Pense em alguma coisa para falar, Jimin. Não seja idiota.Faço, contudo, papel de idiota e muitos minutos se passam sem que nem um dos dois fale mais nada. Ambos falsamente concentrados demais nas poltronas da frente para conversar.
O silêncio dura até a primeira turbulência. Tomo um susto tão grande que me prendo ao apoio da poltrona como se apenas isso pudesse me salvar. O avião balança bruscamente e uma criança começa chorar na parte da frente da aeronave com a mãe tentando acalmá-la.
Eu começo a pensar que finalmente chegou a minha vez, mas não posso ir assim. Preciso cuidar da minha irmã. Ela só tem a mim agora.
Os nós dos meus dedos na mão ficam brancos devido à força com que seguro o apoio do assento. Eu preciso de alguma distração, mas só consigo pensar em tragédia.
— Qual a sua cor favorita? — pergunta a voz conhecida à minha direita.
Não entendo muito bem o motivo da pergunta e volto a pensar nos movimentos do avião.
— Sua cor favorita — insiste ela. — Qual é?
Abro os olhos e encaro a garota, pensando que ela só pode ter enlouquecido de vez.
— Por que você quer saber minha cor favorita se esse avião está prestes a cair? — pergunto em desespero.
— Exatamente — concorda ela.
Espere aí! Ele vai realmente cair? Ela só pode estar de brincadeira! Arregalo os olhos e ela tenta me acalmar:
— É só uma turbulência. Você precisa se distrair para não ter um ataque cardíaco.
A aeronave dá um solavanco brusco, e volto a fechar os olhos e pensar no pior.
— Azul — digo entre dentes. — É azul.
Ao pensar na minha cor favorita logo me lembro da cor do mar e que o avião certamente vai cair nele.
— Certo, a minha é verde, mas também gosto muito de cinza — responde ela, mesmo que eu não tenha devolvido a pergunta. — Um pouco contraditório, é claro. Mas gosto do amarelo das árvores e o cinza dos prédios. Gosto da combinação. Lembra o meu passado em Ilsan e meu presente em Tóquio.
Eu quase volto a pensar novamente no barulho, mas a garota interrompe meus pensamentos.
— E a comida favorita?
Sorrio pensando no japchae com molho especial que minha mãe preparava.
— Japchae.
— Só jaepchae? Sem molho sem nada?
— O jaepchae que a minha mãe cozinhava. Qualquer molho que ela adicionasse seria perfeito — completo, sorrindo, ainda sem abrir os olhos.
— Cozinhava? — pergunta ela, reparando no detalhe do verbo conjugado no passado.
Fico um pouco desconfortável com o questionamento mas acho justo continuar a conversa já que ela está me ajudando.
— Meus pais faleceram — digo com sinceridade, voltando a encará-la. — Já faz um ano.
— Ah... Sinto muito — fala ela, baixinho, claramente envergonhada por ter tocado naquele assunto.
Dou um sorriso tentando deixá-la menos constrangida e me surpreendo por não ter ficado aborrecido por ter falado da morte dos meus pais.
— Minha irmã e eu estamos dando conta — garanto.
— É por isso que você queria tanto realizar o pedido dela então...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Próximo destino: amor | SEULMIN
FanfictionUma releitura de Orgulho e Preconceito que conta a história de Seulgi, uma jovem e muito famosa Youtuber que acaba presa num aeroporto, na tentativa de voltar para casa e rever sua família. Tudo está um caos e parece que o dia está conspirando contr...