Capítulo 9: Kang Seulgi

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    Eu fico sem saber como reagir ao ouvir meu nome mencionado por Jimin. Foi para a irmã dele que eu havia mandado aquele áudio. Era a mim que ele deveria encontrar.

    O som do comandante anunciando que a aeronave em breve pousaria impediu que eu precisasse dar alguma resposta.

    A dúvida começa a assombrar a minha cabeça e eu não consigo decidir se admito ser a pessoa que ele deveria encontrar ou se continuo por mais alguns minutos nessa relação estranha que, pela primeira vez em muito tempo, consegui estabelecer.

    Ele não sabe quem eu sou, não faz perguntas sobre qualquer outro cara famoso da internet ou quanto eu ganho fazendo esses "videozinhos". Ele conseguiu me conhecer de outra forma, descobriu coisas sobre o meu eu de verdade, sobre a garota sonhadora que corre atrás do que quer. Mesmo que toda essa relação tenha começado com nós dois trocando farpas sobre o que cada um pensava da vida.

    Tomo a decisão de não contar quem eu sou ao relembrar as palavras dele: é uma bobagem. Ele certamente é uma dessas pessoas que não entende o que eu faço e, provavelmente, não dá muito crédito.

    A sensação divertida que eu havia experimentado durante todo o voo agora tinha dado lugar a uma tristeza culpada. Devo admitir que havia sido bem legal trocar algumas palavras sinceras. Mesmo que tenha durado apenas um voo de Tóquio para Ilsan.

    Olho para Jimin em busca de alguma percepção do meu abalo, mas novamente ele está assustado demais com o avião prestes a pousar. Então repito o que havia feito na decolagem e seguro docemente sua mão. Ele sorri, agradecido, novamente com os olhos fechados, porém, dessa vez, com uma expressão mais suave. Ele sabe que vai dar tudo certo, então decido não tentar mais nenhuma distração. Não tenho condições de fazer isso neste momento.

    O frio na barriga já conhecido é substituído pela sensação de segurança logo que a aeronave toca o solo. Infelizmente não é uma sensação que dura muito tempo, pois continuo pensando nas últimas palavras de Jimin enquanto caminhamos em direção à esteira de bagagens.

    — Ei, aconteceu alguma coisa? — pergunta Jimin atrás de mim. — Você tá estranha desde que pousamos. Será que foi você que ficou com medo dessa vez?

    Ele sorri com a brincadeira e tento disfarçar o desconforto.

    — Ah, não é nada, só... — digo enquanto encaro o chão. — Não tô muito à vontade em voltar para casa, e agora parece que é mesmo real — confesso, sabendo que não é uma mentira, só não é a verdade completa.

    — Vai dar tudo certo — promete ele e então pisca para descontrair. Eu gosto disso. Ele está diferente. Parece mais jovem. Então me pergunto se ele se sente melhor por estar naquela cidade. Tóquio talvez o deixasse mais sombrio e triste.

    — Espero que sim — digo e logo avisto a minha mala na esteira. — Opa, a minha já está chegando.

    Ajeito a mochila nos ombros enquanto Jimin pega a bagagem de mão dele. Caminhamos juntos em direção à saída, e volto a ficar apreensiva com alguns olhares de reconhecimento. Tudo o que eu não preciso é que alguém me pare enquanto Jimin está do meu lado. Então, eu baixo levemente a cabeça deixando o cabelo esconder meu rosto e apresso o passo em direção à fila de táxis.

    — Ei, tá louca pra se livrar de mim, né? — comenta ele enquanto tenta me alcançar novamente.

    Eu sorrio afastando a tensão e dou meia-volta para olhar para ele enquanto o taxista sai do carro para acomodar minha bagagem no porta-malas.

    — É óbvio! — brinco.

    — Foi legal te conhecer — confessa ele, agora um pouco mais próximo.

    — Também achei.

    — Eu deveria voltar pra dentro do aeroporto e tentar encontrar aquela garota da internet — lembra ele. — Talvez ela esteja no próximo voo.

    — É, talvez você tenha sorte. — Dizer essas palavras me dá um aperto no coração.

    — Talvez.

    O taxista fecha o porta-malas e sem muita vontade me pergunta:

    — Ei, moça, vamos? Os caras ali atrás vão começar a encher o saco.

    Aceno e começo a andar em direção à porta do carro, mas Jimin me interrompe segurando levemente meu braço. Eu me assusto pensando que talvez ele tenha me reconhecido, talvez ele saiba que eu não passo de uma mentirosa. Não consigo olhar para ele.

    — No fim você não me disse seu nome — menciona ele.

    Sei que não posso dizer meu nome verdadeiro. Então digo o primeiro nome que aparece em minha mente e que por algum motivo é o da minha irmã mais velha.

    — Joo — respondo. — Joohyun.

    Ele sorri. Eu poderia me acostumar com o sorriso dele. Poderia me acostumar com a presença dele. Pena que nada é tão fácil para mim.

    — Eu tenho que ir — digo antes que ele fale qualquer outra coisa. — Tchau!

    Então entro no táxi, deixando do lado de fora um rapaz confuso e que não sabe o que fazer.

    — Vamos logo! — digo, dessa vez, para o taxista.

    O táxi se dirige para a saída do aeroporto e eu não tenho coragem de olhar para trás, apenas observo um avião que havia acabado de levantar voo cortar o céu.

[...]

    Já é noite em Ilsan e apesar de eu gostar muito de ver a cidade com o céu azul e o sol brilhando, ela fica ainda mais bonita nesse momento, com o céu escuro e estrelas despontando lá em cima. Ainda estou no táxi e penso muito em Jimin. Não tenho certeza se fiz o certo, mas naquele momento ele com certeza já sabe que eu menti. Joohyun? Eu me pergunto o que ele teria feito se soubesse que eu era quem ele procurava.

    Então me lembro da irmã do rapaz. Havia algum motivo para ela estar no hospital, só que eu não havia perguntado. Aliás, eu nem havia pensado nela! Uma lágrima tenta cair em desespero. Como eu sou egoísta! Não fui capaz de pensar na menina porque não queria que um cara desdenhasse do meu trabalho. Em troca do quê? Eu nem falaria mais com ele!

    Idiota. Egoísta.

    A tristeza e o arrependimento estavam cada vez mais fortes. Ele me odiaria de qualquer forma e eu mesma estava me odiando naquele momento.

    Uma ideia me ocorre de repente e então enxugo as lágrimas e falo para o taxista:

    — Será que você poderia me deixar no Hospital de Ilsan?

Continua...

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