Flores e mudanças

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Aquela primavera viera mais rápido que as outras. Fanny quase nem percebera, pois estava muito distraída com as mudanças recentes que lhe havia acontecido. Seus pais decidiram se mudar de Utah para Portland e tudo estava uma bagunça. Caixas por todos os lados e embalagens recém rasgadas. A nova casa não era muito grande, mas lhe acolhia bem. Deixara todos os seus amigos em Utah, mas no fundo de seu coração não sentia falta de todos eles. Fanny gostava de si mesma, gostava de olhar-se todos os dias e pensar que poderia encher sua mente de flores e pensamentos bons. Gostava de pensar que era feliz consigo mesma.
Estava se tornando uma mulher, fizera 15 anos há dois meses  e podia notar mudanças em seu corpo. Seu rosto havia afinado deixando bem delineadas suas bochechas esbranquiçadas. Os olhos pareciam destacar mais em sua face, a cor de mel era quase como uma abóbora madura. Os cabelos negros lhe caiam aos ombros até a metade se seus braços e apesar de ficar bem consigo mesma ainda sentia-se inferior às outras garotas por ser extremamente magra.   Fanny era fina, uma garota esguia. Não era tão alta, mas não era baixa demais. O que Fanny mais gostava nela mesmo era sua mente.
Sua avó lhe ensinara o benefício de acreditar em um Deus salvador e ensinara que deveria ver a vida como se houvesse dois lados, o bom e o ruim. Ensinara-a que não deveria criar flores o tempo inteiro e pensar que o tempo todo tudo seria bom. Mas a verdade era que Fanny se abrigava em suas flores mentais, ficava bem ao pensar que tudo seria bom independente da situação. Funny não conseguia de fato salientar o lado ruim das coisas e das pessoas.
Sua avó perdera seu avô quando ela ainda era uma criança, desde aquele dia permanecia fazendo tortas em Utah e distribuindo para os mais pobres. Sentiria saudades dela. 
O jardim de sua nova casa tinha apenas grama e seu pai já preparava as sementes de rosas para plantar, enquanto isso sua mãe fazia o almoço.
Fanny deixou saiu das dependências sa casa com a permissão dos pais. Levara consigo seu celular antigo e uma pequena bolsa de mãos. As casas vizinhas eram como a sua, algumas maiores e outras menores. Não havia muitas pessoas nas ruas, então fechou os olhos, pôs uma das mãos sobre o peito e respirou profundamente. Tudo parecia estar em paz dentro dela. Buscara deixar de lado o whatsapp durante um tempo até se acostumar com o novo lugar. Deixar de olhar para as redes sociais à todo momento era algo que poucos jovens como ela faria.
Fanny  andou mais um pouco e então ouviu uma porta abrir-se um pouco distante e atrás dela. Uma menina veio correndo em sua direção e tocou em seu ombro. Ela tinha cabelos curtos e lisos, olhos grandes e amendoados. Sua pele era bronzeada e ela tinha um pouco a mais de corpo do que Fanny. Sua voz não era fina, mas também não era grossa.
-Olá, você é a nova vizinha? Eu estava esperando para dar as boas vindas.
Ela carregava alguns bolinhos em uma vasilha na mão esquerda que estava apoiada em seu braço.
-Pegue. É um prazer conhecer você, sou Tezi.
-Muito obrigada, Tezi. O prazer é meu. Sou Fanny.
Fanny abriu a vasilha e comeu um dos bolinhos.
- Está muito gostoso à propósito, são de limão?
-São sim. Minha mãe que fez, ela é confeiteira sabe?
-Que interessante! Muito bom! - Fanny sorriu.
-De onde vocês vem... Fanny?
Tezi parecia ter dificuldade de se lembrar de nomes, não era tão diferente de Fanny.
-Venho de Utah.
-Uau! Aquele lugar é um pouco "nada" você não acha?

As flores em minha cabeçaOnde histórias criam vida. Descubra agora