Capítulo I

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Calaena estava sentado no carro à porta dos pais, Charles e Cristina, há mais de uma hora. Finalmente tinha tomado coragem de se despedir da clínica onde trabalhava, os últimos dois anos tinham sido insuportáveis, colegas a aponhalarei-se nas costas com o objetivo de subir da hierarquia, ter que implorar pelo seu salário no fim do mês. Calaena estava farta, ela não merecia aquilo. Mas agora tinha que dizer aos seus pais, sua mãe tinha tanta esperança que Calaena conseguisse subir a chefe.

Sabia que ao tomar esta decisão os pais ficariam desiludidos, e quando lhes contasse que o seu plano era sair do país e mudar-se de malas e bagagens para a Escócia, de certeza que iriam ter um colapso. Aos 24 anos, Calaena ainda vivia com os pais, sem namorado até à data, porque esteve demasiado concentrada nos estudos, ser fisioterapeuta tinha sido sempre o seu sonho.

Calaena suspirou e saiu do carro. Ao entrar em casa chamou pela mãe.

- Já, querida? Aconteceu alguma coisa? - perguntou-lhe, enquanto secava as mãos no pano da loiça.

- Está tudo bem. O pai está? Tenho uma coisa para vos contar. - Calaena sentou-se no sofá.

Os pais sentaram-se à sua frente e olharam para ela. Calaena mexia as mãos de tão nervosa que estava.

- Queria falar convosco juntos. Tenho vindo a pensar em algo, e hoje decidi ir para a frente. Falei com o meu chefe e despedi-me com efeito imediato. - Calaena esperou que as suas palavras acentassem.

Nenhum dos dois disse nada, ficaram aí a olhar para a filha, como se esta tivesse 16 anos e lhes tivesse a dizer que estava grávida de gémeos. Calaena decidiu tomar a palavra outra vez:

- Vocês sabem da situação lá na clínica, não consigo aguentar mais um dia lá. Quando olho para os dois últimos anos, não vejo nada, para além de que a minha vida foi sugada de mim.

- Mas... mas... Querida, não ias te tornar chefe? - perguntou-lhe a mãe.

- Dúvido, há demaisada corrupção naquele sítio, o próprio ar é tóxico.

O pai de Calaena perguntou-lhe: - E então e agora?

- Agora vou tentar a minha sorte noutro país, preciso de novos ares, estou a pensar nas Highlands na Escócia.

Cristina começou imediatamente a chorar, Charles passou-lhe os braços à volta do pescoço para a consular. Calaena olhou para o pai à procura de apoio, mas não recebeu nenhum: - Só não entendo, o porquê não nos teres consultado antes.

- Não tomei esta decisão de animo leve. É algo que tem estado sempre na minha mente. Tenho algum dinheiro guardado, dá para me sustentar enquanto trato dos papeis e para me instalar lá. Mãe, por favor, não é o fim do mundo.

Cristina olhou para ela: - se essa é a tua vontade, muito bem. Vai. - levantou-se sem dizer mais nenhuma palavra.

Calaena não podia acreditar na atitude da mãe, sabia que não iria ser fácil, mas esperava aquilo.

Charles levantou-se: - Dá-lhe algum tempo. - E saiu. Calaena ficou alí, a processar tudo o que se tinha passado.


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Três meses depois, Calaena entrou em casa depois de um ardo treino da piscina, quando se despediu do emprego, tornou-se membro da piscina mais próxima. Abriu a mala e retirou o equipamento para secar na corda.

Crisitina aproximou-se da filha: - chegou esta carta para ti. Vou fazer um chá.

Calaena segurou naquele pedaço de papel como se pesa-se uma tonelada, sentou-se no banco da cozinha e pousou a carta na bancada, ficou a olhá-la por vários minutos, sabia que a resposta, positiva ou negativa, lhe iria mudar a vida.

- Por mais quanto tempo vais ficar aí especada? - perguntou-lhe Cristina.

Suspirando, Calaena estendeu a mão para o envelope, abriu-o rapidamente. - Oh meu Deus, foi aceite, oh meu Deus. Querem-me daqui a uma mês. - Olhou para a mãe, lágrimas escorrilham-lhe pelo rosto, abraçou-se a ela. - Está tudo bem, mãe. Hoje em dia viajar não é o fim do mundo.

Cristina enxugou as lágrimas no avental. -Por favor, não vás.

Calaena franziu o sobrolho. - Como assim? A Escócia é já aqui, podes ir lá quantas vezes quiseres, falamos pelo computador.

- Não é a mesma coisa. Vou perder a minha única filha. Como podes me fazer isto?

- Mãe, não estou a fazer-te nada, tenho que ir atrás dos meus sonhos, não quero ter arrependimentos na minha vida. Para além disso, não tenho nada que me prenda aqui.

Cristina ficou muito tensa, todo o seu semblante mudou. - Os teus sonhos deveriam ser aqui ao meu lado, e se não tens nada que te prenda aqui, faz a tua mala e saí. Vou dar-te uma semana, nada mais. Deste momento em diante, serás orfã de pai e mãe.- mais uma vez a mãe virou-lhe as costas e saiu, sem dizer mais nenhuma palavra.

Calaena ficou chocada com a atitude da própria mãe, mas também não era para admirar, toda a sua vida foi comandada e organizada por ela.

Mais tarde tentou falar com o pai, mas este não conseguiu dissuadir a esposa, Calaena tinha uma semana para sair. Calaena chorou até lhe secarem as lágrimas, naquela mesma noite, comprou a passagem de avião e começou a fazer as malas.

Durante toda a semana tentou falar com a mãe, mas sem resultado, ninguém foi levá-la ao aeroporto ou despedir-se dela.

Quando chegou ao seu destino, tentou ligar para o pai, mas este também não atendeu, deixou-lhe uma mensagem a dizer que tinha chegado bem.

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