de culpa que me toma enquanto olho para a parede em frente ao local em que estou.

Tento manter minha respiração cadenciada enquanto fixo meus olhos no local branco que está na minha frente, "sem pensar, continue apenas no presente" repito para mim mesma em voz baixa como se fosse meu mantra para tentar afastar qualquer lembrança que chegue até mim, já fiz isso varias vezes não vai ser agora que vou perder o controle. Há alguns anos eu estive nesse mesmo hospital, só que o motivo foi um acidente em que eu e Ruby nos envolvemos. Confesso que foi totalmente por descuido meu que não olhava a avenida e não notei o sinal fechado, tendo assim o ultrapassado e um carro atingido a parte do passageiro com toda a velocidade. Eu não sofri praticamente nada, mas minha melhor amiga não teve a mesma sorte e acabou tendo que passar até por cirurgia, isso me fez entrar no mesmo estado em que estava agora. Eu preferia nunca pensar nisso, mas quando me lembrava de momentos em que sofri o que estou sentindo hoje eu acreditava que tinha algumas crises de pânico, ou talvez apenas medo de perder mais pessoas que me importavam, nunca procurei saber com nenhum psicólogo, já que me conhecia e entendia que eu não me abriria para alguém e ainda tinha o fator de que ninguém nunca tinha me visto assim, ou seja, eu me controlava e seguia minha vida evitando ao máximo me encontrar em momentos desse tipo.

— Está sentindo-se bem, minha criança? – Pergunta uma enfermeira que se aproximava para tirar a agulha do soro que estava no dorso da minha mão.

Direciono lhe um pequeno sorriso antes de falar:

— Bem melhor, obrigada. - oculto o que ainda estava sentindo, eu precisava apenas sair dali - A senhora teria alguma notícia da mulher que entrou comigo?

— Sinto muito querida, mas eu não soube de nada. Única boa noticia que tenho é que daqui você já está liberada.

No mesmo instante me levando e lhe direciono um "obrigada" antes de sair a passos rápidos daquela ala e ir até a recepção atrás de informação ou do médico que está cuidando de Cora. Ao chegar encaro ao redor e me direciono diretamente ao balcão onde algumas moças com o uniforme do hospital estão sentadas na intenção de saber alguma coisa, mas interrompo meu caminhar ao ouvir a minha esquerda uma voz feminina me chamar pelo meu sobrenome, olho para o local onde acho que está vindo o som e encontro a dona dos meus cabelos ruivos favoritos levantando e caminhando em minha direção. Solta um suspiro aliviado por não estar mais sozinha ali e mudo a direção dos meus passos para me aproximar de Zelena Mills, filha de Cora. As duas fisicamente não possuem uma característica igual, Zelena tem os olhos mais azuis que já vi, é praticamente da minha altura e como mencionei tem lindos cabelos ruivos cheios de cachos, o oposto da mãe. Quando as conheci duvidei muito que eram realmente mãe e filha, mas ao conviver com elas perdi totalmente essa dúvida, se fisicamente não se pareciam o jeito delas era praticamente idêntico. Tudo que a mãe possuía de exagero e seu modo desbocado, a filha era duas vezes pior, as duas no mesmo ambiente era pedir muito risada e também às vezes muita vergonha que elas fariam você sentir.

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