Capítulo 8: Park Jimin

300 53 8
                                    


Pense em alguma coisa para falar, Jimin. Não seja idiota.

Faço, contudo, papel de idiota e muitos minutos se passam sem que nem um dos dois fale mais nada. Ambos falsamente concentrados demais nas poltronas da frente para conversar.

O silêncio dura até a primeira turbulência. Tomo um susto tão grande que me prendo ao apoio da poltrona como se apenas isso pudesse me salvar. O avião balança bruscamente e uma criança começa chorar na parte da frente da aeronave com a mãe tentando acalmá-la.

Eu começo a pensar que finalmente chegou a minha vez, mas não posso ir assim. Preciso cuidar da minha irmã. Ela só tem a mim agora.

Os nós dos meus dedos na mão ficam brancos devido à força com que seguro o apoio do assento. Eu preciso de alguma distração, mas só consigo pensar em tragédia.

— Qual a sua cor favorita? — pergunta a voz conhecida à minha direita.

Não entendo muito bem o motivo da pergunta e volto a pensar nos movimentos do avião.

— Sua cor favorita — insiste ela. — Qual é?

Abro os olhos e encaro a garota, pensando que ela só pode ter enlouquecido de vez.

— Por que você quer saber minha cor favorita se esse avião está prestes a cair? — pergunto em desespero.

— Exatamente — concorda ela.

Espere aí! Ele vai realmente cair? Ela só pode estar de brincadeira! Arregalo os olhos e ela tenta me acalmar:

— É só uma turbulência. Você precisa se distrair para não ter um ataque cardíaco.

A aeronave dá um solavanco brusco, e volto a fechar os olhos e pensar no pior.

— Azul — digo entre dentes. — É azul.

Ao pensar na minha cor favorita logo me lembro da cor do mar e que o avião certamente vai cair nele.

— Certo, a minha é verde, mas também gosto muito de cinza — responde ela, mesmo que eu não tenha devolvido a pergunta. — Um pouco contraditório, é claro. Mas gosto do amarelo das árvores e o cinza dos prédios. Gosto da combinação. Lembra o meu passado em Ilsan e meu presente em Tóquio.

Eu quase volto a pensar novamente no barulho, mas a garota interrompe meus pensamentos.

— E a comida favorita?

Sorrio pensando no japchae com molho especial que minha mãe preparava.

— Japchae.

— Só jaepchae? Sem molho sem nada?

— O jaepchae que a minha mãe cozinhava. Qualquer molho que ela adicionasse seria perfeito — completo, sorrindo, ainda sem abrir os olhos.

— Cozinhava? — pergunta ela, reparando no detalhe do verbo conjugado no passado.

Fico um pouco desconfortável com o questionamento mas acho justo continuar a conversa já que ela está me ajudando.

— Meus pais faleceram — digo com sinceridade, voltando a encará-la. — Já faz um ano.

— Ah... Sinto muito — fala ela, baixinho, claramente envergonhada por ter tocado naquele assunto.

Dou um sorriso tentando deixá-la menos constrangida e me surpreendo por não ter ficado aborrecido por ter falado da morte dos meus pais.

— Minha irmã e eu estamos dando conta — garanto.

— É por isso que você queria tanto realizar o pedido dela então...

Próximo destino: amor | SEULMINOnde histórias criam vida. Descubra agora