Capítulo 1: Kang Seulgi

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Aquele olhar. De novo. Eu já havia passado por isso muitas vezes e deveria saber lidar com está situação: o olhar do eu-sei-quem-você-é, ou melhor, minha-filha-sabe-quem-você-é-ela-vai-surtar. Os mais velhos geralmente faziam isso: encaravam-se, se perguntavam se realmente eu era "a garota dos vídeos da internet" e, se fossem um pouco mais corajosos, pediam uma foto ou mensagem de áudio para enviar para quem realmente me conhecia. Como o taxista não diz nada, eu apenas sorrio para disfarçar o constrangimento e peço:

— Para o Aeroporto de Tóquio, por favor.

O homem concorda e volta a atenção para os carros a sua frente. Olho pela janela e observo o trânsito que terei que encarar. Tóquio está como é: muita chuva e muito carro.

Eu amo esta cidade por mais que todos os digam o contrário. Sinto falta da minha família, é claro, e é por isso que estou indo para o aeroporto. Mas ainda assim tenho absoluta certeza de que esta cidade cinza é o meu lugar.

— Moça, acho que vai demorar um pouquinho. — Avisa o taxista enquanto me observa pelo retrovisor.

— É, imagino que sim. — Respondo, conformada.

— Tão dizendo na rádio que a chuva vai piorar. — Ele tenta continuar a conversa nada positiva, mas eu apenas concordo e pego o celular para conferir os comentários da última foto postada no meu perfil do instagram.

Instagram

@Sun_Hee: Sem querer ofender, mas você tá ficando meio gordinha, né?

@Jongxz: Cadê a @yeriDoBlog? Vocês brigaram?

@Min_.Lee: Seulgi, não liga pra esses comentários tentando te deixar triste. Nós te amamos <3

@alngrid: Aff, não posso nem expressar minha opinião que vocês já dizem que quero ofender. Tá gorda, sim. É fato, não tô inventando nada.

@Kwanmin: Me segueeee Seulgi, pls.

Sinto falta da época em que eu não era uma "celebridade da internet", quando tinha apenas começado a postar vídeos. Os comentários eram construtivos, e eu podia fazer o que quisesse sem me importar com o que as pessoas falariam de mim.

Uma lágrima está quase impedindo que eu consiga ler o que está na tela, então fecho o aplicativo e respiro fundo para voltar à realidade. A internet é cruel demais para quem não sabe lidar com os comentários.


Com uma vida dessas não tem nem do que reclamar.

É isso que eu sempre leio nas entrelinhas dos comentários dos meus vídeos, fotos do Instagram ou em respostas do Twitter. Todo mundo pensa que eu sempre estou feliz e de bem com a vida. Que ganho tudo e, principalmente, que não tenho o direito de reclamar de nada. Na verdade, parece que apenas as pessoas têm o direito de reclamar de quem eu sou, se escondendo por trás de um nome virtual qualquer.

É uma responsabilidade e tanto aos vinte e quatro anos estar entre os jovens mais influentes do país. E não sou nem eu quem disse, mas sim, duas revistas que saíram no último mês.

Minha mãe havia ligado para me parabenizar pelas matérias. Afinal, ela assina uma das revistas e acredita piamente no que lê nos textos. Parece que ela está reconhecendo algum valor na minha decisão afinal.

Próximo destino: amor | SEULMINOnde histórias criam vida. Descubra agora