Uma noite estranha na casa de Tezi

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-Fanny? Fanny? -A voz de Willian soava do lado de fora da janela do quarto de Fanny.

Aquela era uma tarde bonita para um dia assustador e o sol estava quase se pondo. Os feixes de luz iluminavam o quarto de Fanny, deixando-a um pouco menos aflita. Fanny estudara geografia desde que chegara em sua casa após as últimas aulas depois da cena no refeitório. Tezi convidou-as para dormir em sua casa e discutir aquele assunto. Elas precisavam fazer alguma coisa. Fanny estava encostada na parede ao lado da janela e pensava no que a anônima dissera sobre Willian.

-Fanny? Você está aí? -Falou Willian. -Eu trouxe algo para você.

Fanny não resistiu, não podia deixar Willian ali parado à espera.

-Olá, me perdoe... Eu estava... Estava...

-Ei, não precisa dizer. -Willian olhou para Fanny com aqueles olhos claros mais reluzentes do que nunca. -Posso entrar?

Fanny permitiu e Willian subiu as escadas ao lado da janela e adentrou-se em seu quarto.

-Você podia ter entrado pela porta principal. -Fanny sorriu para ele e pôs as mãos no bolso de sua bermuda jeans.

-Eu tentei, mas sua mãe disse que você estava estudando e eu também não vim para ficar muito... Se você não quiser claro... Mas se quiser eu posso ficar... -Willian se atrapalhara com as últimas frases e preferiu se calar e esperar a resposta.

Fanny estava pensativa, queria que Willian ficasse, o tempo inteiro se ele quisesse, mas não podia. Não podia por dois motivos: O primeiro deles era que tinha que ir para a casa de Tezi e o segundo era que ela não podia envolvê-lo em tudo que estava acontecendo.

-Então é... É que eu disse que iria à casa de Tezi. -Falou Fanny envolvendo seus braços em si mesma e olhando para o lado.

-Ah... Ah esquece não tem problema. -Willian sorriu. -Vamos voltar ao assunto? Eu trouxe algo para você.

Willian tirou do bolso de sua jaqueta uma pulseira dourada com pingentes de flores feitas de quartzos e entregou-lhe.

-Quando vi me lembrei de você. -Willian sorriu se aproximando um pouco mais.

-É linda Willian... Tão... linda. -Fanny apertou-a e então espontaneamente, deu-lhe um beijo nos lábios.

Willian retribuiu-a. Fanny com as bochechas avermelhadas se afastou um pouco e então disse:

-Eu gosto de você Willian. Gosto mesmo. Queria que ficasse, mas hoje...

-Não há problema Fanny. Eu vi você e é isso que importa.

Willian se afastou sorrindo e suando e deixou o seu quarto. Ele era mesmo uma boa pessoa, não podia deixar que soubesse, não podia deixar que ele corresse riscos. Após Willian desaparecer de sua vista, Fanny deixou uma lágrima escorrer, mas tinha que ser forte, então enxugou-a pegou sua bolsa que deixara pronta para ir para a casa de Tezi, colocou o seu casaco e saiu pela janela, tal como Willian.

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-Entra logo Fanny, minha mãe não sabe que todas vocês vieram dormir aqui esta noite. -Falou Tezi fechando a janela após a entrada de Fanny.

Cloe e Nina estavam sentadas de pernas cruzadas na cama de Tezi. Elas estavam mesmo abaladas, pois mesmo ao lado de inúmeros revistas nada produtivas de fofocas sobre famosos ambas permaneciam quietas e imóveis, quase como se fossem duas grandes rochas no meio do deserto. Seus olhos tinham certa profundidade, tal como Fanny nunca havia visto. Fanny se aproximou delas e se sentou na cama junto à elas. Não sentia pena, mas também não gostava de ver as pessoas sofrendo e aquele sofrimento era algo que todas naquele quarto compartilhavam.

-Então, primeira regra, nós vamos falar bem baixo. Entendido? -Falou Tezi girando em círculos em seu quarto. -Segunda regra, isso tudo só fica entre nós.

-Nós deveríamos informar a polícia. -Falou Cloe aflita.

-Não podemos chamar a polícia, vamos parecer mais culpadas do que amedrontadas. -Falou Tezi se sentando na cama ao nosso lado.

-Isso porque não é você que recebeu um bilhete dizendo que você é a próxima Tezi. -Cloe estava seria, nem parecia a velha Cloe.

-Não, não fui eu Cloe. Mas você não está vendo? Está acontecendo com todas nós de maneira diferente... -Tezi pausou. -Sabe quando alguém não tem medo que você chame a polícia? Esse nosso intimidador esta agindo assim... Ele ou ela não tem medo, pois sabe que todas vamos parecer culpadas.

-Mas nós não temos que ter medo disso. -Falou Nina. -Eu sei o que eu não fiz.

-Eu acho que deveríamos registrar tudo isso e só então quando tivermos mais provas levamos até a delegacia. Assim o nosso problema estará resolvido. -Falou Fanny ajeitando sua coroa de flores tão estimada.

-Boa ideia. -Concordou Tezi.

Por um momento houve silêncio, então Cloe voltou a dizer.

-Se eu sou a próxima, vou precisar da ajuda de vocês. Não posso ficar longe de vocês... entendem? -Cloe quase gaguejava.

-Entendemos. -Todas responderam respirando fundo, exceto por Fanny.

-Quem teria motivos para fazer isso tudo? -Perguntou Fanny.

-Acredite, a festa estava cheia. -Respondeu Tezi.

Algumas horas depois, todas dormiram. De repente, no meio da noite, Fanny ouviu algo como um som de batida soar na janela. Era um som quase imperceptível. Fanny se levantou, passando cuidadosamente entre Tezi na cama e as outras no colchão ao chão. Fanny estava vestida com um pijama de dormir cor de rosa que sua mãe lhe dera há anos, a calça já chegava à sua canela. A coroa de flores havia caído no colchão e os batimentos cardíacos de Fanny se aceleravam à cada passo.

Ao se aproximar da janela se assustou. A menina com cabeça de unicórnio também usava o mesmo pijama que Fanny e estava descalça. Ela tinha pequenas pedras nas mãos e jogava no vidro da janela. Se tinha uma coisa que Fanny tinha era coragem. Aprendera a encarar os fatos sem temê-los. Rapidamente Fanny abriu a janela, cuidadosa à fim de que não fizesse barulho. Fanny olhou para trás e viu que todas ainda dormiam.

Quando a menina viu que Fanny a observava, parou e jogou todas as pedras ao chão. A menina continuou lá, parecendo estar à espera de algo. Aquela situação precisava ser resolvida. Em um impulso Fanny começou a descer as escadas laterais da casa abaixo da janela de Tezi. Ainda descalça, Fanny sentiu a grama molhada sob seu pé. Respirou fundo e então virou-se para a menina. Ela parecia mais uma boneca com cabeça de unicórnio do que uma pessoa.

-Quem é você? É você que está fazendo tudo isso? -Perguntou Fanny rápido demais para que pudesse perceber.

-Se você quiser saber algo mais sobre a festa e a morte da Dani, vá ao próximo Festival de Flores e procure o Max. -A menina tinha uma voz abafada e trêmula.

-Como assim? Festival das Flores? Aqui nesta cidade?

Quando Fanny perguntou, percebeu que a menina olhara para cima em direcão à janela de Tezi. Fanny olhou também, não viu nada, mas quando seus olhos se voltaram para frente, a menina já estava correndo. A cada vez se distanciava mais, até sumir. Aquilo fora muito estranho. Quando Fanny se preparava para subir e retornar ao quarto, sentiu algo bater em sua cabeça, tão forte e pesado que sua visão se escureceu.

"Isso não é nada minha querida, é apenas um sonho. "

As flores em minha cabeçaOnde histórias criam vida. Descubra agora