A declaração

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(John) Completavam-se três semanas que Sherlock havia sumido e finalmente ele retornara para casa. 

Ele havia desaparecido sem avisos prévios, sem comunicar e sem me levar junto a ele. 

A opção mais óbvia e previsível, e era a opção na qual eu acreditava, era a de que ele estava em meio a uns dos casos super perigosos e arriscados, com algum psicopata maluco que ele insiste em dar atenção e que por isso ele achou mais sensato não me envolver. 

Mas é claro que outras opções perpassavam minha mente também... De que ele corria risco de morte, de que estava envolvido em sérios problemas... De que ele precisaria - e eu não estava lá para ajudá-lo.

Sherlock teve o cuidado de me enviar pistas de que estava bem dessa vez. 

Na primeira semana fora entregue um arco de violino, como se alguém o tivesse comprado no nosso endereço e eu soube que era um sinal de vida dele. 

Na segunda semana, quando eu sai de casa, um adolescente passou correndo e colocou um chapéu em minha cabeça; um chapéu idêntico ao que Sherlock às vezes usa para dar entrevista.

Na terceira, uma rosa branca apareceu na mesa da sala. Sherl certamente pagou alguém para colocá-la aqui. Uma rosa? Eu ria. Que romântico...

Seria mentira se eu dissesse que meu coração não disparava a cada um desses pequenos sinais. Eu sentia várias sensações, mas a que prevalecia era a de alívio, por saber que era um sinal de que ele estava bem e estava tudo sobre controle.

Seria mentira também se eu dissesse que não chorei algumas vezes segurando o arco, o chapéu e a rosa e pensando na falta que ele me fazia.

Mas na verdade não era fácil assim. Quem dera fossem três semanas tranquilas, apenas a espera que ele voltasse. Eu me preocupava. Me preocupava mais do que deveria, a todo momento... 

Eu retornava ao sentimento de luto que passei por dois anos, quando ele fingiu sua morte - e ficava devastado.

Eu decidi que aquilo não era justo comigo.

-

Era a segunda vez que Mycroft me visitava desde que Sherlock desapareceu. Ele sentava na poltrona do irmão e tomava um chá.

M - Nenhuma novidade. Mas você já deve imaginar que não o encontraremos.

J – Sim...

M – Eu estou vendo o que você está planejando, John. Isso é bobagem.

J – Não quero falar sobre isso.

M – Não se dê ao trabalho de levar tudo por agora. Leve só as coisas pequenas...

J - ... Qual parte do "não quero falar" você não entendeu?

M - ... Eu sei que conviver com meu irmão é difícil. Eu sinceramente não sabia se Sherlock chegaria a ter um relacionamento com alguém. Ele é muito... emotivo e não tem muita empatia. Não vejo isso como um problema, mas num relacionamento eu imagino...

J – Mycroft?

M – O que? ... Ok... Agora imagine o Sherlock na adolescência? Você não faz ideia do quanto ele se achava o centro do mundo. Beirava a paranóia. – Mycroft riu. Foi quando ele declarou que eu era o arquiinimigo dele. Ele odiava constatar que alguém tinha controle em relação a ele. Quando eu adivinhava suas intenções, era um insulto. Eu passei alguns anos sem poder me dirigir a ele. Você imagina isso? Vivíamos a ter que enviar recados por outras pessoas, pois Sherlock ignorava minha presença e não respondia se eu falava com ele.

JohnLockOnde histórias criam vida. Descubra agora